Saúde

Alerta de surto de dengue foi dado à prefeitura de Arapiraca desde janeiro, dizem agentes

Anselmo Santos afirma que medidas preventivas deveriam ter sido adotadas meses atrás

Por 7 Segundos 28/05/2019 19h07
Alerta de surto de dengue foi dado à prefeitura de Arapiraca desde janeiro, dizem agentes
Hospital Regional superlotado com casos de suspeita de dengue - Foto: Divulgação

O grande volume de pessoas com sintomas de dengue, zika e chikungunya que lotam os postos de saúde, o 5º Centro e o Hospital Regional não deveria surpreender os gestores de Saúde da prefeitura de Arapiraca. A possibilidade de epidemia das doenças provocadas pela picada do mosquito Aedes aegypti em 2019 era previsível, de acordo com o presidente do Sindicato dos Servidores Públicos Metropolitanos, Anselmo Santos, que atua junto aos agentes de endemias na cidade.

"Desde o início do ano venho alertando para a possibilidade de uma epidemia de dengue. A cada três anos temos um período propício para epidemia da doença e quem atua na área de saúde sabe que 2019 havia esse risco. Mas o trabalho preventivo, que deveria ter começado em janeiro, só iniciou agora, quando a situação chegou neste ponto", afirmou Anselmo Santos.

Segundo ele, se ações preventivas, como mutirões nos bairros, trabalho de conscientização junto aos moradores, tivessem sido antecipadas para o começo do ano, a quantidade de pessoas doentes hoje seria bem menor, já que a população teria iniciado mais cedo os cuidados preventivos dentro de casa. "O controle da dengue é feito em duas frentes: evitando a proliferação do mosquito e cuidando dos doentes, para evitar que eles sejam picados pelo Aedes aegypti e espalhem o vírus. Quando não há muitos doentes para cuidar, o combate ao foco do mosquito é muito mais fácil", declarou.

Conforme Anselmo Santos, até mesmo os mutirões que estão sendo realizados nos bairros nas últimas semanas podem não estar surtindo o efeito esperado. De acordo com ele, não adianta colocar os agentes de endemias, os agentes de saúde e as equipes das unidades para fazer caminhadas nos bairros sem um trabalho de integração. "É necessário fazer mais divulgação, envolver as associações, fazer com que as pessoas saibam que naquele dia o mutirão vai passar na casa delas. É necessário envolver outras secretarias na ação, para que a Eleva participe, fazendo o recolhimento dos entulhos", disse.

A questão dos entulhos, de acordo com o sindicalista, merece cuidados à parte. Como morador do bairro Guaribas, ele conta que encaminhou à prefeitura um requerimento solicitando a retirada de lixo acumulado em frente ao cemitério Santo Antônio, mas, mesmo assim, a montanha de lixo só aumenta a cada dia. "Chegou a hora de agir de verdade. Acabar com o acúmulo de entulho é essencial no combate à dengue. Claro que não adianta a prefeitura limpar e as pessoas continuarem jogando no local. Mas, por que a prefeitura não aplica a lei e multa quem joga entulho no local inadequado? Acho que muita gente viu, nos últimos dias, uma foto tirada do caminhão de um supermercado despejando lixo. Mas nada é feito em relação a isso", afirmou.

Conforme o sindicalista, apesar de algumas dificuldades, os agentes de endemias estão conseguindo fazer o trabalho de visita às residências, orientação dos moradores e aplicação de produto nos reservatórios de água.  Segundo ele, o Ministério da Saúde afirma que o intervalo de tempo entre as visitas dos agentes de endemias deve ser de 90 dias, mas aqui em Arapiraca esse ciclo é de 60 dias, em média. E nem mesmo um déficit estimado de 10 a 15 agentes comunitários de endemias - considerado mínimo - não prejudica no cumprimento desse ciclo.

"Não falta material para trabalhar no combate ao foco do mosquito da dengue, mas faltam outras coisas básicas, como fardamento, crachá, fichas de registro das visitas para colar na parede. Coisas simples, mas que fazem uma grande diferença no dia a dia de trabalho dos agentes", declarou.

CONTINGÊNCIA

O sindicalista demonstrou preocupação com o plano da prefeitura para conter a epidemia da dengue e cuidar dos coentes em Arapiraca. Segundo ele, um plano de contingência que deve ser discutido na próxima reunião do Conselho Municipal de Saúde, prevê que as Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município reduzam a quantidade de consultas eletivas, que atendem pacientes crônicos com hipertensão e diabetes, e ainda o atendimento a gestantes, crianças e idosos, para que os médicos possam atender a demanda dos pacientes que chegam com os sintomas de dengue, situação que já é realidade em alguns postos de saúde, como o que atende a comunidade no bairro Verdes Campos.

Um dos objetivos da medida é evitar que essas pessoas procurem atendimento médico no 5º Centro de Saúde e no Hospital Regional, que estão com dificuldade de atender o grande volume de casos. 

"Como diz aquele ditado: não adianta 'cobrir um santo e descobrir outro'. Não pode penalizar aqueles pacientes que necessitam do acompanhamento médico nos postos, por conta da dengue. Na situação atual de Arapiraca, a prefeitura poderia decretar situação de emergência na Saúde. Poderia dar a mão à palmatória e aceitar ajuda para controlar a doença. Com o decreto, o município poderia contratar equipes extras para trabalhar nas UBS atendendo os pacientes com dengue, especialmente as principais, dos bairros Nossa Senhora Aparecida, Bom Sucesso e Planalto, que acumulam a maior quantidade de casos", declarou.