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Coletores de lixo entregam caixinha de Natal para colega que fez cirurgia: 'Eu queria ter muito mais para ajudar ele', diz amigo

Luiz Carlos precisou passar por uma cirurgia no estômago há três meses e acabou ficando de fora da arrecadação de fim de ano. Os amigos não acharam justo que ele ficasse sem receber o valor depois de trabalhar duro o ano todo

Por Yasmin Castro, G1 Mogi das Cruzes e Suzano 27/12/2020 16h04
Coletores de lixo entregam caixinha de Natal para colega que fez cirurgia: 'Eu queria ter muito mais para ajudar ele', diz amigo
Coletores de Arujá dividiram caixinha de Natal com amigo que precisou ser afastado - Foto: Gabriel Felipe de Oliveira/Electra

Trabalhadores da coleta de lixo de Arujá tiveram uma atitude nobre para ajudar um colega que está afastado e agora vive apenas com o auxílio doença. Luiz Carlos de Santana, de 47 anos, se recupera de uma cirurgia no estômago, realizada há três meses, e acabou ficando de fora da arrecadação da tradicional caixinha de Natal.

Sensibilizados com a situação do amigo, com quem trabalharam ao longo de todo o ano, os coletores reuniram todas as equipes que atendem a cidade e juntaram R$ 800 para doar a ele. Os profissionais também ajudaram a comprar alimentos para a ceia de Luiz, incluindo panetones, frutas e champanhe.

A entrega foi na última quarta-feira (23) e emocionou todos os envolvidos. O motorista José Sérgio Francisco de Souza, que atua na coleta e foi um dos incentivadores da ideia, diz que o valor não era muito, mas que fez a diferença para o colega. Ele afirma que, se pudesse, colaboraria com muito mais.

“Vou ser sincero. Eu queria ter muito mais para ajudar ele. Queria ter muito, mas esse pouco que ajudei foi de coração. A sensação é muito boa. Só de falar eu me arrepio. Não foi muita coisa, mas o pouco que foi, foi de coração”, declara.

A arrecadação da caixinha de Natal é um dos momentos mais esperados pelos coletores nesta época do ano. Depois de meses de trabalho árduo, os profissionais aproveitam o expediente, quando passam pelos bairros, para mobilizar os moradores. Não importa o valor: das moedinhas às cédulas, qualquer quantia faz a diferença. Neste ano, a campanha começou no dia 15 de dezembro e foi até o dia 23.

“Um arrecada um pouco mais, outra equipe arrecada um pouco menos. Depende da área que a gente está. Mas a gente não vai pelo valor, porque o que entrar já faz diferença, é satisfatório. No final do ano todo mundo aparece com R$ 1, R$ 2, R$ 4. Uma casa ali, outra aqui. No final a gente arrecada uma coisa que a gente não contava”, diz José.

Por causa de uma cirurgia no estômago, Luiz precisou ser afastado do trabalho. Consequentemente ficou de fora da arrecadação da caixinha. O amigo não achou justo que ele deixasse de receber o benefício depois de quase um ano inteiro de serviço. Ainda mais agora, quando o único valor que recebe vem do auxílio doença.

“O ano tem 12 meses. O cara trabalhou nove. Faltou três meses para ele estar ali, na parte melhorzinha que tem. Trabalha tudo certinho, todo mundo ajuda na rua. Aí acontece esse imprevisto, o cara tem que afastar de problema médico. [Porém], ele estava o tempo todo lá”, comenta o amigo.

“Eu penso assim: pode ser qualquer um de nós lá. Então a gente tem que fazer o máximo para ajudar”.

Souza convocou as equipes e sugeriu que parte do valor arrecadado fosse dividido com Luiz. Todos concordaram. Depois de uma semana de campanha, ao fim do expediente, os rapazes foram uniformizados até a casa do amigo, que ficou emocionado com a surpresa.

“Ele está dependendo de INSS, sabe como é. A gente queria até ajudar mais um pouquinho, mas a situação não está fácil. Então eu falei: ‘um sozinho para ajudar fica pesado, então vamos todo mundo, não pesa pra ninguém’. Aí nós nos unimos, graças a Deus. Foi pouco, mas foi de coração. Ele ficou muito emocionado, porque eu acho que ele nem contava que a gente ia lá”.

Ao todo, Luiz recebeu R$ 800. O dinheiro deve ajudar a equilibrar as contas da família até fevereiro, quando ele deve voltar ao trabalho. Se recuperando em casa, o coletor diz que ficou surpreso e que a atitude jamais será esquecida.

“Nem esperava. Foi uma atitude da hora, fiquei emocionado. Foi uma surpresa. Ajudou bastante. Tenho dois filhos, nossa, ajudou bastante”, diz Luiz.

De acordo com o gerente operacional da coleta de Arujá, Francisco Hélio Reis Soares, a iniciativa serve de inspiração. “Os funcionários deram um verdadeiro exemplo a todos nós do que realmente significa o Natal. Foi uma atitude de compaixão e amor ao próximo”, afirma.