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Moradores de Santa Teresa desconfiam de reforma do bondinho

Por Redação com Agência Brasil 21/06/2014 07h07

A reforma dos bondinhos de Santa Teresa, prevista para agosto deste ano, é esperada com algum temor e desconfiança pelos moradores do bairro. Uma frase – o morador sempre teve amor ao bonde, é o nosso metrô – sintetiza o sentimento da comunidade, que se preocupa principalmente com a qualidade dos novos veículos e com as estrutura que está sendo implantada para a circulação dos carros.

A reestruturação do sistema parece estar atrasada, com muitos canteiros de obras espalhados pelo bairro, dizem os moradores. Segundo o diretor da Associação dos Moradores de Santa Teresa (Amast), Álvaro Braga, existe um certo receio quanto a questões não esclarecidas pelo governo, como a substituição dos dormentes de madeira por lajes de concreto. “Estamos muito preocupados com a qualidade da obras, principalmente os trilhos, que estão sendo colocados com uma técnica nova, sendo fixados com parafusos nessa laje."

De acordo com Braga. isso pode dificultar, por exemplo, a descoberta da origem de determinados vazamentos de água, já que a laje vai impedir o acesso ao subsolo. "Santa Teresa fica a 90 metros de altitude e tem muitas ruas que são de encosta. Isso gera muito medo aos moradores, porque possíveis vazamentos podem prejudicar a estrutura dos imóveis”, ressaltou.
 

O governo do estado informa que o primeiro trecho a entrar em operação abrange as ruas Joaquim Murtinho e Francisco Muratori até o Curvelo e tem cerca de 1,3 quilômetro de extensão. Até o fim do ano, 14 novos bondes deverão ser entregues, representando investimento total de cerca de R$ 100 milhões.

Inicialmente, o tradicional meio de transporte de Santa Teresa seria devolvido à população em junho deste ano, mas a entrega acabou sendo adiada para o início do segundo semestre. Após exatos três anos, o bairro terá de volta os bondes, parados desde agosto de 2011, quando um deles descarrilou. No acidente, seis pessoas morreram, incluindo o motorneiro, e 50 ficaram feridas.

“Nos pequenos trechos que vão ficando prontos, as calçadas não têm mais meio-fio, a rua está mais alta do que a calçada, colocando a vida das pessoas em risco. Outra grande preocupação é com os novos bondes. A empresa que está cuidado da construção deles [TTrans] foi a responsável por bondes entregues em 2006. Após o acidente, as autoridades condenaram esses bondes. Nós temos o direito de suspeitar dos novos bondes e de exigir mais transparência da Secretaria de Estado da Casa Civil”, afirmou Braga.

Para ele, o bonde não pode ser transformado em algo puramente turístico. “O turista é muito bem-vindo, mas queremos um transporte de qualidade, porque ele é exatamente isso: um meio de transporte público. O bonde é patrimônio histórico e afetivo da população. Existe metrô turístico?”, questionou o representante dos moradores do bairro.

O governo do Rio informou, em nota, que entregará um sistema reestruturado de bondes, “substituídos integralmente por modelos originais do sistema, assim como a rede aérea, em aproximadamente 10,5 quilômetros de traçado”. Segundo a nota, a subestação de energia, a oficina e as paradas serão reformadas e as operações no trecho entre as estações Dois Irmãos e Silvestre, restabelecidas.

A nota diz ainda que as concessionárias de serviços públicos também estão fazendo a troca dos sistemas de água, gás e drenagem para melhor atender aos moradores. Um dos bondes já está pronto e passa por testes na fábrica da TTrans, em Três Rios, no centro-sul fluminense e dois estão em fase de montagem. Os demais ainda entrarão na linha de produção.