Alagoas

Mortes de motociclistas em Alagoas aumentam mais de 400% em dez anos

 Pesquisas da Escola de Enfermagem da UFAL levantam perfil dos acidentados

Por Assessoria 07/05/2012 10h10
Mortes de motociclistas em Alagoas aumentam mais de 400% em dez anos
A pesquisa realizada pelos enfermeiros José Lins de Almeida Neto e Robson da Silva, que também são integrantes do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas, foi orientada pela professora Ruth Cizino, da Escola de Enfermagem e Farmácia (Esenfar) da Ufal. Eles levantaram o “Perfil epidemiológico da população assistida pelo serviço de atendimento pré-hospitalar do Corpo de Bombeiros em Maceió”. O resultado desta monografia de conclusão de curso está sendo configurado em artigo para ser publicado no Informe Epidemiológico do Sus.

O interesse em analisar os dados de quem são os acidentados e onde acontecem essas ocorrências surgiu da preocupação em refletir sobre uma rotina cada vez mais crítica. Driblar o trânsito de Maceió para salvar vidas faz parte do trabalho desses bombeiros formados em Enfermagem pela Ufal. Todos os atendimentos são notificados e alimentam um banco de dados, mas faltava um estudo sobre a situação que apontasse alguns indicativos importantes para um planejamento de ações.

Em 2009, os bombeiros, então estudantes da Ufal, debruçaram-se sobre 3.463 fichas de atendimentos do Corpo de Bombeiros em Maceió e avaliaram as variáveis, como sexo e faixa etária, tipos de ocorrências, horário, dia da semana e local da ocorrência. Os acidentes mais frequentes, que representaram 19,09%, acontecem com motociclistas, principalmente aos fins de semana, no horário da noite e as vítimas são na maioria homens jovens, na faixa etária de 20 a 29 anos. “Quando se trata de acidentes e violência, os homens representam risco duas vezes maior de gerar ocorrências do que as mulheres”, destaca o pesquisador e bombeiro, José Lins.

Os pesquisadores também observaram que, dos 50 bairros existentes em Maceió, seis deles concentram a maior parte dos acidentes envolvendo motociclistas, são eles: Tabuleiro dos Martins, com 37,12% dos atendimentos; Farol, com 17,88%; Serraria, com 13,82%; Barro Duro, com 10,84%, Trapiche, com 11,11% das ocorrências; e Jacintinho, com 9,21%. As avenidas Durval de Góes Monteiro, Menino Marcelo e Fernandes Lima são as mais críticas em relação aos acidentes de trânsito, inclusive os que incluem motociclistas.

A partir deste estudo sobre o atendimento pré-hospitalar realizado pelo Corpo de Bombeiros, os estudantes fizeram algumas propostas para reduzir os acidentes, como intensificar a fiscalização de trânsito nos pontos mais críticos, campanhas educativas com motoristas, motociclistas e ciclistas. “Também sugerimos descentralizar as bases do Samu [Serviço de Atendimento Médico de Urgência], como acontece hoje com as bases do Corpo de Bombeiros, para que o serviço móvel chegue com mais rapidez aos locais das ocorrências”, destaca Robson.

Causa de mortalidade no Brasil

O aumento dos casos de acidentes e de violência tem preocupado os pesquisadores da área de saúde. Esta questão motivou uma outra pesquisa, realizada ano passado pela mestranda em Enfermagem, Caroline de Brito Feliciano, e pelas professoras da Esenfar, Ruth Cizino, doutora em Enfermagem, e Gisetti Brandão, doutoranda em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP).

As pesquisadoras fizeram análise epidemiológica da mortalidade por causas externas em Alagoas, estabelecendo perfil dos indivíduos que morrem por causa de acidentes ou vítimas de violência. Os dados foram coletados no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Sistema Único de Saúde (SUS). “Analisando a taxa de variação da mortalidade de 1999 e 2009, em Alagoas, verificamos que as agressões tiveram um aumento de 238,09%, demonstrando a situação de insegurança em que vivem os alagoanos”, destacaram as pesquisadoras.

Mais uma vez, nesse levantamento, além dos casos de agressões, os acidentes com mortes envolvendo motociclistas se destacam. A variação de óbitos nesse tipo de ocorrência é assustadora: 461,90%. “Preocupa ainda mais quando lembramos que estamos registrando aqui as mortes, mas ainda temos um alto índice de pessoas que sobrevivem, mas ficam incapacitadas, com sequelas graves, nesses acidentes com motocicletas”, ressalta Ruth Cizino.

Os pesquisadores concluem que, tanto o crescimento da violência, gerando mortes por agressão, quanto o crescimento de acidentes por causa do aumento extraordinário da frota de carros e motos nas ruas de Alagoas, precisam ser considerados como um problema coletivo pelo governo e pela sociedade. “Faz-se necessária uma ação governamental e social para o combate a esta situação que, pelo estudo apresentado, mostra uma tendência de crescimento”, concluem.