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Mais antigo dinossauro pescoçudo é brasileiro, dizem pesquisadores

Fósseis do Macrocollum itaquii foram achados em Agudos (RS) e estudados por brasileiros

Por Folha de S. Paulo 20/11/2018 21h09
Mais antigo dinossauro pescoçudo é brasileiro, dizem pesquisadores
Fósseis do Macrocollum itaquii foram achados em Agudos (RS) e estudados por brasileiros - Foto: Reprodução/Folha de S. Paulo

A linhagem de dinossauros enormemente pescoçudos à qual pertencia o icônico brontossauro tem como seu mais antigo representante um gaúcho de 225 milhões de anos, afirmam os pesquisadores brasileiros que descobriram três esqueletos quase completos do bicho.

O pescoço comprido, aliás, é que inspirou o nome científico do animal: Macrocollum itaquii (do grego “makrôs” = grande e do latim “collum”, pescoço). Trata-se de um sauropodomorfo, membro de um grupo também conhecido pela postura quadrúpede, que lembra a de elefantes, e pela predileção por plantas na dieta —embora os primeiros membros do grupo, inclusive algumas espécies do Rio Grande do Sul, tenham sido bípedes e consumido alimentos mais variados.

Oriundos do município de Agudo (RS), os fósseis foram estudados por Rodrigo Temp Müller e Sérgio Dias da Silva, da Universidade Federal de Santa Maria, e Max Cardoso Langer, da USP de Ribeirão Preto. O trio, que tem se destacado em pesquisas sobre as origens dos principais grupos de dinossauros, está publicando seus achados na revista científica britânica “Biology Letters”. Graças à completude dos fósseis, trata-se do dino brasileiro com a anatomia mais bem conhecida até agora.

Comparado aos gigantes que surgiram dezenas de milhões de anos depois dele, o Macrocollum é um bicho modestíssimo, medindo apenas 3,5 metros de comprimento. Os detalhes de sua anatomia, entretanto, revelam que uma pequena revolução evolutiva estava em marcha quando a espécie surgiu.

A primeira pista está, é claro, nas vértebras cervicais (do pescoço), que passaram por grande alongamento em relação às formas mais primitivas do grupo, como o Buriolestes schultzi, também uma espécie gaúcha. Em sua porção central, elas têm comprimento seis vezes maior do que sua altura, enquanto no B. schultzi o comprimento dessas vértebras é só 2,5 maior que a altura.

O crânio é relativamente pequeno – mede só metade do tamanho do fêmur – e frágil, outra característica que acabaria se tornando típica dos sauropodomorfos que viriam depois. Já os dentes têm traços que favoreceriam uma dieta herbívora ou onívora (complementando as plantas com animais pequenos, por exemplo).

Como explicar esse conjunto de detalhes anatômicos? Pode-se dizer que os paleontólogos apostam num processo de “girafização” dos bichos – eles estariam adotando cada vez mais um estilo de vida não muito distinto do das girafas modernas.

Graças à datação precisa das rochas do interior do Rio Grande do Sul, eles sabem que o fenômeno ocorreu paulatinamente, entre 233 milhões e 225 milhões de anos atrás. Nesse intervalo, o pescoço dobrou (proporcionalmente) de tamanho, permitindo que o Macrocollum alcançasse folhas cada vez mais altas nas árvores (o que também explicaria a dentição mais especializada para o consumo de vegetais).

O tamanho geral dos bichos também aumentou 230%, e eles foram perdendo os hábitos ditos cursoriais – ou seja, deixaram de ser corredores, o que era comum entre os dinos mais primitivos. Já o crânio diminuto talvez seja resultado do que os biólogos chamam de crescimento alométrico – quando uma linhagem de animais muda de tamanho, certas partes do corpo crescem ou diminuem em proporções diferentes, o que parece ter sido o caso da cabeça do Macrocollum (e mais ainda entre os sauropodomorfos que vieram depois).

Outra pista importante sobre os hábitos da criatura vem do fato de que três esqueletos foram preservados juntos, indicando uma possível vida em manadas. Isso também é bastante estudado no caso de espécies mais recentes do grupo, as quais, inclusive, botavam seus ovos em grandes ninhais e talvez viajassem juntos de modo a proteger seus filhotes de predadores.

Enquanto o primeiro pescoçudo viveu na aurora da Era dos Dinossauros, outra espécie brasileira recém-descrita é um superpredador do fim desse período, com nome de vilão dos quadrinhos e do cinema. O Thanos simonattoi, batizado em homenagem ao inimigo extraterrestre dos Vingadores da Marvel, teria alcançado até 6,5 metros de comprimento, segundo os responsáveis por descrever a espécie, Rafael Delcourt, da Unicamp, e Fabiano Vidoi Iori, do Museu de Paleontologia Pedro Candolo.

O Thanos vem do município de Ibirá, na região de São José do Rio Preto (SP), e tem cerca de 85 milhões de anos. A espécie foi descrita, em artigo na revista científica Historical Biology, com base numa única vértebra do pescoço do bicho – pouco, mas suficiente para identificar que se trata de um animal diferente de todos os demais dinossauros carnívoros conhecidos. Ele pertencia ao grupo dos abelissaurídeos, caracterizados por grandes crânios ornamentados (alguns deles tinham chifrinhos). Lembravam vagamente os famosos tiranossauros.