Clínica torturava pacientes com taco de baseball e banhos gelados, diz polícia
Após os relatos, a polícia pediu o apoio da Guarda Civil Municipal e 30 pessoas passaram a averiguar o caso.
A Polícia Civil realizou uma operação na manhã de terça-feira (9) em uma clínica para dependentes químicos no município de Mairiporã, na Grande São Paulo. Em conjunto com o Ministério Público e a Vigilância Sanitária, a ação era de rotina, até que pacientes do estabelecimento começaram a pedir socorro aos agentes, relatando torturas, de acordo com a investigação. Três funcionários do endereço foram presos. Eles negam as acusações.
O local, chamado de Clínica Parque dos Milagres, fica em uma chácara na zona rural da cidade, no bairro Vila Santa Cruz. De acordo com o delegado Fábio Nishyiama, do 1º DP de Mairiporã, estavam internados ali 44 pessoas quando a polícia, o MP e a Vigilância chegaram para a vistoria. "Aqui é uma região com muitas clínicas do tipo. Já achamos várias que contam com medicamentos controlados sem receita, o tipo de irregularidade mais comum", conta.
De acordo com o delegado, durante a visita alguns dos pacientes começaram a chamar os agentes discretamente para pedir socorro. Os relatos apontam que três dos cinco empregados (o coordenador e dois ajudantes) batiam nos internados com um taco de baseball caseiro, que era apelidado de "dipirona", em referência ao analgésico. Durante buscas na área da clínica, foram encontrados quatro pedaços de madeira, um deles similar ao taco apontado pelos dependentes. O estabelecimento cobrava cerca de 800 reais por mês de cada família pelo tratamento.
"Não ficou nada comprovado, não foram feitos exames [de corpo-delito] no IML, não tinha ninguém machucado", afirma Júlio Cesar, advogado dos funcionários e da clínica. "Eles [funcionários] negam as acusações. Tudo ainda vai ser apurado no decorrer do inquérito e, se ficar comprovado, a administração da clínica vai tomar as devidas medidas", diz Cesar. A defesa afirma que os pedaços de madeira eram partes das beliches utilizadas pelos pacientes.
Após os relatos, a polícia pediu o apoio da Guarda Civil Municipal e 30 pessoas passaram a averiguar o caso. Fabio informa que as torturas relatadas ocorriam logo quando o paciente chegava para "passar a mensagem" e quando o dependente cometia algum desvio de conduta.
A casa contava com cinco cômodos onde eram colocados em média 8 camas em cada espaço. A piscina da chácara também era utilizada para as agressões, aponta a investigação. "Eles dizem que os colocavam na água gelada para o corpo não inchar e não ficarem com tantos hematomas", afirma o delegado.
"Foi no calor da emoção, quando a polícia chega e pergunta para pessoas em abstinência quem quer ir embora, essa oscilação [de humor] é normal dentro da abstinência", diz o advogado. "Quem queria sair, podia sair. Na abstinência [os dependentes] são muito manipuladores. A fiscalização foi feita de maneira desordenada, irresponsável".
Foram encontrados também na clínica 2 289 comprimidos controlados, sem receita médica, alguns fora do prazo de validade. "Eram principalmente psicotrópicos, o que categoriza tráfico de drogas", explica Nishyiama. "O medicamento realmente foi encontrado, mas como a unidade tem uma alta rotatividade, eles eram provavelmente sobras, não eram ministrados, guardaram por inocência. Tanto é que foram encontrados vários medicamentos com prescrição", defende o advogado.
Até o momento, cinco pacientes depuseram na delegacia sobre o caso e um sexto foi encaminhado para um hospital. "Ele estava com muitos hematomas pelo corpo, por cautela, foi encaminhado [para o atendimento médico] e depois vai fazer exame de corpo-delito". De acordo com a defesa, o paciente que foi levado para a unidade hospitalar teria chegado na terça-feira na clínica, no mesmo dia da fiscalização, desorientado e debilitado.
Os três funcionários foram presos em flagrante e vão responder pelos crimes de tortura, cárcere privado, tráfico de drogas e associação criminosa. A clínica foi interditada e os pacientes foram entregues aos familiares. De acordo com o delegado, os parentes que foram até a delegacia se mostraram surpresos com a situação e disseram não ter conhecimento das agressões. A defesa afirma que, depois da operação, os pacientes depredaram a clínica, causando prejuízos.