Júri de Luiz Pedro será concluído com debates
O juiz Jonh Silas da Silva suspendeu a sessão de julgamento do ex-cabo da Polícia Militar Luiz Pedro da Silva, iniciado na manhã desta quarta-feira (23). A suspensão ocorreu após pedido do representante do réu, o advogado José Fragoso, que estava sofrendo de pressão alta no momento.
Foram ouvidos hoje todas as testemunhas e o réu. O júri popular conduzido pela 8ª Vara Criminal da Capital terá sequência amanhã, a partir de 8h, quando acontecerão os debates entre o Ministério Público (MP/AL) e a defesa.
De acordo com as testemunhas de acusação, o servente de pedreiro Carlos Roberto Rocha Santos, o Beto, foi sequestrado de sua casa e executado no dia 12 de agosto de 2004, por homens conhecidos por trabalhar para o então deputado Luiz Pedro da Silva.
Alessandra Cristiana da Silva, a esposa, foi ouvida por videoconferência, porque saiu de Maceió após sofrer ameaças. Ela, que estava grávida na época do crime, afirma que Beto não tinha inimizades, a não ser com duas pessoas ligadas a Luiz Pedro.
Carlos Roberto teria se recusado a ser revistado por um segurança do réu, de nome Walter Paulo. “Você não é polícia, é chumbeta de Luiz Pedro”, teria dito a vítima. Segundo os relatos, Beto também se desentendeu com Rogério de Menezes, então presidente da associação de moradores do conjunto em que morava. Roberto teria o impedido de tomar de si uma cerveja.
Alessandra disse ter convicção de que Luiz Pedro foi o mandante do crime e fez um apelo aos jurados. “Eu venho me arrastando há 11 anos. Eu não vi as minhas filhas crescerem. Pelo amor de Deus, chegou a hora de fazer justiça, chega de impunidade”, afirmou, ao explicar que vive sob constante medo desde o assassinato. Ela chegou a ser inserida no Programa de Proteção à Testemunha, mas o Estado entendeu posteriormente que não havia mais necessidade.
Pai da vítima
Para Sebastião Pereira dos Santos, pai da vítima, “o pessoal de Luiz Pedro” é temido pela comunidade, age como polícia e tem a certeza da impunidade. Ele afirmou que o ex-cabo chegou visitá-lo após o crime, para sondar o quanto Sebastião sabia sobre o homicídio.
“Minha vida desmoronou por completo. Perdi a minha liberdade. Não posso sair para onde quero. Vivo muito preocupado com meus filhos. Além de ter perdido o meu filho, perdi a minha esposa, que não suportou o sofrimento e entrou em depressão. Minha filha está desempregada, desistiu de estudar, com medo do bando do senhor Luiz Pedro”, relatou, em juízo.
Segundo as testemunhas, outro possível motivo atribuído para o crime é o fato de a vítima ser usuária ocasional de maconha, o que não é admitido por Luiz Pedro nos conjuntos em que tem controle.
“Era um jovem excelente, que tinha os seus vícios, mas que respeitava todo mundo e não criava problemas”. “Nas terras onde o Luiz Pedro 'toma' e faz conjunto, os capangas dele podem usar droga, mas os moradores não”, disse Josenildo Vieira, então vizinho da vítima.
Defesa
A testemunha Walter Paulo afirmou que nunca teve nenhum desentendimento com Roberto. Asseverou que o ex-policial foi informado sobre o crime pelos próprios executores, momento em que se irritou e disse que não mandou que fizessem isso.
De acordo com Walter, Luiz Pedro não é temido pelas comunidades dos conjuntos, mas sim querido, por ajudar as pessoas a construir casas e doar coisas como botijões de gás, alimentos e dinheiro.
A testemunha Laércio Pereira de Barros, que foi condenado a 25 anos de reclusão pelo crime, reafirmou que é mesmo um dos executores do homicídio. Mas a morte teria sido encomendada pelo dono de um mercadinho, chamado Gilson. Os outros condenados – Adézio Rodrigues Nogueira, Náelson Osmar Vasconcelos de Melo e Leone Lima – não teriam relação com o crime, segundo essa versão.
Luiz Pedro
O réu corroborou a versão de Laércio. Os executores, segundo soube, foram homens identificados como Genivaldo Ferreira (“Godzilla”), Márcio, Marinho e Laércio. Luiz Pedro disse que não conhecia Roberto, nem nunca o viu.
Ele alegou que foi à casa de Sebastião para oferecer a oportunidade de que o pai da vítima fizesse o reconhecimento, entre seus funcionários, dos supostos assassinos. O então deputado também teria procurado o delegado da região para que o crime fosse devidamente investigado.
Luiz Pedro assegurou que não cuida da segurança dos conjuntos, trabalho que ele reconhece ser da polícia. Também garantiu que é, documentadamente, dono de todos os terrenos onde foram construídos os 6 conjuntos que levam seu nome, além do que ainda está sendo construído. Ele afirma que comprou algumas áreas e outras recebeu por doação.
Segundo o réu, os conjuntos são mantidos com uma contribuição de R$ 30 cobrada para o fornecimento de água, feito de forma independente da Companhia de Abastecimento de Alagoas (Casal). Os complexos habitacionais contam com quadras esportivas, postos de saúde e escolas, tudo construído com recursos de Luiz Pedro e mesmo mantidos por ele, em alguns casos, conforme relatou.
“Esses comentários de que eu ando mandando matar... matar o quê? Um homem que vive construindo, como eu... Já construí 8200 casas e estou construindo mais 1200. Pode perguntar a esse povão todo aí, pra ver se sai uma vírgula”, disse o acusado, apontando para as dezenas de apoiadores que assistiam ao julgamento, uniformizados.
“Eu não sou santo. Fui delegado linha dura. Ia buscar traficante e estuprador onde estivesse”, ponderou Luiz Pedro. “E levava pra onde?”, indagou o magistrado Jonh Silas. “Prendia. Levava pra cadeia”.