Acidentes

Tragédia aérea: funcionário da Voepass diz que falha em avião foi omitida

Avião da companhia cai em agosto do ano passado

Por 7Segundos com Uol 04/08/2025 09h09 - Atualizado em 04/08/2025 10h10
Tragédia aérea: funcionário da Voepass diz que falha em avião foi omitida
Aeronave cai em agosto de 2024 - Foto: NELSON ALMEIDA/AFP

A declaração de um ex-funcionário da Voepass revelou que o equipamento de degelo do avião ATR 72-500, que caiu em Vinhedo vitimando 62 pessoas em 2024, já havia apresentado o problema antes.

O que aconteceu

Na madrugada anterior ao voo 2283 da Voepass, um comandante havia relatado problemas no equipamento de degelo do avião. O depoimento do ex-funcionário foi revelado pelo Fantástico, da TV Globo, na noite de hoje.
Apesar disso, o comandante não registrou oficialmente o problema com a aeronave. Sem descrição no diário de bordo, o avião foi liberado para novo voo, que acabaria na tragédia de 9 de agosto do ano passado.

O avião caiu a 80 quilômetros do destino e ninguém sobreviveu. O voo havia partido de Cascavel, Paraná, com destino à Guarulhos, mas acabou caindo pouco antes do momento do pouso, em Vinhedo.

Além do problema nas asas, semanas antes do acidente uma comissária relatou problemas na porta de serviço. Segundo a ex-funcionária, havia gelo em torno da porta, pois as borrachas não estavam vedando corretamente.

O avião não estava adequado para voar em condições de gelo. Ao Fantástico, o ex-funcionário relatou que o aparelho contra gelo das asas não estava funcionando e que por isso deveria ter ido para a manutenção — o que não aconteceu.

Um boletim meteorológico do dia da queda alertou para alta formação de gelo na região. Conforme o mecânico ouvido pelo Fantástico, a equipe da Voepass voava "sob pressão" e "não podia ficar colocando sempre pane na aeronave".

Funcionário relatou "remorso" após o acidente. Em uma gravação de um mês após a queda, dois funcionários da manutenção lamentam o acidente e um deles diz: "Remorso desgraçado (...) errei, errei de não ter mandado por escrito" — indicando que sabia do problema, mas tinha sido orientado a não reportar.

Familiares vão discutir investigação
Nesta semana, familiares e advogados das vítimas vão se reunir com delegado para discutir depoimento de nova testemunha. Representantes da Associação das Vítimas do Voo 2283 - Voepass vão se encontrar com o delegado-chefe da Polícia Federal em Campinas, Edson Geraldo de Souza, para entender como anda a investigação.

O relatório final sobre a queda ainda não foi concluído pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos). O UOL apurou que familiares vão questionar a Polícia Federal sobre a veracidade das declarações da nova testemunha. Também haverá um encontro com membros do Ministério Público Federal.

Advogado de familiares aguarda confirmação do depoimento da testemunha para analisar o que deve ser feito. Ao UOL, Luciano Katarinhuk disse aguarda mais posições para saber se o caso se trata de uma omissão e houve dolo eventual — quando se assume o risco.

Nós queremos entender, encontrar e responsabilizar as pessoas que permitiram que esse avião estivesse no ar. Por omissão, por dolo, por dolo eventual. Como é que a pessoa permite um avião que tinha um problema numa peça de um aparelho que era relevante, pudesse estar no ar? Isso daí que a gente pretende ver junto com o delegado e junto até com o Ministério Público Federal, que nós temos uma reunião também.
Luciano Katarinhuk, advogado.