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Sem respostas: criação de banco de dados busca diminuir consequências dos desaparecimentos em AL

O estado registrou um aumento de 67% de desaparecidos desde 2007

Por 7Segundos 11/07/2021 08h08
Sem respostas: criação de banco de dados busca diminuir consequências dos desaparecimentos em AL
Desaparecidos - Foto: Reprodução/Web

O número de pessoas desaparecidas no Brasil aumentou exponencialmente nos últimos anos, em Alagoas a situação não é diferente, desde 2007 o estado vem registrando um crescimento anual de cerca de 67% nos formulários de pessoas desaparecidas. As consequências do desaparecimento vão além dos números, são histórias, relatos, famílias angustiadas e sem respostas.

De acordo com os dados fornecidos pela Secretaria de Segurança Pública de Alagoas (SSP/AL), ao Anuário de Segurança do Brasil, o estado registrou mais de 360 desaparecidos de 2007 a 2016; em 2019 esse número aumentou para 564 pessoas desaparecidas. São homens, mulheres, crianças, jovens de todas as idades e raças que sumiram dos municípios alagoanos sem deixar rastros.

Outro fato que chama a atenção, é que Alagoas apresentou em 2020 um aumento no número de crianças desaparecidas quando comparado a 2019. Enquanto em 2020 foram 20; em 2019, 15 crianças desapareceram, o que representa um aumento de pouco mais de 33%. Deste total, 24 eram do sexo masculino e 11 do sexo feminino.

Um caso de desaparecimento que veio à tona em abril deste ano, foi o de Roberta Dias, uma jovem de apenas 18 anos que desapareceu grávida de três meses em 2012, na cidade de Penedo, interior de Alagoas.

Na época, a mãe da jovem relatou que a estudante havia saído de casa para ir a uma consulta médica no centro da cidade e não voltou mais. Desde aquele dia, a família procura informações sobre seu paradeiro.

Se passaram 9 anos, 3 mil dias, 77 mil horas, sem respostas conclusivas sobre o caso. Em abril de 2021, um crânio e alguns ossos foram encontrados no Pontal do Peba, em Piaçabuçu, acredita-se que pertença a jovem. O Instituto Médico Legal (IML) recolheu o material genético de Roberta para confirmar a procedência dos ossos encontrados.


Em 2018, uma outra ossada foi achada na mesma região do Peba, nesta época, a mãe de Roberta Dias cedeu seu material genético para comparação, mas o resultado não foi compatível. O processo segue em tramitação na 4ª Vara Criminal da Comarca de Penedo.

O caso de Roberta e de tantas outras jovens seguem sem respostas em Alagoas. Para diminuir o sofrimento das famílias, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), lançou recentemente um relatório inédito que descreve as consequências do desaparecimento de pessoas para quem busca por um familiar.


O objetivo do documento é mapear as necessidades de familiares de pessoas desaparecidas e orientar os governos a melhorar a resposta dada ao enorme volume de desaparecimentos. Desde 2017, são cerca de 80 mil boletins de ocorrência do tipo registrados anualmente, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Em mensagens escritas ao CICV, os familiares disseram que "a espera é muito pior do que a morte” e que querem encontrar seus entes queridos vivos, mas, "caso isso não seja mais possível, pelo menos tivemos um final".

Pensando nisso, a Perícia Oficial de Alagoas, iniciou em maio deste ano, uma campanha a nível Nacional “Desaparecidos” para integrar bancos de perfis genéticos (RIBPG). O projeto, implementado pelo Ministério da Justiça por meio do Sistema Único de Segurança Pública (Susp), utiliza a rede integrada para coleta de DNA de familiares de pessoas desaparecidas.

Em entrevista ao 7Segundos, a chefe do Laboratório e perita criminal de Alagoas, Rosana Coutinho explicou como funciona o banco de dados de perfis genéticos. “O banco de perfis genéticos é um banco nacional e se comunica em todos os estados do Brasil. Todo estado tem seu banco e se comunica com o banco nacional. O perfil inserido em Alagoas é comparado com o perfil de outros 26 estados para ver se encontra coincidências criminais como em perfis de pessoas desaparecidas”, explicou a perita.


De acordo com Rosana, o banco de dados é importante para elucidar crimes, mas o projeto só chegou em Alagoas, em outubro de 2020. De lá para cá, os peritos têm trabalhado para compor os dados do banco. “A importância do banco é que por meio dele se pode elucidar crimes, os vestígios coletados por peritos no locais de crime, pelos delegados, pelas delegacias e são enviados para a perícia. É traçado um perfil genético e inserido no banco e isso é checado com os perfis de condenados. Alagoas entrou no banco, em outubro do ano passado, nós temos, nós vamos coletar esses dados agora para inserir no banco”, concluiu.

O Núcleo de Direitos Humanos do Ministério Público Estadual também desenvolve o Programa de Identificação e Localização de Pessoas Desaparecidas de Alagoas. Esse programa iniciou em 2018, a partir da preocupação do órgão com centenas de famílias alagoanas que enfrentam a dor de ter um parente desaparecido.

Qualquer cidadão que quiser denunciar o sumiço de um parente deve procurar o Ministério Público em um dos canais de atendimento, como os números: (82) 9 9182-0121, (82) 2122-3707, (82) 2122-5220 ou ainda preencher um formulário disponível no link a seguir -> https://www.mpal.mp.br/sinalid/. A partir do preenchimento do formulário, os dados dão subsídios para uma equipe de operadores. Com essas informações, diligências específicas são tomadas.