Saúde

Arapiraquenses devem começar a adotar medidas de prevenção para o Coronavírus

O Portal 7 Segundos entrevistou a infectologista Vânia Pires que esclarece todas as dúvidas, mitos e verdades sobre o Novo Coronavírus

Por Taísa Bibi 13/03/2020 16h04
Arapiraquenses devem começar a adotar medidas de prevenção para o Coronavírus
Infectologista Vânia Pires - Foto: 7 Segundos

Nessa semana a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o Coranavírus como uma pandemia, ou seja enfermidade epidêmica amplamente disseminada. Apesar de estar bastante difundido, inclusive na capital alagoana, Maceió, na segunda maior cidade do estado, Arapiraca, pouco se fala sobre o assunto. O 7 Segundos entrevistou a infectologista Vânia Pires que esclareceu todas as dúvidas, mitos e verdades sobre o Novo Coronavírus.

Para a infectologista quando falamos em “uma pandemia é uma coisa que a gente começa a pensar que está fora de controle, que nós não temos controle. E já passou da época das pessoas pensarem nas medidas de prevenção”.

Coronavírus

“O Coronavírus, também chamado de Covid-19, é uma zoonose, é um vírus de aninal, que acidentalmente contaminou o homem, porque o homem não tem cuidado com o meio ambiente, com a saúde própria e nem do animal. Ele invadiu o espaço do animal e convive intimamente com ele na região da China. Provavelmente na China o animal que transmitiu foi o Pangolim, que é um animal silvestre semelhando há um tatu, que os chineses têm o hábito de se alimentar do animal”, explica Vânia Pires.

Outra zoonose que conhecemos é a raiva, doença de cães e felinos, e quando atinge o homem ela é agressiva, mas dificilmente vai ser transmitida para outro homem, “esse Coronavírus, diferente de outros vírus de décadas atrás, foi mais eficiente, conseguiu se adaptar ao homem a ponto de fazer o homem transmitir para outro homem. São características desse Coronavírus que a se a gente for pensar epidemiologicamente vamos ter coisas que conhecemos e outras que não sabemos o que pode acontecer, e só vamos saber ao longo do tempo”, alerta.

“Podemos falar uma coisa hoje e amanhã já ser diferente, porque tem coisas que não podemos prever, por exemplo, aqui no nosso clima não sabemos como o vírus vai se comportar. Sabe-se hoje que existem duas cepas do Novo Coronavírus circulando no mundo, uma mais agressiva e outra menos agressiva, e ninguém sabe qual a que está no Brasil” explica.

Transmissão e prevenção

A transmissão é feita através de gotículas salivas. “Não tem como o vírus ser transmitido conversando, porque é necessário que haja gotículas salivais para o contagio, há não ser que a pessoa converse cuspindo. É uma partícula maior, que para a prevenção basta a máscara cirúrgica, não é necessário a N95, que é para tuberculose, sarampo, ou se você vai fazer algum procedimento que vai pulverizar as gotículas salivais”, disse.

“Uma preocupação é com o dentista, porque ele está pulverizando, aspirando, ou um médico fazendo uma aspiração, coletando exame. Também já foi comprovada a transmissão para enfermeiros, através das fezes e urinas dos pacientes que estão sendo tratados com o Coronavírus”, completou.

Outra preocupação é nas igrejas, que as pessoas comungam, “o padre pega na hóstia com a mão, coloca na boca da pessoa, em seguida na de outra pessoa, e temos que estar alerta a esses cuidados”, acrescenta.

Chás, vinagres, entre outros, não são comprovados cientificamente que matam o vírus. “Temos que ter cuidado com essas fórmulas milagrosas, não podemos brincar. O que tem provado que mata o vírus é álcool gel 70% ou álcool líquido 700 e hipoclorito de sódio”.

“Por isso a preocupação de lavar as mãos, sempre ter o cuidado de tossir ou espirrar usando um lenço ou o cotovelo dobrado. Manter uma distância de 1 metro”, explica Vânia Pies.

Nem todos irão apresentar sintomas. “Sabemos que vamos ter um percentual de pessoas que vão ter o vírus e não vão apresentar sintomas, então por isso não devemos nos cumprimentar dando beijo, pegando na mão, porque não se sabe se essa pessoa colocou a mão na boca”.

“Então se você manter os cuidados básicos de lavar as mãos, e de distâncias entre as pessoas, você está se protegendo”, diz a especialista.

Outra dica é no caso de contato com portas e corrimãos em locais públicos, as pessoas devem logo em seguida higienizar as mãos, seja lavando com água e sabão ou utilizando álcool gel.  

Uso de máscaras

Quem deve usar máscara são os doentes, como explica Vânia Pires. “Se uma pessoa chega tossindo perto de você, você tem que dizer para a pessoa usar máscara, quem está doente é quem deve usar máscara. Se chegar um paciente no meu consultório médico tossindo, eu vou pedir para que ele use a máscara e eu vou fazer o atendimento sem máscara”.

A questão do uso de máscaras pelos imunossuprimidos é sim recomendando, mas só se estritamente necessário, em locais de grande aglomeração de pessoas, e inclusive esses tipos de pacientes devem evitar essas aglomerações. Porém o uso de máscaras pela população é questionável. “É até abolido as pessoas andarem de máscara para cima e para baixo. Porque as pessoas usam as máscaras, pegam nos corrimões, colocam no chão, tiram a máscara, e não lavam as mãos, não usam álcool gel. Então a máscara dá uma falsa ilusão de que você está protegido”.

“O grande problema que eu vejo hoje do Coronavírus é que uma doença de transmissibilidade rápida, maior do que a gripe, clinicamente não tem muita diferença, mas vai atingir muito mais pessoas. Na hora que ela abrange mais pessoas, ela atinge pessoas suscetíveis a terem a gravidade da doença”.

Quando devo procurar atendimento médico

Como o Covid-19 é uma espécie de gripe, há uma preocupação em saber como diferenciar, e quando é necessário buscar atendimento médico.

“O que tem determinado hoje pelo Ministério da Saúde, que pode mudar amanhã, é que já existem pessoas que estão com Coranavírus sem tem ido ao exterior, no Rio de Janeiro já são dois casos. Então já temos o vírus circulando no Brasil”, disse a infectologista.

“Já sabemos que 90% das pessoas contaminadas pelo Coronavírus, ou não vão ter nada ou vão apresentar um quadro parecido com um resfriado leve. 10% podem ter uma doença mais grave, com dificuldade respiratória, e um percentual ainda menor pode precisar de Terapia Intensiva, então 90% dos contaminados não vão precisar de leito de UTI”, explica.

Os idosos e imunossuprimidos são os grupos de risco. “Dos quadros que vão ter complicação normalmente estão na faixa etária acima de 60 anos ou que tenham alguma doença crônica, como asmáticos, cardiopatas, diabéticos, obesos, pacientes em tratamento com corticoide, os imunossuprimidos de uma maneira geral. Diferente da gripe H1N1, o Coranavírus não apresentou complicações em crianças e gestantes. Eventualmente pode alguma pessoa de trina anos saudável complicar, mas não é o mais comum, porém exceções existem”, esclarece a infectologista.

Quem deve fazer o exame

Não são todos que faram o teste, apenas os que apresentarem problemas respiratórios mais graves. O teste é chamado de Swab Nasal, de orofaringe, que põe o cotonete no nariz e tira a secreção. Em seguida o material coletado é enviado para o exame de biologia molecular, que é um exame altamente específico e nem todos os laboratórios fazem. Em Alagoas os exames serão feitos pelo Laboratório Central de Alagoas, Lacen.

A especialista explica que não tem como diferenciar pelos sintomas se a pessoa está com gripe, H1N1 ou Coronavírus. “Hoje quem vai fazer o exame são os indivíduos sintomáticos que estão precisando de internamento, ou seja os pacientes mais graves”.

“Não existe exame para todos, não tem laboratório que produza essa quantidade de teste, o laboratório gostaria muito, porque ia ganhar muito dinheiro, mas não tem como. É como vacina, a população brasileira não é vacina porque não tem fábrica de vacina que produza uma quantidade de 200 milhões de vacina, não existe isso em nenhum lugar do mundo. Então vamos vacinar o percentual da população que são mais suscetíveis a terem doenças graves”, esclarece.

O vírus se prolifera de maneira rápida e é provável que nos próximos dias o número de casos aumente.  “O vírus já circula no Brasil e hoje não se pode esperar casos apenas de pessoas que viajaram para o exterior ou que tiveram contato com os viajantes”.

Os sintomas do Coronavírus aparecem em torno de cinco dias, diferente da gripe. “A gripe com um, dois dias, você já tem o quadro respiratório, os sintomas do Coronavírus aparecem de cinco a quatorze dias da contaminação”.

“Se o paciente tiver um quadro respiratório, que seja necessário internação, será feito o exame para H1N1, se der negativo será feito para Coronavírus”, explica.

Vacina e medicamentos

De acordo com Vânia Pires, “ainda não há vacinas e nem remédios que estejam realmente comprovados que combatem, como o Tamiflu para gripe. Mas não posso usar Tamiflu para o Coronavírus”.

Dois medicamentes já estão se mostrando eficazes no tratamento de Coranavírus. O Lopinavir que é usado no tratamento de HIV e a Cloroquina usada no tratamento de malária e doenças remumáticas.

“São tratamentos que chamamos de off label, ou seja, fora da bula, tem evidências que funcionam, mas não constam na bula. E o médico é responsável pela indicação. Já estão sendo comprovados e já existem linhas de pesquisas que atestam a efetividade desses medicamentos no tratamento de Coronavírus”, explica a infectologista. A especialista ressalta que esses remédios só estão sendo usados em pacientes positivos para o Covid-10 e internos.

Em reação a vacina a especialista alerta que “apesar de estarem dizendo que a vacina vai estar ponta nas próximas semanas, não vai, pode ter sido descoberto a essência da vacina, a composição, mas para ela estar comercialmente disponível é de um ano e meio. Essa vacina será para as próximas epidemias, são para as próximas, porque tem muito Coronavírus para entrar e pode ser que tenha um ainda mais grave”.

“Se as pessoas fizerem como a China de controlar, com disciplina a gente consegue resolver, agora fica aquela dúvida, será que o Brasil vai seguir o mesmo exemplo? Um país com tanta diversidade, e que não é disciplinado. Então depende muito das pessoas individualmente, e que as condutas políticas sejam acertadas. Sem superestimar e nem subestimar”, finalizou Vânia Pires.

Então não esqueça:

- lavas as mãos;

- tossir ou espirrar em um lenço ou na dobra do cotovelo;

- ficar a um metro de distância das pessoas;

- evitar abraços e beijos;

- evite aperto de mão, seguido de contato com a boca;

- imunossuprimidos e idosos devem evitar aglomerações;

- uso de máscara é para doentes;

- ao tocar em portas ou corrimãos em locais públicos higienize as mãos com água e sabão ou álcool gel.