Pesquisa constata alta mortalidade de corais no Litoral Norte
Estudo tem participação de pesquisadores da Ufal, da UFPE, da UFRJ e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
Um estudo realizado por pesquisadores do Peld Costa dos Corais Alagoas e Projeto Conservação Recifal (PCR) buscou analisar o impacto de um dos maiores eventos de aquecimento oceânico já registrados na região da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais – a maior unidade de conservação federal marinha costeira do Brasil. O levantamento, publicado na Frontiers in Marine Science, traz dados alarmantes sobre os impactos da catástrofe climática em Alagoas, como uma alta mortalidade de corais que chega em até 50% no caso de algumas espécies.
No ano de 2020, um conjunto de recifes da APA Costa dos Corais próxima ao município de Maragogi, no Litoral Norte do Estado, registrou o maior acúmulo de estresse por calor da série histórica, que data de 1985, quando a metodologia de medição foi criada e os monitoramentos começaram. O DHW (degree heating week), unidade que mede esse estresse, atingiu 12 em maio de 2020 – quando valores acima de 4 costumam causar branqueamento de 30% a 40% dos corais afetados.
Apesar de não ser uma condenação de morte, com recuperações podendo ocorrer em alguns casos, o branqueamento dos corais é um indicativo de mudanças extremas na temperatura das águas. Essas mudanças levam as algas que normalmente vivem em simbiose com os corais – e que são essenciais para sua sobrevivência – saírem de seus poros, causando um aspecto esbranquiçado.
“As maiores anomalias no DHW aconteceram nos últimos dez anos, o que representa menos da metade do período analisado”, destacam os pesquisadores no artigo, publicado no final de maio deste ano. Realizado por Pedro Pereira, coordenador do Projeto Conservação Recifal e membro do Peld CCAL, e outros pesquisadores ligados às universidades federais de Alagoas (Ufal), de Pernambuco (UFPE) e do Rio de Janeiro (UFRJ), além do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O aquecimento extremo, monitorado de perto pelos pesquisadores, trouxe consequências drásticas para a biodiversidade local em um período difícil para a análise – a pandemia de covid-19. Fazendo uso de imagens de satélite e metodologias de monitoramento à distância, os cientistas localizaram grandes bancos de corais que sofreram branqueamento e, muitas das vezes, não sobreviveram.
“O fenômeno resultou em uma redução média de 18.1% na cobertura de corais vivos em comparação com os registros pré-branqueamento”, revela o texto do artigo. E mais: “A mortalidade na pesquisa pós-branqueamento foi significativamente maior para três espécies, Millepora alcicornis (corais de fogo), Millepora braziliensis e Mussismilia harttii (coral cérebro), as duas últimas sendo espécies endêmicas.”
Em algumas áreas analisadas pelos pesquisadores, a mortalidade chegou a 100% para os Millepora braziliensis, seguido do coral cérebro que registrou mortalidades de até 55% e o coral de fogo com 27%. “Esses dados indicam que as populações de duas espécies de corais endêmicos do Brasil estão sob ameaça severa”, alertam os pesquisadores. E continua: “Essas espécies são ecologicamente relevantes, servindo de construtores de recifes e de habitats para peixes”.
O trabalho acende um alerta também contrário à ideia de que o sudoeste atlântico poderia servir como um refúgio para espécies de corais que sofrem com os efeitos das mudanças climáticas. Já existem registros recentes de mortalidade de corais devido ao estresse térmico em outras áreas importantes do mundo, como a Grande Barreira de Corais e os corais do Caribe. “O significado, a longo prazo, da mortalidade documentada aqui e seu impacto na comunidade, estrutura e funcionalidade da Costa dos Corais e suas implicações para o futuro do ecossistema recifal brasileiro permanecem incertos”, concluem os pesquisadores.
Derramamento de óleo pode ter contribuído
O derramamento de mais de cinco mil toneladas de óleo no litoral do Nordeste brasileiro, que ocorreu em 2019, pode ter contribuído para o registro das anomalias na temperatura da água na região. De acordo com os pesquisadores, uma das áreas mais duramente afetadas pelo crime ambiental foi a APA Costa dos Corais, com consequências duras para a região estudada, que fica próxima a Maragogi.
“Análises metagenômicas estão em andamento para compreender melhor o papel do microbioma sob tais circunstâncias, e se esse impacto adicional deveria ter um efeito sinérgico”, aponta o artigo.