Leitos de UTI do SUS devem acabar em maio na maioria dos estados
No sistema privado, um número menor chegará ao limite de suas Unidades de Tratamento Intensivo em maio.
A maioria dos estados brasileiros deve atingir neste mês a ocupação máxima dos leitos de UTI no Sistema Único de Saúde (SUS) por causa da epidemia do novo coronavírus.
No sistema privado, um número menor chegará ao limite de suas Unidades de Tratamento Intensivo em maio. Até o fim de junho, porém, a maioria dos estados deverá ter os leitos particulares e públicos lotados.
Durante o período de ocupação máxima, a falta de UTIs no sistema público pode atingir cerca de 20 estados e durar, em muitos casos, aproximadamente dois meses.
No sistema particular, com mais leitos proporcionalmente, a carência de vagas será de cerca de um mês.
Em ambos os sistemas, o tempo de internação em UTI de pacientes com a Covid-19 pode chegar a variar de 21 a 35 dias –o que torna a falta de leitos prolongada.
Mantida a tendência atual de ascendência da curva, o Brasil poderá registrar mais de 40 mil infecções diárias após a primeira semana de junho e um déficit de leitos de UTI acima de 20 mil ao final do próximo mês.
Em São Paulo, os casos ultrapassariam os 9.000 ao dia e o déficit de leitos de UTI chegaria a quase 5.000.
As projeções foram feitas a partir de ferramenta criada por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e alimentada regularmente, em parceria com a Folha, com dados oficiais sobre a evolução da epidemia.
Com base em informações pregressas sobre o total de infecções e parâmetros reais a respeito do número de leitos, sua taxa de ocupação e o tempo médio observado nas internações, o modelo estima em quanto tempo o sistema pode saturar.
A ferramenta leva em conta também o perfil ajustado, por estado, de idosos com 65 anos ou mais e a velocidade média observada da transmissão do vírus, entre outros parâmetros que influem no total de internações.
O modelo faz ainda uma estimativa de preenchimento dos leitos gerais dos hospitais, utilizados por pacientes menos graves. Nesses casos, o risco de colapso do sistema é bem menor.
As infecções já registradas pela ferramenta projetam uma curva futura, cujo "espelhamento" mostra a diminuição dos leitos disponíveis.
As novas informações do dia a dia alimentam o modelo matemático, elevando sua capacidade de previsão ao longo do tempo.
De um modo geral, a expectativa é que a falta de leitos de UTI comece a ocorrer duas semanas antes no SUS do que no sistema privado.
A razão disso é que, além de atender cerca de 75% dos brasileiros, o SUS tem somente 1,4 leito de UTI, em média, para cada 10 mil habitantes. No sistema privado, são 4,9 leitos por 10 mil segurados.
Em alguns estados do Norte e do Nordeste, onde a oferta de leitos públicos é menor, maio será marcado pela ocupação máxima tanto dos leitos do SUS quanto dos privados.
No Sudeste, as vagas de UTI do SUS podem acabar neste mês em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Essas previsões, no entanto, podem ser alteradas no caso de estados e municípios passarem a integrar leitos privados ao SUS, como a cidade de São Paulo já faz. Nesses casos, o custo diário de um leito de UTI gira em torno de R$ 2.000.
No cenário atual, é preciso considerar também que, se por um lado as subnotificações de casos existentes antecipam a chegada do colapso, novos leitos gerais e de UTI dos hospitais de campanha incorporados ao sistema vêm postergando esse momento.
Assim, a data de ruptura dos sistemas de saúde público e privado pode oscilar em relação ao apontado pela ferramenta.
A estimativa também poderá ser alterada dependendo das medidas que forem tomadas em relação ao distanciamento social. Nos últimos dias, observa-se uma diminuição do isolamento, o que tende a acelerar a chegada do colapso.
A ferramenta permite também aos gestores de saúde estaduais e de hospitais envolvidos no combate à Covid-19 fazerem suas próprias simulações sobre a velocidade com que os leitos gerais e de UTI serão ocupados.
Entre os parâmetros preestabelecidos, considera-se que 1% da população apresentará sintomas mais graves da infecção no pico da epidemia, casos que serão confirmados por testes do tipo PCR, padrão adotado pelo Ministério da Saúde nos estados e municípios.
Entre eles, cerca de 14% dos casos notificados precisarão de internação, tomando-se a experiência internacional como base. Dos internados, 25% ocuparão leitos de UTI e 75%, leitos gerais.
Esse parâmetro da ferramenta poderá ser atualizado quando o Ministério da Saúde passar a divulgar dados consolidados sobre a ocupação de leitos gerais e de UTI, como prometido há algumas semanas.
Segundo a assessoria da pasta, esse censo hospitalar ainda está em fase de implantação.
O modelo de previsão considerou ainda uma ocupação inicial de 70% dos leitos no período anterior à pandemia, quando vagas foram abertas com o cancelamento de cirurgias eletivas e a diminuição de muitas ocorrências –como acidentes graves.
Esse valor também pode ser ajustado para cada estado individualmente pelos gestores do sistema de saúde que quiserem fazer suas próprias projeções com os dados que tiverem.
As curvas relativas ao Brasil, aos estados e às capitais com o número de casos e ocupação de leitos podem diferir em eventuais somas por se tratar, no modelo matemático, de projeções individuais.
Além do modelo de consulta disponibilizado pela Folha, a ferramenta completa está disponível no site do Laboratório de Tecnologias de Apoio à Decisão em Saúde (Labdec) e traz todas as notas técnicas e critérios adotados pelo Departamento de Engenharia de Produção e pelo Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon), órgão de ensino e pesquisa da Faculdade de Medicina da UFMG.
Para consultar e fazer projeções com a ferramenta, os gestores de saúde ou qualquer pessoa podem acessá-la no endereço labdec.nescon.medicina.ufmg.br.