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Padre e associação usavam laranjas para desvio e lavagem de dinheiro, diz MP

Na decisão que ordenou mandados, MP faz vasta listagem de negócios atípicos da entidade com companhias de diversos ramos, como rádios e postos de combustíveis. Padre nega qualquer irregularidade

Por G1 23/08/2020 19h07
Padre e associação usavam laranjas para desvio e lavagem de dinheiro, diz MP
Padre Robson pediu afastamento da Afipe após escândalo - Foto: Divulgação

O Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) constatou que o Padre Robson e a Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), criada e até então presidida por ele, usavam de "laranjas" e empresas de fachadas para desviar recursos oriundos de doações de fiéis e lavar dinheiro da entidade. O esquema foi alvo da Operação Vendilhões, deflagrada na última sexta-feira (21).

Conforme a investigação, Padre Robson, pediu afastamento das funções, "criou várias associações com nome de fantasia Afipe ou similar, com a mesma finalidade, endereço e nome, e que, por meio de alterações estatutárias, gradativamente, assumiu o poder absoluto sobre todo o patrimônio das Afipes".

Em um vídeo gravado em sua rede social, o padre Robson disse que não houve qualquer irregularidade e se afastou das funções da associação para colaborar com as investigações do Ministério Público.

Narra o MP que apenas uma das Afipes - todas são presididas pelo padre - possui 14 filiais, sendo, entre elas, uma produtora, uma rádio, um hotel e várias propriedades rurais. Muitas delas foram alvo dos 16 mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça.

Na decisão que autorizou a operação, assinada pela juíza Placidina Pires, o MP narra uma série de depósitos, pagamentos e negociações da Afipe com empresas de comunicação, postos de combustíveis e pessoas físicas, como o vice-prefeito de Trindade, Gleysson Cabriny de Almeida (PSDB). Por mensagem, ele disse ao G1 que não teve acesso ao processo e só deve se pronunciar após ter conhecimento dos autos.

Negócios atípicos

Segundo as apurações, a Afipe teria transferido cerca de R$ 120 milhões, em três anos, para empresas e pessoas investigadas. Algumas das pessoas investigadas, são pessoas vinculadas ao quadro diretório da Afipe indicadas pelo próprio padre e, portanto, vinculadas a ele.

Constatou-se que os gastos de boa parte das doações não tinha vínculo com questões religiosas, mas com outros negócios.

Como parte do conjunto probatório, o MP listou inúmeros negócios feitos pela Afipe, grande parte deles, de cunho imobiliário. Uma construtora, por exemplo, realizou "movimentações atípicas" com a Afipe ao menos oito vezes.

Outra empresa, no ramo de comunicação, vendeu à Afipe uma casa de praia em Guarajuba, na Bahia, por R$ 2 milhões.

Para uma empresa propriedade de uma rede de postos de combustíveis, foram repassados, em um ano, mais de R$ 92 milhões.

Os advogados do padre Robson negam irregularidades no uso do dinheiro das doações, que chegava a R$ 20 milhões por mês. Segundo eles, os investimentos em outras áreas eram uma forma de tentar aumentar os lucros da igreja e, assim, poder expandir as obras sociais.

“Para que nós possamos chegar a essa evangelização do maior e do melhor modo possível, nós precisávamos de investimentos. Esses investimentos nunca foram exclusivamente em conta corrente. Muitos deles são em atividades, negócios que existem e todo seu rendimento é aplicado nas atividades fins da Afipe”, disse Klaus Marques, um dos advogados do padre Robson e da Afipe.