Saúde

Por trás do jaleco tem um ser humano que precisa ser cuidado e valorizado

Farmacêuticos dividem histórias de lutas e conquistas em meio à pandemia

Por Giulianna Albuquerque* 26/09/2021 08h08 - Atualizado em 27/09/2021 08h08
Por trás do jaleco tem um ser humano que precisa ser cuidado e valorizado
As funções do farmacêutico vão muito além do atendimento - Foto: Freepik

Em meio à pandemia ocasionada pela covid-19, farmacêuticos fazem parte de um dos principais grupos que atuam na linha de frente no combate ao vírus, bem como no auxílio a população pertencente a algum grupo de risco para agravamento da doença, como portadores de diabetes e hipertensão arterial.

No sábado (25), foi comemorado o Dia Internacional do Farmacêutico. Aproveitando a data, o 7Segundos conversou com o presidente do Conselho Regional de Farmácia de Alagoas (CRFAL), Robert Nicácio sobre a importância do profissional como orientador da população, principalmente em tempos de pandemia, onde falsas soluções contra o coronavírus, como remédios de eficácia não comprovada são divulgadas.

“O farmacêutico é antes de tudo um educador em saúde. Ele é o protagonista do que a gente costuma chamar URM [Uso Racional de Medicamento]. Nós estamos em um país que é campeão mundial em automedicação e há dois anos vivendo em um momento de pandemia, em que as pessoas procuraram de forma errônea se informar sobre medicamentos em redes sociais, internet em geral, ouvindo opinião de pessoas que nada têm nada a ver com a área da saúde, atrás de uma falsa esperança de tratamento e cura da covid-19”, esclarece Nicácio.

Presidente do CRFAL, Robert Nicácio - Foto: Assessoria

COVID-19 E SAÚDE MENTAL

Dados do Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), da última sexta-feira (24), apontam que dos 237.888 casos de covid-19 confirmados em Alagoas, 7.667 são de profissionais da saúde, o que representa 3,2% dos contaminados. Dentre eles, 43 são farmacêuticos, segundo levantamento do CRFAL

Desde o início da pandemia, em 2020, 500 mil profissionais de saúde pediram afastamento em Alagoas. A informação é da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho. O principal motivo apontado nessas ausências é a saúde mental dos trabalhadores. A farmacêutica Larissa Gonzaga, de 41 anos, é uma delas. Porém, segundo ela, a pandemia não foi o gatilho inicial.

Em entrevista ao 7Segundos, Larissa — que trabalhava na Rede de Farmácias Pague Menos como farmacêutica — recebe benefício do INSS desde dezembro de 2019 após ser diagnosticada com depressão refratária/resistente (representada pela permanência dos sintomas após o tratamento com antidepressivos diferentes).

“A pandemia não foi o pontapé inicial. Eu já vinha em tratamento desde 2017 quando fui deixada faltando poucos dias para o meu casamento. Com um festa 100% pronta e paga. Esse foi o gatinho, onde foi se agravando com outras questões como o caso Pinheiro onde tinha meu apartamento, a pandemia e o falecimento da minha mãe há 3 meses atrás devido à Covid-19”, explicou Larissa.

Ela descobriu que precisava de ajuda quando o comportamento passou a afetar a vida pessoal. “Eu tinha e tenho alterações de humor, medo de gente, de pessoas. Passei a ter sintomas de ansiedade, como tremores, choro constante e sem motivo aparente, perdi o gosto de fazer atividades que antes eram prazerosas para mim”, detalhou.

Larissa revela que o isolamento social agravou os sintomas. Ela tentou por duas vezes tirar a própria vida. “Na primeira fiquei internada por 14 dias, cheguei a ir para UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e me salvar de uma Sepse [infecção generalizada]. Da segunda vez fiquei internada por 5 dias e precisei de uma lavagem gástrica", revela.

Questionada se o tratamento tem trazido resultados e se pensa em voltar ao trabalho, a farmacêutica diz que o tratamento tem sido muito delicado. “É como se os medicamentos antidepressivos não funcionassem a contento no meu organismo, mesmo fazendo junção de outros para tentar potencializar a ação dos medicamentos. Mas, meu desejo é sim que eu consiga superar tudo isso e voltar a enxergar a vida com brilho e esperança e retornar as minhas atividades profissionais”, disse.

Ela conclui afirmando que o estigma que cerca a depressão precisa ser transformado. “É preciso se falar mais sobre depressão. Abrir canais de escuta. Existir uma equipe de S.O.S. Não é só em setembro mais durante todo o ano. É um a doença séria e a saúde pública deveria amparar de uma forma melhor e as famílias e população desmistificarem que depressão é frescura ou algo do tipo”.

TRABALHO DIFERENCIADO

Engana-se quem acredita que o farmacêutico está limitado ao trabalho em drogarias e são responsáveis apenas por verificar receitas e entregar medicamentos. O farmacêutico Aquilis Gomes, do município de São Miguel dos Milagres, tem feito um trabalho diferenciado na cidade com os pacientes portadores de diabetes.

Ao assumir o cargo de farmacêutico daquela região, Aquilis fez um levantamento para identificar quantos pacientes faziam uso de insulina por residência. “Depois de oito meses chegamos ao número de 90 pacientes em todo município e percebemos que em algumas casas mais de uma pessoa faz uso de insulina e a partir daí iniciamos o trabalho de assistência farmacêutica”, disse.

Aquilis implanta projeto de assistência farmacêutica - Foto: CRFAL

Foram adquiridos os glicosímetros (aparelhos que permitem verificar a quantidade de açúcar no sangue) e distribuído por casa juntamente com as lancetas e tiras. O acompanhamento é feito mensalmente e conta com apoio de médicos e gestores do município. “O conhecimento adquirido na minha formação foi aplicado aqui na região. Me sinto feliz em contribuir com a saúde da população e de saber que temos um Conselho de classe que valoriza a nossa profissão”, pontuou Aquilis.

Para conseguir colocar em ação o projeto de assistência farmacêutica aos pacientes hipertensos e diabéticos, Aquilis fez um levantamento do que havia na farmácia, desde o estoque de medicamentos até os insumos. “Foi quando vi que não tínhamos nada para se trabalhar. Aí comecei fazer uma ponte com médicos, enfermeiros e agentes de saúde para poder ter um número exato desses pacientes”, concluiu o profissional.

*Com informações do CRFAL