FPI do São Francisco recupera animais resgatados; vídeo de resgate viraliza
Quatro filhotes de Periquitos-da-Caatinga abrem o bico pedindo comida. Numa situação natural, a mãe mastigaria o alimento e dava de comer para as crias. No entanto, quem alimenta os pássaros famintos é um dos técnicos da FPI do São Francisco, que há poucos dias resgatou-os do comércio clandestino de animais no Município de Delmiro Gouveia.
Entre o resgate e a soltura das espécies silvestres, ocorre uma das etapas mais importantes da recuperação da fauna local: a triagem e o tratamento dos animais. Nenhum deles é solto sem a certeza de estar apto para retornar ao seu habitat.
Para garantir o atendimento imediato dos animais resgatados, a equipe fauna da FPI do São Francisco conta com médico-veterinários, biólogos, ambiente de triagem, medicamentos e itens de biossegurança, que também correspondem a equipamentos de proteção individual. Com essa estrutura, vidas foram salvas e preparadas para a liberdade.
O coordenador da equipe fauna e biólogo Marcos Araújo foi o responsável por alimentar os filhotes de Periquitos-da-Caatinga, que se encontravam numa espécie de berçário.
"Nós os resgatamos bem debilitados quando se encontravam juntos a outros pássaros numa caixa sufocante. Como devem ter apenas 15 dias de vidas, eles não conseguem comer grãos ou frutas, daí preparamos uma pasta com alimentos ricos em vitaminas, proteínas e carboidratos para que sobrevivam", relata Marcos.
O médico-veterinário Isaac Albuquerque explica que a nutrição dos filhotes tem por finalidade a termorregulação: "A ausência de penagem desequilibra a temperatura interna deles, que acaba compensada pela queima energética da comida. Os pequenos também devem ser alimentados de três em três horas".
Estágio na FPI
E não acaba por aí. Desde edições anteriores do programa de fiscalização integrada, estudantes do curso de Medicina-Veterinária do Centro Universitário Cesmac acompanham o trabalho da FPI do São Francisco por meio da equipe fauna.
Um deles é o estudante Artur Carlos Alves, do sétimo período, que já vai na sua segunda edição. Ele descreve como a FPI tratou da Siriema, uma ave de grande porte natural do Sertão.
"Primeiro avaliamos o animal por inteiro e, depois, ponto por ponto, para ver, por exemplo, se há algum machucado no bico ou nos olhos. No caso da Siriema, as penas das asas e da cauda estavam bastante danificadas, provavelmente pelo transporte inadequado na gaiola. O pássaro também está com uma fratura calcificada em uma das patas, que o impede de voltar para natureza", disse o estagiário, explicando que o animal será encaminhado para o Centro de Triagem de Animais Silvestres.
Quem estreou no estágio foi a estudante Isabela Fireman, do terceiro período do curso de Medicina-Veterinária, após passar por uma prova de seleção.
"Eu e minha família ficamos muito felizes com a oportunidade de participar da FPI. Aqui eu aprendo a alimentar e manejar os animais sem machucá-los, principalmente quando eles estão com problema físico e até psicólogico. Alguns deles chegam estressados por conta das gaiolas", falou a estudante.
Comércio legal
Criar um animal silvestre ou exótico não é proibido. A depender do caso pode até ser incentivado, como explica o médico-veterinário Epitácio Correia, que está na FPI pelo Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA).
"Os animais exóticos podem ser adquiridos por qualquer pessoa sem uma licença específica. Mas a aquisição e comercialização dos silvestres passa por criadores legais, nos termos da Instrução Normativa n° 10/2011, que também é fiscalizada pelo IMA", afirma Epitácio.
Ele alerta que o grande problema da criação das espécies silvestres encontra-se no comércio clandestino. Segundo eles, o "mercado negro" retira de quatro a cinco milhões de animais de seus biomas originais todos os anos, matando a imensa maioria por conta de maus-tratos, em especial, durante o transporte.
"Hoje os criadores legalizados têm uma importância muito grande na reprodução das espécies e na preservação do banco genético. Quem adquire um animal junto a eles, passa a ser também um protagonista na defesa da fauna, pois incentiva os amantes de pássaros, répteis e outros a procurarem o comércio legal antes de começar a cuidar de um bicho", completa o médico-veterinário.
Epitácio lembra que o IMA possui um manual destinado ao criador amador de passeriformes da fauna silvestre nativa.
Soltura de pássaros
Até a manhã desta terça-feira, o vídeo já havia alcançado cerca de 11 milhões de pessoas, com 4,4 milhões de visualizações, 99 mil compartilhamentos, 37,3 mil curtidas e quase cinco mil comentários.
"Tal repercussão diante do público mostra que estamos no caminho certo na defesa do meio ambiente, ainda mais quando se trata da recondução dos animais silvestres para o bioma original. Trata-se não só de um trabalho sério, mas também continuado que beneficiará as presentes e futuras gerações", comemoram os promotores de Justiça Lavínia Fragoso e Alberto Fonseca, coordenadores da FPI do São Francisco.