Cidades

Trabalhadores dos Correios promovem doação de sangue durante greve em Alagoas

Em Arapiraca e Maceió, grevistas promovem campanha

Por 7Segundos 28/08/2020 11h11 - Atualizado em 28/08/2020 13h01
Trabalhadores dos Correios promovem doação de sangue durante greve em Alagoas
Trabalhadores dos Correios fizeram mobilização no Hemoal em Arapiraca, nesta sexta (28) - Foto: cortesia

Em mais um ato de mobilização, os trabalhadores dos Correios de Maceió e de Arapiraca promovem, nesta sexta-feira (28), a campanha “Ecetista Sangue Bom”, como parte das atividades da greve deflagrada pela categoria.

Em Arapiraca, os trabalhadores se concentraram na praça Luiz Pereira Lima, em frente a agência dos Correios; e em Maceió, a concentração foi na Agência Central da Rua do Sol. De lá, eles seguiram para os Hemocentros de casa cidade, para fazer as doações.

Após o ato solidário, eles se mantiveram concentrados recepcionando colegas e em protesto. Os trabalhadores dos Correios deflagraram greve na última terça-feira (18) em todo o Brasil. A paralisação por tempo indeterminado é uma reação ao descumprimento do dissídio coletivo firmado em 2019.  Após recorrer ao Supremo Tribunal Federal, a direção nacional dos Correios conseguiu remover 70 das 79 cláusulas favoráveis aos trabalhadores.

Em Arapiraca, a estimativa é de que, a cada dia de greve, duas mil correspondências e encomendas deixam de ser entregues. Para ter acesso a elas, a pessoa deve agendar a entrega por meio do telefone: 82 3522-1171 e ir buscar no Centro de Distribuição (CDD) no dia e horário marcado. O serviço está restrito às encomendas que possuem código de rastreamento.

O Sintect responsabiliza a direção nacional dos Correios pelas reclamações dos usuários sobre os serviços prestados. James Magalhães, diretor de imprensa do sindicato em Alagoas, afirma que está sendo colocado em prática um plano para o sucateamento da empresa, com o objetivo de privatizá-la.

De acordo com ele, o último concurso foi realizado em 2011, e nestes nove anos, os Correios promoveram três programas de demissão voluntárias, provocando defasagem de trabalhadores. Mesmo com o fechamento de várias agências nos últimos anos, passaram a acontecer situações como a que acontece no interior de Alagoas, onde um único funcionários é responsável, sozinho, pelo funcionamento de três agências em três municípios diferentes: Jacaré dos Homens, Campo Grande e Traipu.

“O atendente abre a agência dois dias em um município, fecha e depois para para os outros dois. Muitos moradores saem da zona rural e quando chegam a agência, encontram fechada”, afirma James Magalhães. “Quando a encomenda atrasa, a culpa não é do carteiro ou dos atendentes. É da empresa mesmo. Ela não se preocupa em prestar um bom serviço, tanto que o último concurso aconteceu nove anos atrás, e na hora de privatizar, esquecem totalmente a importância social, como a entrega de remédios e leite, que a empresa evoca somente agora, por conta da greve”, declarou.

Diferente do que a empresa divulga, os trabalhadores afirmam que os Correios são uma empresa lucrativa. Eles citam documento oficial dos Correios, que informam lucro de R$ 614 milhões apenas nos seis primeiros meses de 2020. A expectativa, conforme os trabalhadores é de que até o fim do ano, o lucro supere o dobro desse valor, uma vez que datas como a Black Friday e o Natal provocam um grande aumento no faturamento das agências.

A assessoria de comunicação dos Correios entrou em contato com o 7Segundos e solicitou a publicação de resposta à matéria. O texto, que expressa o posicionamento da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) sobre a greve, está reproduzido, na íntegra, abaixo:

Correios: fim da paralisação é essencial para empreendedores e população

Desde o início da negociação do Acordo Coletivo de Trabalho 2020/2021, os Correios têm sido transparentes sobre a sua situação econômico-financeira, agravada pela crise mundial causada pela pandemia de Covid-19. Conforme já amplamente divulgado, a empresa não tem mais como suportar as altas despesas, o que significa, dentre outras ações que já estão em andamento, discutir benefícios que foram concedidos em outros momentos e que não condizem com a realidade atual de mercado, assegurando todos os direitos dos empregados previstos na legislação.

A paralisação parcial em curso somente agrava esta situação. A intransigência das entidades representativas, que tornaram a greve uma prática quase anual, está prejudicando não só o funcionamento da empresa, mas, essencialmente, a população brasileira.

Isso porque se trata, também, de uma questão de saúde pública: famílias podem ser impactadas com a espera de remédios e produtos de saúde, enquanto aguardam o desenrolar da paralisação. Os Correios transportam, ainda, materiais biológicos - como amostras de sangue, por exemplo - para detecção de doenças e análises clínicas para secretarias de saúde e laboratórios em todo o país.

Sobre esta categoria de objetos, destacam-se o envio mensal de leite em pó (cerca de 300 mil latas), medicamentos (mais de 100 mil itens), 7 mil testes do pezinho, dentre outros tipos de materiais, que somam mais de 425 mil objetos desta natureza por mês, contabilizados somente os clientes com contrato, fora as postagens que ocorrem diretamente nas agências.

Além disso, empreendedores estão sofrendo impactos nos seus negócios, tendo em vista que dependem dos serviços da empresa para conseguirem se manter com a pandemia. A economia brasileira está sendo afetada como um todo.

Diante dessa situação, amplamente exposta nos últimos meses, a empresa aguarda o julgamento do Dissídio de Greve pelo Tribunal Superior do Trabalho para por fim ao impasse. Vale ressaltar que os Correios têm preservado empregos, salários e todos os direitos previstos na CLT, bem como outros benefícios do seu efetivo.

A empresa confia no compromisso e responsabilidade de seus empregados com a sociedade e com o país, promovendo o retorno ao trabalho das pessoas que ainda se encontram em greve, já que a questão encontra-se em juízo e será resolvida pelo TST.