Covid -19

Escolas estão preparadas para reabrir, mas volta às aulas não é consenso em Alagoas

Segundo sindicato, escolas particulares estão prontas para voltar; já médico diz que vacina deixa

Por Patrícia Bastos/ 7Segundos 12/08/2020 17h05 - Atualizado em 12/08/2020 17h05
Escolas estão preparadas para reabrir, mas volta às aulas não é consenso em Alagoas
Aulas continuam sem previsão de retorno em Alagoas - Foto: Marco Antônio/ Secom Maceió

O processo de retorno gradual das atividades econômicas em Alagoas levantam discussões sobre a retomada das aulas presenciais na rede pública e particular. O Plano de Distanciamento Social Controlado adotado pelo Estado estabelece que as escolas voltem a funcionar apenas na fase verde, a última delas, após todas as outras terem sido cumpridas. Na entrevista de terca-feira (11) do governador Renan Filho (MDB), transmitida pelas redes sociais, ele declarou que a reabertura das escolas só devem acontecer após serem ouvidos "todos envolvidos", incluindo pais de alunos.

Mas apesar de as escolas estarem há meses se preparando para o retorno das atividades presenciais, não há consenso entre os pais de alunos - principalmente de crianças - de que irão mandar os filhos para a escola. “Eu evito dar a minha opinião pessoal sobre o assunto”, afirma o presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Alagoas (Sindipar), João Paulo. Ele explica que, além de ser proprietário de escola, também tem filhos que são estudantes.

“Então eu falo sobre fatos: desde maio as escolas particulares adotaram medidas para o retorno das aulas. Além do protocolo da Fenep [Federação Nacional das Escolas Particulares], elaborado junto com infectologistas, pedagogos e advogados, várias outras instituições também elaboraram protocolos para instituições de ensino. Outro fato é que existe esta sensação de insegurança por parte dos pais que temem pela saúde dos filhos, principalmente porque no início da pandemia se falava muito que as crianças seriam os grandes vetores do vírus”, explicou.

Quem acompanhou a entrevista de Renan Filho pelas redes sociais percebeu que após o governador falar sobre Educação, os comentários passaram a se dividir entre contra e a favor do retorno às aulas. Muitos falavam que não fazia sentido o governo permitir a abertura das atividades comerciais com as escolas fechadas, porque os pais precisam sair para trabalhar e não terão com quem deixar os filhos, enquanto outros exprimiam a opinião de que não pretendem mandar os filhos para a escola este ano, ou diziam simplesmente: "sem vacina, sem aulas". 

No Brasil, estudo Ipsos Essentials conclui que a maioria dos pais querem esperar mais quatro meses para poder mandar os filhos de volta para a escola.

Nova realidade

Para o médico Celso Marcos, que trabalha como plantonista do Hospital de Emergência do Agreste e é coordenador médico da Atenção Básica em Saúde da prefeitura de Arapiraca, o coronavírus não vai desaparecer, então é necessário que as pessoas aprendam a conviver com essa realidade.

“Não é uma questão de ser contra ou a favor da reabertura das escolas. Todas as áreas precisam ser reativadas, precisam ir voltando aos poucos. Mas, para isso estratégias precisam ser colocadas em prática porque a partir da pandemia, a vida é com a Covid-19, o vírus não vai sumir. Então é necessário discutir a maneira mais viável para o retorno das aulas. O grupo técnico da parte da Educação e da Saúde [do Plano de Distanciamento Social Controlado] têm que planejar e programar esse retorno, do mesmo jeito que tem sido feito com as fases de reabertura das empresas. Mas creio que com a proximidade de ter uma vacina, todos os pais ficarão mais tranquilos”, explicou.

Segundo o médico, o percentual de pacientes de Covid-19 que desenvolve a doença de maneira mais grave são os idosos e portadores de comorbidades, ou condições pré-existentes, como hipertensão e diabetes. “Não há essa incidência toda entre as crianças, mas a gente também não pode baixar a guarda. O grande problema é como conseguir de uma criança que ela respeite que mantenha o distanciamento, a higienização das mãos, o uso correto da máscara? Como uma escola vai conseguir manter isso? É daí que vem a preocupação dos pais”, disse.

Celso Marcos declara que, como as pesquisas para a elaboração de uma vacina estão avançadas, acredita que breve a população poderá ser imunizada contra a Covid-19. “Apesar das disputas, vai existir uma vacina e ela já deve estar bem próxima de se tornar realidade. As empresas farmacêuticas que estão buscando são de extrema confiabilidade na Europa e Estados Unidos. Aqui a gente tem o Instituto Butantã, que uma entidade extremamente responsável e tem uma credibilidade gigantesca trabalhando nisso. Então, esperamos que a vacina fique pronta o mais rápido possível pra que a população seja imunizada e retome a rotina, com os cuidados da pandemia se tornando hábito”, declarou.

Retorno à rotina


Apesar de não existir ainda um prazo estabelecido para que a vacina chegue à população, a rotina anterior à pandemia vem sendo retomada por grande parcela da população - ou já foi retomada há muito tempo, se considerarmos que em Arapiraca nunca houve de fato o fechamento do comércio - e o retorno das aulas presenciais podem passar a ser uma necessidade para muitas das famílias de classe média, em que os pais puderam trabalhar em home office durante a pandemia, mas que agora precisam voltar a trabalhar fora.

“Apesar da insegurança dos pais com o retorno das aulas presenciais, tem outras questões que nem sempre estão sendo consideradas por eles, como quem quem eles deixarão os filhos para trabalhar fora. Qual a melhor opção: mandar as crianças para a escola ou deixar em casa com uma babá ou secretária, que vai e volta para casa todos os dias?”, indagou João Paulo, presidente do Sindipar.

O sindicalista fala também que as escolas atualmente estão melhor preparadas que outros segmentos econômicos que lidam diretamente com o público. “As escolas estão equipadas com totem de álcool em gel, sabonete sanitizante, termômetros de aproximação e oxímetro, sabendo que terá que funcionar com no máximo 50% da capacidade. Isso é muito mais que muitos estabelecimentos que estão funcionando de qualquer jeito, mesmo quando deveriam estar fechados”, ressaltou, ressaltando mais uma vez o protocolo da Fenep.

A entidade, que engloba mais de 40 mil instituições de ensino do país, ainda no mês de maio preparou o retorno das aulas presenciais, com protocolos com recomendações, como a de que alunos, professores e funcionários devem levar para a escola máscaras de pano adicionais, para trocar a cada três horas, e toalha de mão, para evitar compartilhamento. Enquanto isso, a escola deve dispor álcool em gel em todos os espaços físicos, fiscalizar o uso correto da máscara e verificar a temperatura no momento da entrada na instituição.

Escolas públicas

Enquanto as escolas particulares, que durante a pandemia enfrentaram a perda de alunos, aumento da inadimplência e precisaram investir para que as aulas remotas possam acontecer, também tiveram custos para seguir os protocolos, nas rede pública, a realidade é bem diferente. A responsabilidade pela adoção de medidas que garantam o distanciamento social é do Estado e dos municípios.

Além disso, é muito comum nas escolas da rede municipal e na rede estadual que as turmas sejam numerosas, não raro ultrapassando 40 alunos dentro de uma sala de aula. Esses fatores podem pesar na decisão do governo sobre quando as aulas presenciais podem retornar.

"Seria muito improvável que o governo permitisse a reabertura das aulas na rede particular enquanto a pública permanece fechada. Isso só iria aumentar ainda mais o abismo que existe na Educação. Ao mesmo tempo, com a reabertura das atividades econômicas, a pressão para que que as escolas reabram tende a aumentar", ressaltou o sindicalista.