Kevin Carroll e Debbie Webber se conheceram em 1967, ainda no ensino médio, e se apaixonaram no instante em que trocaram os primeiros olhares em um teste de talentos. A proximidade do casal virou rotina: festas, ensaios, planos de futuro — até que a descoberta da gravidez de Deb interrompeu tudo e os separou por mais de 40 anos.

“Eu estudava em um colégio de meninos e Deb, em um colégio de meninas”, contou Carroll ao programa de rádio Outlook, do Serviço Mundial da BBC.

“E, em um teste de talentos, estávamos todos no auditório nos apresentando, quando eu disse para um amigo meu: ‘Está vendo aquela menina? Vou levá-la para a festa do colégio.'”

A reação de Webber foi parecida, segundo contou à BBC. “Eu estava sentada sozinha no auditório porque não conhecia nenhuma das meninas da escola que estavam no teste”, ela conta. “Mas me lembro de que, quando o vi, ele me pareceu o menino mais bonito que já havia visto na vida.”

Quando se conheceram, Deb e Kevin queriam fazer tudo juntos

Eles não só acabaram indo juntos para a festa, como, dali em diante, passaram a querer fazer tudo na companhia um do outro. O casal chegou a planejar uma fuga para uma pequena cidade no estado estadunidense de Maryland, onde as pessoas podiam se casar com 15 anos de idade, sem a permissão dos pais.

Mas, duas semanas antes, a notícia de que Deb estava grávida frustrou os planos e acabou separando o casal por mais de 40 anos. Foi uma fase difícil, em que o amor de um pelo outro sempre esteve presente.

Um amor interrompido

Na época, a família de Deb tentou ampará-la como podia, dentro das normas sociais daquele período. Ela foi enviada a um lar para jovens grávidas, enquanto Kevin, acreditando que poderia sustentar a futura família, convenceu a mãe a autorizá-lo a se alistar na Marinha aos 17 anos. A esperança era simples: casar quando o treinamento terminasse.

Kevin se alistou acreditando poder fornecer segurança a Deb e à filha do casal

A realidade, porém, seguiu outro rumo. Durante o período afastada, Deb decidiu entregar o bebê para adoção. Kevin recebeu a notícia por carta, ainda no treinamento militar, sem poder reagir diante dos colegas. O que restou, segundo ele, foi a sensação de perda — embora compreendesse a decisão.

Caminhos distantes

Deb deu à luz uma menina e a entregou à família escolhida por indicação de seu médico. Em seguida, mudou-se com os pais para outra região, tentando recomeçar longe dos olhares conhecidos. Kevin, por sua vez, foi enviado ao Vietnã, onde sobreviveu a um ataque gravíssimo e passou por dezenas de cirurgias até conseguir se recuperar.

Uma das poucas coisas que Deb sabia sobre sua filha é que ela tinha quatro irmãos

Os anos avançaram. Deb se casou algumas vezes e teve três filhas; Kevin formou a família e ficou viúvo. Ambos seguiram a vida carregando lembranças e perguntas, mas sem notícias da filha que tiveram juntos.

A busca pela filha

Décadas depois, Deb decidiu contar às filhas o que havia vivido. Uma delas reuniu os poucos dados que a mãe lembrava e conseguiu localizar a família que adotou a bebê. O contato veio por telefone: do outro lado da linha estava Val, a filha do casal. O reencontro trouxe alívio para Deb, que descreveu a sensação como libertadora.

Val quis conhecer a mãe biológica ainda naquela noite. E, logo depois, surgiu uma grande pergunta: onde estava Kevin?

Depois de quase 40 anos, Deb, Kevin e Val conseguiram se encontrar novamente

A carta que mudou tudo para o casal

Uma busca na internet revelou o paradeiro dele. Deb conta que escreveu uma carta tímida, oferecendo condolências pela morte da esposa e deixando seu telefone. Para Kevin, a mensagem foi um choque — e um presente inesperado. Ele ligou imediatamente.

Durante a conversa, Deb revelou que havia encontrado a filha. O passo seguinte foi natural: marcaram um encontro na casa de Val. Ao vê-lo chegar, Deb mal conseguiu esconder a antiga admiração. Enquanto Kevin e a filha conversavam, ela se afastou, percebendo que aquele momento era, antes de tudo, deles.

Amor reencontrado

Depois de horas relembrando o passado e contando o que viveram, Kevin confessou que nunca deixou de amá-la. Deb emocionada, respondeu que, se em seis meses continuasse sendo o homem que ela lembrava, poderiam tentar de novo.

O prazo passou — e o amor permaneceu. A reconciliação do casal se transformou em casamento, décadas depois dos planos interrompidos na juventude. Hoje, já na casa dos 70 anos, vivem juntos com a serenidade de quem finalmente pôde concluir a história que começou muito antes.

“Somos capazes de cuidar e amar um ao outro nesta etapa da vida”, diz Deb. “Sinceramente, não sinto falta de mais nada.”