Comportamento

Mulheres trans de AL falam sobre o que representa dia 8 de março para elas

7Segundos conversou com Isis Florescer e Natasha Wonderfull da Silva

Por Tais Albino e Felipe Guimarães 08/03/2021 17h05 - Atualizado em 08/03/2021 19h07
Mulheres trans de AL falam sobre o que representa dia 8 de março para elas
Natasha Wonderfull da Silva e Isis Florescer - Foto: Arquivo pessoal

Pela primeira vez, a alagoana Isis Florescer, de 30 anos, conta que recebeu felicitações sobre o Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta segunda-feira (08). Para ela e outras inúmeras mulheres transexuais no Brasil é um dia de celebração, mas também de luta.

Atriz, escritora e transfeminista, Isis disse ao 7Segundos que, ao reivindicarem o direito de serem incluídas no Dia da Mulher, elas lutam pela inclusão e legitimação de suas próprias existências.

“Nós mulheres trans carregamos a marca da opressão e exclusão de gênero, pois nossos corpos e identidades são questionados e violentados estruturalmente pela cisheteronormatividade. Ela pauta o binarismo de gênero masculino e feminino e a genitalização do corpo como rótulos para neutralizar as identidades e performances de gênero que são uma construção cultural e histórica”, afirmou.

Para ela, em uma sociedade “machista, misógina e transfóbica”, o Dia da Mulher precisa ser celebrado com a união de todas as vozes.

Ao 7Segundos, a presidente da associação ACTTTRANS e artista do Grupo TransShow, Natasha Wonderfull da Silva, disse que todo dia é dia da mulher, mas fala que sente-se acolhida quando as mulheres trans são incluídas na data.

“Meu sonho é ver as atrizes trans na televisão. Observo que a TV tem medo de sofrer represálias as contratando para publicidade. Mas estamos em uma época melhor. Esses dias, fui convidada para fazer fotos com outras mulheres para Revista Due. Fiquei muito feliz pelo acolhimento”, contou.

Natasha Wonderfull voltou a ressaltar que houve uma época muito pior. “Se a gente que é trans não for forte, fica doente. Há fanáticos que usam o nome de Deus pra matar com palavras, ficam de olho em tudo para atacar, espiões da vida alheia”.

Vida em Alagoas


Alagoas é o sexto estado do país que mais mata pessoas trans. De acordo com os números da Associação Nacional de Travestis e Transexuais do Brasil (Antra), foram oito casos em 2020. Já o Grupo Gay de Alagoas (GGAL) contabilizou sete homicídios, todos contra mulheres.

Para a socióloga e professora, Danúbia Barbosa, a violência aparece em várias formas na sociedade. “Pelo preconceito estrutural, o não aceitar o que seria o 'diferente' em uma sociedade hétero-normativa, ou por questões religiosas. Há homens que se relacionam com mulheres trans e depois querem 'apagar' o ato acontecido. O machismo existe em larga escala, é uma cultura de violência”, afirmou.

Apesar dos números trazidos pela reportagem, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (SSP) não faz um recorte nos relatórios mensais do Núcleo de Estatística e Análise Criminal.

“Isso compromete as políticas públicas. A população precisa se mobilizar, o Estado precisar gerar dados reais para poder promover políticas de inclusão, educação e geração de renda”.

A Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh) também não possui dados oficiais sobre empregabilidade das pessoas trans em Alagoas.

Além das associações ACCTRANS e o Grupo Transhow, projetos dedicados a unir apresentações culturais com oportunidades de trabalho para a população trans alagoana, Natasha Wonderfull é técnica de enfermagem.

“Para a nossa população ainda é difícil, as empresas não nos aceitam. Alagoas é uns dos estados onde nossas trans vivem na extrema pobreza, pela não aceitação da família e a falta de acesso às escolas e oportunidades de trabalho”, disse.

Porém, a Semudh possui ações de articulação voltadas para a comunidade LGBTQIA+, por meio da Superintendência de Políticas para os Direitos Humanos e a Igualdade Racial.

Essas ações envolvem a construção de currículos e digitalização de documentação em sintonia com a articulação de parceria com a iniciativa pública e privada; o levantamento de cursos de capacitação e diálogos de acompanhamento e fortalecimento da participação dessa parcela da população, voltados para economia criativa e sustentável; e a aproximação com a Promotoria Regional do Trabalho para viabilização de ações de inserção no mercado de trabalho para comunidade trans e travesti do Estado.

Além das articulações, a pasta também realiza, em conjunto às instituições de ensino superior da capital, à Secretaria de Estado do Trabalho e Emprego – SETE e ao SEBRAE, atividades relacionadas à construção de parcerias e promoção de diálogos sobre empreendedorismo, associativismo, economia solidária e à quebra do estereótipo dentro da temática trans, por meio da sensibilização e disseminação dos direitos da população LGBTQIA+.