Muitos estudantes da rede pública de ensino de Maceió participam de projetos que incentivam a leitura e a escrita e que combatem a evasão escolar. São ações efetivadas pela Secretaria Municipal de Educação (Semed) e por parceiros, implementadas nas creches e escolas municipais, que ajudam no percurso de vida dos estudantes. Willyane Vitória, de 18 anos, ex-aluna da Escola Municipal Antídio Vieira, localizada no Trapiche da Barra, foi uma dessas adolescentes.

Com a participação no projeto Cidadania e Justiça na Escola (PCJE), Willyane conseguiu se interessar mais pelos estudos e conquistou o primeiro lugar no concurso de redação da Escola Superior da Magistratura do Estado de Alagoas (Esmal). Ela foi aprovada no Sesi e tirou 860 na nota da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Além disso, foi também por meio do projeto que ela se interessou em concorrer no Enem para o curso de Direito na Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Atualmente, ela espera sair a segunda chamada para ver se foi aprovada. Enquanto isso, ela insiste no sonho.

A ex-aluna da escola, que recebe cerca 470 estudantes, do 6º ao 9º anos, contou que era uma menina muito rebelde, não ouvia ninguém, mas sempre tinha sonhos. "Mas não acreditava que seria possível realizá-los. Daí a minha forma de mostrar uma certa defesa era responder mal os professores e coordenadores, ser expulsa da sala, brigar com as pessoas", disse.

Willyane também revelou que é a mais velha dos seus dois irmãos: um é autista e tem 7 anos, o outro tem 3 anos da idade. Todos moram na mesma casa, com o apoio de sua mãe, que é vendedora ambulante de bebidas. O pai da menina sonhadora morreu quando ela tinha dois anos. Segundo Willyane, uma das coisas que a motiva a buscar as coisas e a superar obstáculos é ver a luta da mãe dela no cotidiano.

"Antes, minha mãe ia ao colégio para receber críticas e reclamação. Hoje, ela vai pra a escola para receber elogio sobre mim. Só eu vejo a situação da minha mãe e da minha família e é muito gratificante perceber que fui a única pessoa que sobrou para se formar. Eu quero isso pra minha vida, faço isso tanto por mim como também para a minha família. Tudo que eu faço é para minha mãe e meus irmãos", enfatizou emocionada.

Determinação e apoio escolar

A determinação de Willyane e o apoio de integrantes do projeto também a levaram a lugares que antes, para ela, eram impossíveis de conquistar. "Lembro que no processo da escrita da redação da Esmal uma pessoa olhou no fundo dos meus olhos e disse que eu não ia conseguir, pois mesmo assim eu fiz a prova e conquistei o primeiro lugar", lembrou com um olhar de orgulho.

A ex-aluna também foi homenageada no gabinete do prefeito, em 2019, como melhor aluna. Aos 17 anos, ela também foi a São Paulo com a equipe de robótica do Sesi participar de um concurso.

A coordenadora pedagógica da escola Antídio Vieira, Josefa de Araújo, confirmou todo o relato de Willyane. Ela contou que a menina dava muito trabalho, mas ninguém desistiu dela. "Eu via potencial na Willyane. Na época, eu e a diretora tivemos uma conversa e resolvemos investir na aluna. Foi nesse mesmo período que decidimos colocá-la no projeto da Esmal com a Educação, para ela participar ativamente. Dias depois ela ficou outra pessoa, mais disciplinada, calma, tranquila", relatou a coordenadora.

Segundo Josefa, no projeto a ex-aluna teve contato com juízes, advogados, promotores e pessoas que têm relação com a área do Direito, o que a fez se interessar mais ainda pela profissão. Emocionada e com lágrimas nos olhos, a coordenadora disse que é gratificante ver os frutos de tanto trabalho.

"A gente ver o fruto do que fazemos o ano inteiro é gratificante demais. Junto com os professores o trabalho é muito bem feito. Se não fosse a dedicação e o apoio desses professores, esses meninos não chegavam tão longe. E quando conseguem chegar, é uma alegria imensa porque a gente sabe que aquele aluno tem potencial", concluiu.

Willyane encerrou sua fala reafirmando que suas conquistas são resultado de muito apoio dos professores e coordenadores da escola. Para ela, estudar em uma escola pública não quer dizer que aquele aluno não terá um futuro melhor.

"Tem muitas pessoas que pensam que pra ser alguém na vida tem que estudar em escola privada. Sempre estudei em escola pública. O Antidio Vieira contribuiu demais para formar a pessoa que sou hoje, mas foram pessoas como Lúcia, Isaura, Roseane, que me incentivaram demais. Foram essas pessoas e esse colégio que foram os principais apoios para eu chegar ao que eu sou hoje", disse Willyane, que sonha em ser juíza.

Cidadania e Justiça na Escola

O projeto Cidadania e Justiça na Escola, uma parceria entre Esmal e Educação, é trabalhado há 20 anos em escolas municipais de Maceió. Hoje, seis escolas da rede municipal são contempladas: Escola Antídio Vieira, Silvestre Péricles, João Sampaio, Haroldo da Costa, Zumbi dos Palmares e Pompeu Sarmento.

Segundo a coordenadora do setor de Programas e Projetos Educacional da Semed, Kátia Lessa, o objetivo do programa é desenvolver um trabalho social e pedagógico, voltado à cidadania, fortalecendo vínculos entre o Tribunal de Justiça e a sociedade. Para ela, a Educação de Maceió tem atingido grandes metas.

"Acho que estamos atingindo o objetivo. Os estudantes vão se transformando aos poucos, com cada ação desenvolvida pelo programa. Eu me sinto muito feliz. Esse é um trabalho de formiguinha, porque a escola faz a parte dela em envolver os estudantes na ação e a ESMAL faz uma parte muito importante que é planejar a ação certa, com temas que envolvam os adolescentes e ações voltadas para eles, e nós, Semed, dando todo apoio para que tudo aconteça da melhor maneira", ressaltou a coordenadora.