Brasil enfrenta o México com ajuda da torcida que quebrou o protocolo da Fifa
A Fifa é cheia de salamaleques, protocolos e formalidades. Uma delas é o hino. Toca só uma parte. Inteiro fica tudo muito comprido, e vivemos em um mundo rápido, de 140 toques.
Ainda mais em eventos concebidos para a televisão, onde tempo é dinheiro. Só que a Fifa não contava com os cearenses.
O sistema de som parou, e aí 60 mil vozes mostraram a força que um estádio lotado e unido pode ter, para o que der e vier.
A Fifa se dobrou a uma genuína manifestação popular. Assim nasceu o hino nacional brasileiro à capela, na Copa das Confederações do ano passado. Foi de arrepiar. Era o mesmo Castelão, contra o mesmo México que, se derrotado hoje, pode garantir a vaga nas oitavas com antecedência.
As pessoas se olhavam, sorriam e cantavam ainda mais alto. As veias do pescoço saltavam conforme avançavam as estrofes. Os rostos ganhavam um tom avermelhado. As últimas estrofes, não havia outra maneira, saíram aos gritos.
O goleiro Julio César chorou. Via-se os jogadores, abraçados, sacudindo uns aos outros. Não conseguiam mais ficar em posição de sentido, tal a energia que emanava do público.
Queriam jogar, de preferência naquele instante, sem aquela frescurada de troca de flâmulas, foto dos capitães e isso e mais aquilo.
Fortaleza está vestida para a Copa. Tudo o que não se via em São Paulo, na estreia diante da Croácia, se vê na capital do Ceará. Não se anda 20 metros sem uma alusão a Seleção.
É a bandeira na janela do prédio, no portão da casa, nos capôs e portinholas dos carros. O cordão da calçada pintado. Das zonas mais pobres brotam as manifestações mais bonitas. Desenhos nas ruas, claramente feito por crianças.
Também bandeirolas de São João — é época, no Nordeste — em verde-amarelo nas ruelas de chão batido dos bairros da periferia.
A camiseta de Neymar parece uniforme de escola. Vi, juro, um vendedor de água e cerveja trabalhando com um cachorro linguiçinha fardado e de óculos, deitado numa cama ao lado do dono.
Ivo Carlos Antônio Bandeira andou 15 quilômetros de ônibus para trazer a filha Iasmyn, oito anos, ao Castelão. Ela viu (ou acha que viu, que diferença faz?), graças ao esforço comovente do pai em erguê-la na grade, uma nesga de Neymar no treino fechado, por uma fenda possível no estádio.
— Não vi ele todo, mas foi legal — sorriu Lasmy, as pálpebras pintadas nas cores da Seleção.
Este é o espírito que embala o hino à capela. O importante é ajudar. É fazer a sua parte. É separar a crise e as justas críticas por uma Brasil melhor da união em torno da sexta estrela. Fortaleza respira o jogo de hoje com o México.
Quando a Seleção deixou o Castelão após o treino fechado, centenas quase abraçaram o ônibus, sem reclamar das horas de espera para ver, quando muito, um aceno atrás do vidro fumê da janela. Pareciam ter ouvido Thiago Silva.
— Se abracem como nós, jogadores, nos abraçamos na hora do hino nacional. Além de abraçar a Seleção, que a gente se abrace. Estamos todo juntos nessa — sugeriu o capitão, admitindo que a primeira audição do hino à capela foi um marco para os jogadores, pois deixou muito claro o que representará ser campeão do mundo em casa.
A rigor, o hino à capela já é um abraço simbólico. Será um marco na história das Copas. E ele virá, pode apostar.
BRASIL X MÉXICO
Estádio Castelão, 16h
BRASIL
12 Julio César; 2 Daniel Alves, 3 Thiago Silva, 4 David Luiz e 6 Marcelo; 17 Luiz Gustavo, 8 Paulinho, 11 Oscar e 7 Hulk (16 Ramires); 10 Neymar e 9 Fred
Técnico: Luiz Felipe Scolari (Felipão)
MÉXICO
13 Ochoa; 4 Rafa Márquez, 2 Francisco Rodríguez e 15 Héctor Moreno; 22 Aguilar, 23 Vázquez, 6 Herrera, 18 Guardado e 7 Layún; 10 Giovani dos Santos e 19 Oribe Peralta
Técnico: Miguel Herrera
Arbitragem: Cuneyt Cakir, auxiliado por Bahattin Duran e Tarik Ongun (trio da Turquia)