7 a cada 10 jovens negros ou alunos da rede pública não se sentem seguros nas escolas, aponta consulta de opinião
O levantamento Violências no Cotidiano de Adolescentes ouviu quase 750 adolescentes e jovens
Uma consulta pública de opinião revelou que 7 a cada 10 jovens negros ou que tenham estudado em escola pública não se sentem seguros nas escolas. O levantamento Violências no Cotidiano de Adolescentes ouviu quase 750 adolescentes e jovens e foi realizado na Região Metropolitana de São Paulo, a partir de uma iniciativa do Comitê Paulista pela Prevenção de Homicídios na Adolescência, com parceria técnica da Rede Conhecimento Social e o apoio de outras organizações sociais e de um grupo de jovens pesquisadores.
Ao comentarem sobre a sensação de segurança em espaços que frequentam, 6 a cada 10 jovens disseram que se sentem mais ou menos seguros na escola ou nos serviços da saúde e assistência. E apesar da casa ser o lugar em que os jovens se sentem mais seguros (8 a cada 10), os mais novos (12 a 14 anos), mulheres e LGBTQIA+ tendem a considerá-la entre mais ou menos e nada segura. Espaços públicos, como a rua, a comunidade e a cidade são lugares onde os jovens se sentem menos seguros, especialmente as mulheres, não binários, LGBTQIA+ e indígenas.
Os dados foram divulgados em um evento online com participação de Marisa Villi, cofundadora da Rede Conhecimento Social; Adriana Alvarenga, do UNICEF; Marina Helou, deputada estadual e presidente do Comitê Paulista pela Prevenção de Homicídios na
Adolescência (CPPHA) e Cristian Santos, representante dos jovens pesquisadores da consulta.
Durante a apresentação, Marisa Villi destacou que os jovens negros e os estudantes de escolas públicas se sentem mais inseguros nas escolas, locais onde deveriam se sentir protegidos. O mesmo ocorre com espaços dos serviços de saúde e assistência. Já os espaços religiosos aparecem como seguros ou muito seguros para 6 a cada 10 jovens. Com quase a mesma proporção estão os espaços de organizações frequentadas pelos jovens pesquisadores.
Combate ao racismo como porta de saída
Os jovens avaliam que há diferenças e preconceitos no tratamento que a sociedade dá aos adolescentes de acordo com sua classe, cor, gênero e endereço. Do total, 61% concordam que a maior parte dos lugares podem ser inseguros para mulheres e 87% não sentem que a lei é aplicada de forma igual entre pessoas de classe social mais alta ou mais baixa. Além disso, 40% dos jovens brancos se sentem bem representados nos lugares que frequentam, enquanto 27% dos pardos e 24% dos pretos tem a mesma sensação.
Adolescentes veem campanhas contra o racismo como prioridades para redução de violência e homicídio (43%). Campanhas a favor da igualdade entre homens e mulheres (37%), mudar o treinamento das forças policiais para reduzir violência (36%) e criar espaços para que adolescentes possam se reconhecer (34%) também foram apontados como saídas importantes, assim como tornar a escola mais atrativa (25%) e ampliar atividades culturais (22%).
Além da sensação de insegurança nas escolas, é possível identificar o recorte racial e de gênero em muitas outras violências.
Morte de jovens
Outro dado extremo que chama atenção é o fato de 24% dos adolescentes terem perdido alguém próximo com menos de 19 anos por suicídio e 19% por homicídio. Para a deputada estadual Marina Helou, o homicídio é a última violência de uma cadeia de violências. "Prevenir o homicídio é tratar muitas outras violências antes que isso aconteça. Precisamos cuidar do futuro e também do presente de uma juventude segura. Os dados e reflexões nos ajudam a pensar políticas públicas para resolvermos o problema da violência contra os adolescentes", disse.
Para Adriana Alvarenga, do UNICEF, os números revelam que os jovens estão imersos em um ambiente de violência, quando deveriam estar protegidos em uma fase peculiar de desenvolvimento, sendo vítimas de violência em lugares que deveriam oferecer proteção, como a casa e a escola. "Mas é preciso dizer também que os adolescentes têm boas ideias para reverter a situação e são importantes atores para a construção de outra realidade", completou.
É o que pensa o jovem Cristian Santos, de 17 anos, que participou da consulta pública de opinião. "Precisamos falar mais e expor os problemas. As vezes o lugar que achamos que mais vai nos acolher é o espaço que mais agride nosso psicológico, mas podemos romper essas barreiras mostrando o que acontece", disse.