Economia

Dólar sobe a R$ 5,58; Ibovespa recua quase 1%

Principal índice da bolsa brasileira ficou abaixo dos 127 mil pontos, menor patamar em duas semanas

Por Istoé Dinheiro 23/07/2024 19h07
Dólar sobe a R$ 5,58; Ibovespa recua quase 1%
Dólar sobe a R$ 5,58 - Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Após o recuo da véspera, o dólar voltou a subir ante o real nesta terça-feira, 23, se aproximando novamente nos R$ 5,60, com a moeda brasileira sendo penalizada pela fuga global de ativos de emergentes, enquanto no Brasil investidores seguem cautelosos quanto à política fiscal do governo.

O dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 5,5875 na venda, em alta de 0,34%. Em julho, a divisa norte-americana acumula leve baixa de 0,06%. Veja cotações

Na véspera o dólar havia cedido ante o real, para abaixo dos R$ 5,60, em uma sessão favorável para as moedas de países emergentes como o Brasil.

Já o Ibovespa fechou em queda nesta terça-feira, marcando uma mínima em duas semanas abaixo dos 127 mil pontos, com ações do setor de mineração e siderurgia entre as maiores pressões de baixa, enquanto Embraer disparou com notícias e expectativas sobre pedidos.

Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa cedeu 0,99%, a 126.589,84 pontos, mínima de fechamento desde 8 de julho. Na máxima, chegou a 127.859,63 pontos. Na mínima, a 126.530,02 pontos. O volume financeiro no pregão somou R$ 19,1 bilhões.

O dólar no dia

Nesta terça-feira o cenário foi inverso, com moedas pares do real, como o peso mexicano, o rand sul-africano e o peso chileno, entre as maiores perdas globais.

Por trás do movimento estavam preocupações em torno da economia da China, um dos maiores compradores globais de matérias-primas. O minério de ferro — produto importante da pauta exportadora brasileira — atingiu o menor valor em três meses.

Neste cenário, o dólar à vista atingiu a cotação máxima de 5,6073 reais (+0,69%) às 9h37, ainda na primeira hora de negócios. Após a moeda superar o nível técnico de 5,60 reais, porém, surgiu um fluxo de venda de dólares por parte de exportadores.

“O dólar abriu para cima, seguindo o exterior, mas passou por um ajuste técnico depois, com exportadores aproveitando para vender moeda. Além disso, o investidor fica um pouco inibido quando a cotação bate nos 5,60 reais e não monta tanto posição comprada (no sentido de alta da moeda)”, avaliou o diretor da assessoria de câmbio FB Capital, Fernando Bergallo.

Este movimento técnico conduziu o dólar para o território negativo, ainda que momentaneamente. Às 11h50 a moeda norte-americana à vista marcou a mínima de 5,5588 reais (-0,18%). Ao longo da tarde, no entanto, o dólar voltou a se fortalecer ante o real, alinhando-se novamente ao movimento global.

Internamente, sem que houvesse novidades vindas de Brasília, o mercado demonstrava cautela em relação à área fiscal, um dia após o governo ter divulgado o Relatório Bimestral de Receitas e Despesas.

Com o documento o governo confirmou a necessidade de congelar 15 bilhões de reais em verbas de ministérios para levar a projeção de déficit primário do governo central em 2024 a 28,8 bilhões de reais, exatamente o limite inferior da margem de tolerância da meta de déficit zero.

“Agora, ou as economias provenientes da revisão dos benefícios fiscais se mostram tão significativas quanto o governo prevê, ou a situação pode se tornar crítica”, disse André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, em comentário enviado a clientes.

“Um déficit primário acima de 28,8 bilhões de reais, que é o limite do novo arcabouço fiscal, poderia minar a confiança no governo e causar um novo ‘overshooting’ cambial, semelhante ao ocorrido no segundo trimestre do ano”, acrescentou.

Sensível à questão fiscal e ao exterior, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) tiveram ganhos firmes nesta terça-feira.

No exterior, às 17h09, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,14%, a 104,450.

Pela manhã o Banco Central vendeu todos os 12 mil contratos de swap cambial tradicional em leilão para fins de rolagem do vencimento de 2 de setembro de 2024.

O dia do Ibovespa

De acordo com Gabriel Mollo, analista de investimentos do Banco Daycoval, o Ibovespa sofre dado o peso relevante de ações sensíveis a commodities em sua composição, que são penalizadas pela visão de que foi “tímido” o corte de juros na China, onde a economia não tem conseguido engatar um crescimento sólido.

“O mercado esperava cortes mais agressivos”, acrescentou, acrescentando que tal “decepção” pressionava negativamente os preços de matérias-primas como o minério de ferro e o petróleo. As ações da Vale e da Petrobras combinadas respondem por cerca de 25% do Ibovespa.

Em paralelo, acrescentou Dennis Esteves, sócio e advisor da Blue3 Investimentos, o incômodo com o quadro fiscal brasileiro ainda pesa. “Investidores seguem céticos quanto ao déficit zero”, observou, citando números do relatório bimestral de receitas e despesas do governo, conhecido na véspera.

No documento, os ministérios do Planejamento e da Fazenda confirmaram a necessidade de uma contenção de 15 bilhões de reais em verbas de ministérios para levar a projeção de déficit primário do governo central em 2024 a 28,8 bilhões de reais, o limite inferior da margem de tolerância da meta de déficit zero.

“O congelamento de 15 bilhões de reais é visto como insuficiente para o atingimento do alvo”, acrescentou.

Investidores também estão atentos à temporada de balanços no Brasil, com Carrefour Brasil abrindo o calendário do Ibovespa na noite da véspera, enquanto a agenda da semana reserva os resultados de Santander Brasil, Multiplan e Vale, Usiminas entre outros.

A safra de resultados nos Estados Unidos também é monitorada, principalmente no setor de tecnologia, dado o efeito rebote na bolsa brasileira a movimentos nos pregões em Nova York, onde os desdobramentos mais recentes da cena política norte-americana também estão sendo acompanhados.

Na visão de Mollo, esses fatores tendem a adicionar volatilidade nos próximos dias, que ainda reservam divulgações relevantes, como o índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) na sexta-feira, um dos preferidos do Federal Reserve para a definição dos juros nos EUA.

Ele não descarta o Ibovespa voltar ao patamar dos 125 mil pontos, mas classifica esse movimento como uma realização de lucro da onda mais positiva desde meados do mês passado, não uma reversão da tendência do curto prazo. No acumulado do mês, o Ibovespa ainda sobe mais de 2%.

– EMBRAER ON disparou 8,47%, para uma nova máxima histórica de fechamento a 41,87 reais, recuperando-se após tombo de 7% na véspera, com investidores atentos ao noticiário da feira de aviação de Farnborough, na Inglaterra. Após oficializar na véspera a venda de nove cargueiros C-390 para a Holanda e a Áustria, a companhia confirmou nesta terça-feira a venda de seis aeronaves Super Tucano para a Força Aérea do Paraguai.

– CARREFOUR BRASIL ON caiu 3,36%, mesmo após repercussão de modo geral positiva por analistas sobre o resultado do segundo trimestre, que mostrou crescimento de vendas acima do esperado. A rede de varejo alimentar elevou sua projeção de abertura de lojas para o ano. Na véspera, o papel já havia subido mais de 4%.

– ITAÚ UNIBANCO PN encerrou com decréscimo de 0,15% e BRADESCO PN cedeu 0,71%, assim como BANCO DO BRASIL ON, que perdeu 0,59%. SANTANDER BRASIL UNIT, que divulga balanço na quarta-feira, antes da abertura do mercado, recuou 1,36%.

– ZAMP ON, que não está no Ibovespa, cedeu 2,89%, com o noticiário incluindo aprovação pela autoridade de defesa da concorrência Cade da compra de ativos que fazem parte da rede de cafeterias Starbucks no Brasil pela operadora brasileira das redes Burger King e Popeyes.