Em segunda rodada de entrevistas, ONU-Habitat vai ouvir 2 mil moradores de grotas de Maceió
Iniciativa realizada em parceria com o Governo de Alagoas objetiva coletar informações sobre trabalho, renda, educação, saúde e comportamento nas comunidades durante o período da pandemia
Desde segunda-feira (14), o DDD 21 voltou a tocar nos telefones de moradores das 100 grotas situadas em Maceió. Trata-se da segunda rodada de entrevistas realizadas pelo Projeto Emergencial de Monitoramento da Covid-19 nas Grotas de Maceió, do Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat) em parceria com o Governo de Alagoas.
Na primeira fase, o trabalho coletou dados sobre condições de moradia, percepção e conhecimento das pessoas sobre a pandemia, acesso a serviços de saúde, além de trabalho e renda. Agora também será tratado o tema de educação dos estudantes e será aprofundado o tema do trabalho, emprego e renda.
“Atualmente, a situação sanitária da pandemia em Maceió parece ter mudado em comparação com os meses anteriores, mas os desafios socioeconômicos das populações nas grotas segue como uma grande preocupação”, aponta Jônatas Ribeiro de Paula, Analista de Programas do ONU-Habitat do escritório de Maceió. “Vamos continuar fazendo perguntas relacionadas à saúde e vamos fazer mais perguntas detalhadas sobre trabalho e renda das pessoas nas grotas, além de abordar questões relacionadas à ensino pela Internet e retorno às aulas presenciais”, explica.
Ao longo das duas próximas semanas, se você vive em grota e o celular chamar com um número do Rio de Janeiro (DDD 21) – que é onde fica a sede do ONU-Habitat no Brasil – pode atender. Do outro lado da linha, o entrevistador irá se apresentar como representante do projeto e irá solicitar alguns minutos da sua atenção para realizar uma breve entrevista.
Mas, antes de tudo, muita atenção: em momento algum os entrevistadores solicitam informações e número de documentos pessoais, como RG, CPF ou dados bancários. Caso isso ocorra, desligue o telefone imediatamente.
“Será perguntado se as pessoas estão trabalhando, qual o valor da sua renda, se estão recebendo auxílio emergencial e quanto receberam, se são cadastradas no Bolsa Família, se recebem outro tipo de auxílio e respectivos valores”, detalha o representante do ONU-Habitat. “Toda informação é estritamente confidencial. A gente não repassa as informações individualizadas para ninguém – nem mesmo para o Governo, em hipótese alguma. Elas servem para a produção de dados agregados estatísticos”, assegura Jônatas de Paula.
Ao final, os dados coletados servirão como base para a produção de um diagnóstico das condições sanitárias e socioeconômicas dos moradores das grotas. As informações poderão auxiliar o poder público na formulação de soluções emergenciais, políticas e programas de sustentabilidade para melhorar as condições de vida da população nessas localidades.
Primeiros resultados
Na primeira etapa de entrevistas, realizada ao longo de três semanas entre o final de julho e começo de agosto, o projeto ouviu 412 moradores de 100 grotas de Maceió. Entre os dados já apurados, destaca-se que 99,5% dos entrevistados sabem que está acontecendo uma pandemia.
“Saber que a pandemia está acontecendo é uma coisa, outra é ter conhecimento ou as mesmas informações sobre o problema, que nem todos têm”, destaca o representante do ONU-Habitat. “Como sabemos que existe uma questão de desinformação, quisemos identificar se as pessoas concordam que a pandemia é algo sério”, esclarece.
Uma das questões realizada pelos entrevistadores foi: “O novo coronavírus é muito perigoso e tem matado muitas pessoas. Precisamos nos prevenir e adotar o distanciamento social se não o sistema de saúde não conseguirá atender todos os doentes”. Na sequência, o morador escolheu uma das opções abaixo e o resultado ficou assim:
- 27,6% concordam fortemente;- 66,6% concordam;- 0,4% discordam;- 2,7% discordam fortemente;- 2,7% não têm uma opinião.
“As pessoas que discordam e que discordam fortemente chegaram a quase 6%. Isso é um problema porque essa minoria pode se tornar vetores do vírus e contribuir para o prolongamento da pandemia”, adverte Jônatas.
O quesito que investiga a adoção de medidas preventivas por parte dos moradores apresentou muitas variações nos índices. Por exemplo, quando a pergunta foi sobre a utilização de máscara ao sair de casa, 92,7% disseram que sempre usam; 6,3% utilizam às vezes; e apenas 1% revelou que não usa.
Já sobre respeitar o distanciamento físico – ficar a 2 metros distância das demais pessoas quando estiver fora de casa –, 74,6% relataram ficar sempre; 22% ficam às vezes; e 3,4% nunca ficam.
As respostas dos entrevistados aponta que 9% dos moradores de grota relataram ter tido um diagnóstico positivo para Covid-19 dado especificamente por um médico ou serviço de saúde. Assim, no universo estimado de 100 mil moradores que atualmente vivem nas grotas da capital, a pesquisa indica que aproximadamente 9 mil pessoas testaram positivo para o vírus no final de julho e começo de agosto.
“É uma pesquisa de muita qualidade, com um bom desenho amostral e com caráter representativo”, avalia o Analista. Segundo informa, com a repetição de algumas perguntas a cada rodada, a pesquisa ganha o perfil de série histórica ao permitir a observação de como o comportamento e a renda das pessoas estão mudando ao longo do tempo. “Haverá uma terceira coleta também. Se na primeira pesquisa nós tiramos uma fotografia, ao final do projeto teremos um filme contando uma história, a partir dos dados, de como foi a pandemia nas grotas de Maceió”, considera.
O projeto tem também um segundo componente, que é o engajamento dos jovens das comunidades para a produção de materiais gráficos e audiovisuais, com o objetivo de produzir um curta-metragem em formato de documentário. “Ao final, além de termos um panorama da realidade contado a partir de dados científicos e estatísticos - que pode ser uma narrativa mais fria - também vamos apresentar um aspecto mais humano por meio da história, das vozes, rostos e narrativa de pessoas de carne e osso, que vão contar suas experiências a partir das vivências de enfrentamento à Covid-19”, finaliza Jônatas de Paula.
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