Desempenho no segundo dia do Enem é decisivo na nota final
Dados indicam que bom resultado em matemática aumenta chances
A realização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em dois domingos pela primeira vez este ano deu mais tempo aos candidatos para estudar, mas também uma semana a mais de ansiedade. O recado dos professores é tentar esquecer o rendimento do primeiro dia e focar nos esforços para o segundo.
Como um incentivo a mais, educadores chamam a atenção que as provas marcadas para domingo (12) - Matemática e Ciências da Natureza - são as que tiveram o maior intervalo entre as maiores e menores notas na última edição do Enem. Se o padrão se repetir, isso significa que há mais pontos em disputa no segundo dia, já que o método de avaliação do Enem considera o desempenho dos próprios candidatos para calibrar a nota final.
"Vemos estatisticamente que, quando o candidato vai bem em Matemática, cria uma vantagem maior. Consegue, de certa forma, reverter pontos perdidos em Humanas. A Matemática é vista como a grande vilã pelos estudantes, mas pode se tornar uma grande aliada no Enem para quem se dedicou a estudá-la" afirma Daniel Jacuá, coordenador pedagógico do Eleva Educação.
A disparidade entre notas se dá porque o Enem não trabalha com os resultados tradicionais, aqueles que vão de zero a dez. O exame utiliza a Teoria de Resposta ao Item (TRI), que avalia o comportamento do candidato em todo o teste. Assim, as provas também refletirão a média dos padrões observados nos estudantes.
Com poucos alunos com resultados excepcionais (ou seja, acertando todas as questões fáceis, boa parte das médias e algumas difíceis) e muitos com desempenho abaixo das médias mais baixas das outras matérias, a Matemática se destaca como um diferencial em relação às outras disciplinas. A nota máxima desta prova é sempre maior do que as outras, pois reflete o distanciamento deste “grupo de elite” perante a média nacional.
Assim, as notas das edições recentes do Enem permitem dizer que quem vai bem na prova de Matemática acaba se distanciando mais, em pontos, dos potenciais adversários na disputa por vagas nas universidades. Uma vantagem similar, embora mais sutil, também aparece nas Ciências da Natureza (Física, Química e Biologia).
"É por este motivo que o aluno tem que ter uma estratégia na hora de responder às perguntas. Priorizar as mais fáceis, mas não deixar as médias e difíceis de lado. Quando me perguntam se vale mais resolver uma difícil, digo que é melhor tentar resolver corretamente o máximo que você puder. Preencher de qualquer forma porque ficou sem tempo pode ser prejudicial", afirma Rodrigo Fraga, professor do colégio Andrews e da Faetec.
O professor se refere à escala de dificuldade da prova. O modelo do Enem prevê que, se um aluno erra uma questão de adição mas acerta uma de multiplicação, por exemplo, ele provavelmente chutou a última. Isso porque para resolver a segunda operação é necessário compreender a primeira. Quando isso ocorre, a pontuação que o candidato receberá pelo item suspeito de chute terá menor peso na sua nota final.
Chute deve ser evitado
"Vemos muitos chutes na prova de Matemática e Ciências da Natureza por falta de tempo para resolver todos os itens. Por isso é importante priorizar as questões fáceis. Dessa maneira, o aluno consegue garantir a base que se espera dele. Mesmo que acerte com um chute uma média ou difícil, a base do comportamento dele está dada com o acerto nas fáceis", analisa Gustavo Pinheiro, coordenador do Ênfase Um, colégio de Minas Gerais.
De qualquer forma, os candidatos não podem menosprezar as provas feitas no domingo passado. Algumas universidades dão peso maior para disciplinas de acordo com o curso que o estudante quer. Para Direito na UFRJ, por exemplo, a pontuação de Ciências Humanas e Linguagens tem peso maior.
"Apesar do número maior de pontos disponíveis na prova de Matemática, o estudante não pode relaxar nas outras. Mesmo que pense ter ido mal no primeiro dia, na verdade ele não sabe. Já houve candidatos que acertaram 15 e 25 questões e tiraram a mesma nota (por causa da metodologia). Também não pode ir para o segundo dia tranquilo, achando que já garantiu os pontos necessários. O espírito do “já ganhou” é muito relativo. São dois tempos de jogo", pondera Jacuá.