Saúde

Governo critica guia que desaconselha consumo de alimentos ultraprocessados

Posicionamento do Ministério da Agricultura foi duramente rebatido por especialistas.

Por G1 17/09/2020 17h05
Governo critica guia que desaconselha consumo de alimentos ultraprocessados
O aumento no consumo de industrializados ultraprocessados, como salgadinhos, aumenta a obesidade - Foto: Pixabay

Uma nota técnica do Ministério da Agricultura enviada ao Ministério da Saúde faz críticas e pede a revisão do "Guia Alimentar para a População Brasileira", principalmente no que se refere à redução de alimentos ultraprocessados.

O posicionamento do governo foi duramente criticado por especialistas, que lembram que órgãos internacionais e outros países adotam os padrões do guia brasileiro. Procurado pelo G1, o Ministério da Agricultura não se posicionou sobre o tema.

O Guia Alimentar oferece informações sobre alimentação e saúde com base em uma classificação que divide os alimentos de acordo com o nível de processamento em sua produção, além de alertar sobre doenças como obesidade e diabetes.

Na nota técnica, o Ministério da Agricultura avalia a classificação - chamada de NOVA - como "confusa, incoerente, que impede ampliar a autonomia das escolhas alimentares".

"A recomendação mais forte nesse momento é a imediata retirada das menções a classificação NOVA no atual guia alimentar e das menções equivocadas, preconceituosas e pseudocientíficas sobre os produtos de origem animal", diz trecho do documento da pasta.

A nota ainda pede uma revisão de todo o Guia com a participação de "setores especializados na ciência dos alimentos", citando como exemplo engenheiros de alimentos

O documento é assinado por Luís Eduardo Rangel e Eduardo Mazzoleni, diretor e coordenador do departamento de Análise Econômica e Políticas Públicas da Secretaria de Política Agrícola do ministério.

Classificação NOVA
Nesta quinta-feira (17), o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens/USP) publicou posicionamento contra a nota técnica do Ministério da Agricultura. O órgão científico é criador da classificação NOVA e ajudou na elaboração do Guia Alimentar.

"Tais críticas se resumem a afirmações não amparadas por qualquer evidência científica", afirma a nota do Nupens.

Os pesquisadores da USP também rebatem a afirmação da nota técnica do Ministério da Agricultura de que o Guia Alimentar brasileiro seria "um dos piores do mundo".

"Assim não pensam organismos técnicos das Nações Unidas, como a FAO, a OMS e o UNICEF, que consideram o Guia brasileiro um exemplo a ser seguido. Assim não pensam os Ministérios da Saúde do Canadá, da França, do Uruguai, do Peru e do Equador, que têm seus guias alimentares e suas políticas de alimentação e nutrição inspirados no Brasil", afirmou o Nupens.

Em 2016, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) elogiou o Guia brasileiro e o classificou como um dos quatro mais completos do mundo por considerar tanto aspectos de saúde como do meio ambiente, equiparando-o com os documentos da Suécia, da Alemanha e do Qatar.