Mundo

Medidas de Trump contra refugiados e muçulmanos geram protestos e críticas

Por Redação com Agência Brasil 29/01/2017 11h11
Medidas de Trump contra refugiados e muçulmanos geram protestos e críticas
Homem protesta em terminal do aeroporto John F. Kennedy, em Nova York - Foto: Reuters

A aplicação do decreto anti-imigração assinado na sexta-feira (27) pelo presidente Donald Trump provocou diversas manifestações de repúdio nos Estados Unidos e reações críticas de vários países e lideranças políticas.

A chanceler alemã Angela Merkel considera que não são "justificadas" as medidas de restrição à imigração adotadas nos Estados Unidos por Donald Trump. "Ela está convencida que mesmo no âmbito da luta indispensável contra o terrorismo, não é justificado suspeitar de maneira generalizada as pessoas em função de sua origem ou crença", disse o porta-voz Steffen Seibert, citado neste domingo (29) pela agência de notícias DPA.

No comunicado, a chanceler lamenta a proibição da entrada no país pelo governo americano adotada contra os refugiados e cidadãos de alguns países. O governo alemão disse que vai "avaliar as consequências" da medida para pessoas que tenham a dupla cidadania alemã e de alguns dos países afetados pelo decreto.

A declaração da chanceler é feita no dia seguinte ao contato telefônico que a líder teve com o presidente americano. O comunicado emitido após a conversa não menciona as novas restrições impostas pela Casa Branca.

Depois de ter sido muito criticada pela recusa em comentar a decisão do governo americano, a primeira-ministra britânica Theresa May, que esteve reunida durante a semana com Donald Trump, se posicionou neste domingo sobre o decreto anti-imigração.

"A política de imigração dos Estados Unidos diz respeito ao governo dos Estados Unidos, da mesma maneira como a nossa deve ser fixada pelo nosso governo. Mas não estamos de acordo com esse tipo de abordagem", declarou um porta-voz de Downing Street. Londres afirma que irá "intervir junto ao governo americano" se a política de imigração tiver um impacto sobre os cidadãos britânicos.

No entanto, um parlamentar britânico conservador, do mesmo partido de Theresa May, indicou que não poderá entrar nos Estados Unidos. Nadhim Zahawi afirmou pelo Twitter que o decreto se aplica também a ele e sua esposa, que são nascidos no Iraque, apesar de terem o passaporte britânico. A revelação poderá criar um incidente diplomático.

Sem comentar diretamente o decreto do presidente Trump, o governo canadense reforçou sua política de "braços abertos" aos refugiados para marcar sua diferença com o país vizinho.

"A todos que fogem de perseguições, do terror e da guerra, saibam que o Canadá vai acolhê-los independentemente de sua fé", tuítou Trudeau no sábado. "A diversidade faz nossa força", completou com a hashtag .#WelcomeToCanada (Bem vindo ao Canadá). Ele acrescentou que a medida visa a lutar contra o "terrorismo radical islâmico".

Reações de países atingidos

O Iraque, na lista dos sete países de maioria muçulmana proibidos de entrar nos Estados Unidos, deverá pedir ao governo Trump para atenuar as consequências do decreto anti-imigração. Dois influentes deputados que pediram anonimato consideram que a decisão poderá ter impacto negativo na luta contra os jihadistas do grupo Estado Islâmico.

A Comissão Parlamentar das Relações Exteriores pediu para o governo adotar medidas similares contra os americanos. Um dos representantes da comissão disse à agência Reuters que o país está na linha de frente contra o terrorismo e " é injusto que os iraquianos sejam tratados desta maneira". Bagdá ainda não reagiu de maneira oficial à decisão de suspender por 90 dias a entrada de cidadãos do Iraque e de outras seis nações de maioria muçulmana, além dos refugiados.

O governo iraniano, que anunciou no sábado a adoção de uma medida de reciprocidade contra os Estados Unidos, confirmou que os americanos que possuem um visto poderão entrar no país. A diplomacia de Teerã esclareceu que, diferentemente dos Estados Unidos, a decisão não é retroativa.

Ongs de defesa de direitos civis e especialistas esperam "guerra nos tribunais"

Aplicado no sábado, no dia seguinte à assinatura pelo presidente Trump em uma cerimônia no Pentágono, o decreto anti-imigração entrou na mira de diversas associações de defesa dos direitos civis.

A influente ACLU foi uma das que entraram no sábado com uma queixa no tribunal federal do Brooklyn (Nova York) para pedir a suspensão das deportações de estrangeiros visados pelo decreto mas com vistos para entrar no território americano.

A ação coletiva, que conseguiu a liberação de dois iraquianos bloqueados no Aeroporto JFK de Nova York, foi feita em nome de todos os migrantes que podem ser interpelados nos aeroportos americanos. Uma manifestação foi convocada no terminal onde estavam detidos os iraquianos e reuniu mais de 2 mil pessoas, que pediram com palavras de ordem e cartazes sua liberação.

Protestos também foram realizados nos aeroportos de Dulles, perto de Washington, Chigago (norte), São Francisco (oeste), Los Angeles (sudoeste),  Dallas (sul), entre outras cidades.

Camille Mackler, responsável jurídica da New York Immigration Coalition, indicou que a ONG estava preparada para uma mobilização em defesa dos imigrantes, mas não esperava que a aplicação do decreto iria ser tão rápida, surpreendendo passageiros embarcando para os Estados Unidos ou entrando no país.

Especialista de direito na Universidade de Nevada, Michael Kagan indica que a batalha nos tribunais contra o decreto "será longa" e imprevisível pois “não há precedentes na história recente dos Estados Unidos”.