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A revolução dos técnicos estrangeiros no futebol brasileiro

Por 7Segundos 18/11/2022 08h08 - Atualizado em 18/11/2022 08h08
A revolução dos técnicos estrangeiros no futebol brasileiro
A revolução dos técnicos estrangeiros no futebol brasileiro - Foto: Pixabay

Quando o técnico do Palmeiras, Abel Ferreira, escalou um time reserva para enfrentar o São Paulo, em novembro de 2021, provocou a ira de parte da torcida. Afinal, o rival tricolor estava cambaleante, e era a chance de empurrar o adversário para a incômoda zona de rebaixamento. Mas ao ser questionado, Abel foi categórico e disse: “eu tenho um plano”. Alguns dias mais tarde, um descansado Palmeiras se impôs contra o Flamengo e conquistou o tricampeonato da Libertadores da América.

O plano de Abel deu certo. Mas muito porque ele fez algo que um treinador brasileiro não faria, ou melhor, não se arriscaria a fazer. Afinal, os técnicos nacionais sabem o quanto a ira dos torcedores pode ser fatal para seu emprego. Abel, porém, seguiu seu instinto. E hoje, com dois campeonatos continentais, é uma unanimidade no mundo do futebol.

Esse é um exemplo de como os treinadores estrangeiros estão chacoalhando o mercado da bola nacional. Basicamente, as novas caras estão trazendo novos conceitos, novas filosofias e novas maneiras de pensar o jogo. A começar do que vem antes do jogo: a preparação.

Apesar de parecer óbvio, nem todos os clubes de futebol fazem uma boa preparação antes de cada partida. E estar bem-preparado é fundamental, como podem atestar jogadores de outras modalidades tais como o poker. Nesse popular jogo de cartas, a preparação é tida como uma das chaves do sucesso é imprescindível para quem quer ir longe. Se os brasileiros não prestam muita atenção ao pré-jogo, os técnicos estrangeiros já vieram com essa ideia na bagagem.

Eles têm dedicado muito tempo estudando os adversários da próxima jornada, suas fraquezas e suas fortalezas. E, mais importante, adaptam o time às circunstâncias, por vezes alterando peças, posicionamento e estratégia. Foi-se a ideia ultrapassada de que o time tinha que “jogar o seu jogo”, seja qual fosse o adversário. Dentro de um padrão estrutural, há variações possíveis. E que podem ser usadas em uma única partida.

Criando craques

Outro benefício das ideias vindas de fora pode ser verificado no desenvolvimento de jogadores. Técnicos como Juan Pablo Vojvoda têm a capacidade de fazer um jogador desempenhar melhor suas funções. No Fortaleza, Vojvoda conseguiu fazer com que Ronald e Tinga, dois atletas que nunca estiveram nos holofotes, se transformassem em peças-chaves para uma campanha de recuperação no Brasileirão 22.

Isso não é acaso. O comandante enxergou o potencial e soube extraí-lo dos jogadores. Dá mais trabalho – afinal é sempre mais fácil deixar o atleta mofando no banco – mas para o clube vale ouro. Ou no mínimo muitos dólares em uma transferência internacional.

Treinadores estrangeiros também não douram as pílulas. Quando estão insatisfeitos com um profissional, falam claramente, e evitam assim fofocas de vestiário. Vítor Pereira, comandante do Corinthians, deixou Roger Guedes no banco e disse que ele precisava treinar mais e melhor para ser escalado. A princípio, o loiro atacante se revoltou, soltou indiretas em redes sociais e... Pereira manteve-se firme. Com o tempo, Guedes viu que só havia um caminho e, após reiterados bons treinos, voltou ao time titular.

O outro lado

Mas passaporte internacional não garante sucesso no futebol brasileiro. Há vários que vieram e voltaram. Gareca, Bauza, Jesualdo, Domenec, Sá Pinto, Miguel Angel Ramirez, Paulo Sousa, “Cacique” Medina e “Turco” Mohamed formam uma lista de insucessos. Todos bons técnicos. Mas a maioria não entendeu, ou não se preparou, para o modo como funciona esse louco mercado brasileiro de futebol.

Outros foram vítimas da impaciência que resulta da soma de dirigentes molengas com torcidas afoitas. E alguns tiveram algum sucesso, mas também sucumbiram à primeira crise – é o caso de Hernán Crespo e Jorge Sampaoli. Este último não espera a crise chegar – ele mesmo a produz. O Sevilha, possível próximo clube do técnico argentino que se cuide.

Mesmo com os insucessos, a vinda de técnicos estrangeiros tem feito bem ao Brasil. De novos conceitos táticos a entrevistas coletivas com mais substância, os ganhos têm sido notáveis. Mas não deveriam surpreender. Afinal, é isso que se espera quando se abre um intercâmbio de profissionais competentes. Uma ideia que pode transcender os campos e contaminar favoravelmente outras áreas de conhecimento.