Agressivos? Adestrador desconstrói má fama de raças como os pitbulls
Henrique Camilo comentou também sobre rottweilers e dobermanns e deu dicas sobre suas criações
Apesar de serem considerados os melhores amigos do homem, nem mesmo os cachorros conseguem escapar do preconceito humano. Um exemplo disso são raças como o pitbull, que possuem fama de “cão louco”, e muitos possuem a ideia de que esses animais são, por natureza, uma ameaça.
Além disso, essas raças tendem a receber má fama pois recebem, erroneamente, a culpa por casos de violência como o recente caso ocorrido, nesta semana, em São Miguel dos Campos, onde um tutor permitia que um pitbull atacasse gatos durante passeios.
Para melhor entender sobre o comportamento desses animais, procuramos o adestrador Henrique Camilo, especialista no comportamento canino, para desmistificar preconceitos direcionados aos nossos amigos de quatro patas.
De acordo com o comportamentalista, a predisposição de caçar outros animais, é sim, natural do cachorro, pois eles são predadores em sua essência, mas que seus tutores têm a responsabilidade de treiná-lo a conter esses impulsos.
"Cabe a família que cria o cão direcionar esse impulso para brinquedos, assim como socializar e adestrar o cão, para que não aconteça acidentes”, disse.
Apesar disso, Henrique também comentou sobre suas experiências como adestrador e colocou que já conheceu cães que fogem do estereótipo da raça. Para ele, a culpa do comportamento do cão cai sobre seus tutores.
“São os humanos que não dão a devida educação aos seus cães, são os humanos que não buscam ajuda profissional para criar seu cão, são os humanos que permitem que acidentes aconteçam. Comportamento [do animal] é sempre o resultado de genética somada ao ambiente, então não podemos culpar o cão e esquecer de quem o criou”, declarou.
Após fazer essa declaração, o adestrador afirmou que, mesmo com a má fama, os pitbulls são cães amigáveis e apenas possuem peculiaridades. “ Pitbulls são cães maravilhosos e como todas as raças tem suas peculiaridades”.
Ele também reitera que essas falas não dizem que não pode criar um cão para a função de guarda. Inclusive há raças que foram criadas com critérios de seleção especialmente para proteger seus territórios.
“Existem diversas raças que foram desenvolvidas com sérios critérios de seleção para que seus indivíduos exerçam com maestria a função de Guarda e Proteção”, informou.
E com um treinamento e criação eficientes, o animal será disciplinado, sem causar acidentes e atacar desnecessariamente mesmo exercendo essa função.
"Existem alguns estudos mostrando que bons cães de Guarda produzem Dopamina (neurotransmissor que quando é liberado provoca a sensação de prazer), durante os treinos de Guarda e Proteção”, alegou Henrique.
Além do mais, determinados cachorros ficam fadados a viver nas ruas ou em abrigos por causa da constante recusa de possíveis tutores em adotá-los por causa deste preconceito. Comumente por medo do animal atacar seus responsáveis ou devolvê-los após a adoção pois queriam um cão de guarda sem treiná-lo.
Ao comentar sobre esse assunto, Henrique disse que os canis, em particular os especializados, devem produzir conteúdo focado na desconstrução desses estereótipos.
“Acredito que os canis especializados na raça e adestradores apaixonados por Pit Bulls deveriam produzir mais conteúdo sobre a realidade desses cães, para que assim, uma hora esse conhecimento chegue até a sociedade como um todo. O que eu sei que não é uma tarefa fácil, até porque as pessoas acabam dando muito mais atenção ao medo e assuntos polêmicos do que a conhecimento útil”.
Além disso, ele também explicou que pessoas interessadas em criar cães, especialmente dessas raças com má fama, devem se questionar antes de realizar a adoção. Deve considerar se terá tempo para o cão, arcar com despesas, além da paciência necessária para a criação.
“Eu vejo um ciclo se repetir com muita frequência: o indivíduo quer ter um cão, mas não tem conhecimento sobre cães e não tem tempo para criar um cão, mesmo assim adota/compra um cão. Não atende as necessidades do cão, não o educa de forma eficiente, trata o cão como se fosse gente, o cão fica estressado e ansioso, começa a dar muito trabalho e a pessoa resolve doar o cão”.
Com isso, o comportamentalista mostra que a fama de “cães loucos” de raças como o pitbull, rottweiler e dobermann, é um preconceito perpetuado contra eles. Cada raça canina tem suas peculiaridades que devem ser atendidas por seus tutores.
“No passado foram os Dobermanns que tinham essa fama, depois os Rottweilers, hoje em dia são os Pitbulls. Eu espero que num futuro próximo essa 'fama' seja dada a quem realmente a merece: Os Humanos”, concluiu o adestrador.
Estagiário sob supervisão*