Conselheiros tutelares alegam ser alvo de "perseguição política" e acionam MP e Defensoria
Eles rebatem entrevistas concedidas pela secretária de Assistência Social, Anadja Gomes
Uma suposta agressão a uma criança dentro de uma creche da rede municipal de Arapiraca, ocorrida no último dia 12, poderá influenciar o resultado das eleições para o Conselho Tutelar, que acontece no primeiro domingo de outubro. Dois integrantes do atual conselho que disputam a reeleição, Edney Vieira e Lázaro Lopes, acusam a secretária de Assistência Social do município, Anadja Gomes, de aproveitar o caso para fazer "perseguição política" e prejudicá-los na disputa. A situação já foi encaminhada ao Ministério Público e à Defensoria.
Tudo começou após o Hospital de Emergência do Agreste informar aos pais da criança, que havia sido levada ao local para avaliação médica, que o atendimento hospitalar não seria acompanhado pelo Conselho Tutelar, porque os carros do órgão estavam sem combustível, na noite de quinta (12). No dia seguinte, a informação chegou à imprensa e os veículos de comunicação passaram a questionar o Conselho Tutelar e a prefeitura sobre a falta de combustível.
A secretária de Assistência Social, Anadja Gomes, concedeu entrevistas isentando o município sobre o problema e afirmando que os conselheiros já responderam a processos administrativos por uso indevido de combustível. Nas entrevistas, ela explicou que os veículos do Conselho Tutelar são abastecidos três vezes por semana com 20 litros de combustível, e que, em caso de necessidade, mais abastecimentos podem ser autorizados.
"Eu não vejo como dizer que não foi atendida a ocorrência por contas do município. E tem outra questão. Esse não era o momento para se falar sobre isso, mas é importante que todos saibam que os dois conselheiros em questão, não sei qual a motivação deles, já sofreram inquérito administrativo por conta do uso indevido do combustível. Não posso responder sobre isso, porque a Secretaria de Gestão é responsável pelos inquéritos administrativos. Onde há recursos, sempre há possibilidade de haver equivocos e a situação chegou ao ponto de uma mãe de família não conseguir a devida atenção na hora em que foi requisitada na Unidade de Emergência", afirmou Anadja Gomes, se referindo a Edney Silva e Lázaro Lopes, e afirmando ainda que tem cópias de documentos que comprovariam que não havia problemas de falta de combustível.
O conselheiro tutelar Edney Vieira afirma que ele e Lázaro Lopes estão sendo alvo de "perseguição política" para evitar que sejam eleitos mais uma vez para o Conselho Tutelar. Ele explica que a perseguição pode estar relacionada ao fato de ele ser autor de uma ação popular que acusa o prefeito Rogério Teófilo (PSDB) de improbidade administrativa, que está em tramitação na 4ª Vara de Arapiraca e afirma que, possívelmente por conta disso, pode estar sendo alvo de mentiras.
"É lamentável que uma gestora de uma pasta tão importante como a Assistência Social se dispor a esse papel de ir para os veículos de comunicação mentir descaradamente. Ela fez acusações mentirosas contra a gente. Já comunicamos isso ao Ministério Público e Defensoria. Fomos eu, o conselheiro Lázaro e o motorista, que foi aprovado no PSS e por isso não deve a cabeça a ninguém. O motorista se dispôs a nos acompanhar e a falar a verdade", afirmou.
Nas entrevistas concedidas por Anadja Gomes, ela afirmou que os veículos do Conselho Tutelar poderiam ser abastecidos até às 15h e que, no dia da ocorrência na creche municipal, Lázaro Ramos teria comunicado em um aplicativo de mensagens que o veículo do CT estava na reserva perto das 16h, quando não tinha como levar para o posto para abastecer. Edney Vieira afirmou que, apesar de o veículo estar na reserva de combustível, foi fazer um atendimento no Cria.
"Ligaram da Assistência [Social] pedindo o carro para o outro conselho fazer atendimento, porque o carro deles estava na oficina. Expliquei que também estava em atendimento e que o carro já estava na reserva, com o ponteiro colado já. O motorista até deixou o carro estacionado na frente do conselho, em vez de levar para casa como costuma fazer porque fica de sobreaviso em decorrência dos plantões, porque ficou com receio de não ter combustível suficiente para chegar ao posto depois", conta Edney Silva.
Ele afirmou que, naquela noite, era o plantão dele, mas o Hospital de Emergência entrou em contato com Lázaro Ramos, que estava ciente da situação e, por isso comunicou que o Conselho não poderia acompanhar o atendimento naquela noite. "Mas isso não significa que o Conselho Tutelar não atuou no caso. No dia seguinte, o colegiado fez todo os procedimentos necessários, acompanhou a criança e os pais dela. A criança foi levada para fazer exame de corpo de delito e agora estamos aguardando o laudo do IML e as investigações da polícia", disse.
Edney Vieira afirma que não foi a primeira vez que foi alvo de perseguição por parte da administração municipal. O conselheiro confirmou que foi alvo de processo administrativo e que chegou a ser afastado das atividades do Conselho. "O processo administrativo que a secretária fala realmente aconteceu, mas ele não tem relação nenhuma com o uso de combustível e nem uso indevido do casso. Também não é verdade que fiquei oito meses afastado, como estão dizendo. Foram três, no decorrer do processo do qual no final eu fui absolvido. O processo aconteceu por conta de um desentendimento do colegiado, provocado por perseguição política, tanto que no final foi provada a minha inocência e eu fui absolvido. A gestora falou tudo aquilo para tirar a responsabilidade das costas dela", disse.
Segundo o conselheiro, a postura dele e de Lázaro Ramos há muito tempo vem incomodando a administração municipal. "Quando a imprensa procura a gente fala, a gente sempre abriu a boca mesmo, sem colocar panos quentes. O que tem de errado na gestão a gente fala, a gente critica, a gente cobra a gestão e, por isso, somos vistos como as ovelhas negras do conselho. Por isso, eles querem a todo custo derrotar a gente, por isso todo esse reboliço contra nós", ressaltou.
O 7Segundos entrou em contato com a assessoria de comunicação da prefeitura de Arapiraca, que informou que a secretária Anadja não vai responder às declarações e encaminhou a seguinte nota:
NOTA - PREFEITURA DE ARAPIRACA
A Prefeitura de Arapiraca, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, informa que o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) também está apurando o suposto caso de agressão a uma aluna da Rede Municipal de Educação.
Sobre a falta de combustível no carro do Conselho Tutelar Região 2, na quinta-feira, a secretaria informa que a notícia é falsa, pois o abastecimento segue um cronograma estabelecido pelo Município.
De acordo com o controle interno da Secretaria, o veículo estava abastecido na quinta-feira à noite, o que permitiu inclusive que na sexta-feira pela manhã fossem cumpridas outras demandas sociais com esse mesmo veículo, necessitando apenas ser reabastecido na sexta, às 13h.