Com uma captação em 2021, Central de Transplantes alerta para redução de doações
Em 2020, a Central de Transplantes registrou uma queda de 94% nas doações de órgãos e uma redução em 58% no número de transplantes em relação ao ano de 2019
Conversar sobre o que fazer após a morte de um ente querido não é algo fácil. É um tema que muitos querem evitar, mas quando o momento chega é preciso decidir sobre um assunto que pode salvar e melhorar qualidade de vida de outras pessoas: a doação de órgãos.
“A doação de órgãos é um ato de amor ao próximo que surge em um momento de dor diante da perda de um ente querido”, disse a coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas, Daniela Ramos.
Foi esse sentimento que encheu o coração da família de uma paciente do sexo feminino, 51 anos, que após ter o diagnóstico de morte encefálica confirmado, informou à Central de Transplantes de Alagoas, órgão ligado à Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), sobre o desejo de doar os órgãos desse ente querido. Com a autorização da família, a equipe médica da Central fez a captação de dois rins, do fígado e das córneas.
De acordo com Daniela Ramos, essa foi a primeira captação de órgãos feita em 2021 pela equipe da Central. “Os rins e o fígado foram encaminhados para os estados de São Paulo e do Ceará, respectivamente, e as córneas ficaram aqui mesmo em Alagoas onde já foram transplantadas. Esse foi o primeiro doador de muitos que irão aparecer durante esse ano de 2021”, exaltou a coordenadora.
Queda nas doações e nos transplantes – Em 2020, a Central de Transplantes registrou uma queda de 94% nas doações de órgãos e uma redução em 58% no número de transplantes em relação ao ano de 2019.
Para a coordenadora da Central de Transplantes de Alagoas, o maior impacto nessa redução foi causado pela pandemia da Covid-19, ocasião em que o Ministério da Saúde (MS) proibiu a realização de procedimentos cirúrgicos como os transplantes.
“Quando o MS liberou a realização dos transplantes, as exigências se tornaram maiores durante a pandemia, para que fosse garantida a segurança dos pacientes que estão aguardando um órgão e das equipes de saúde que estão lidando diretamente com a situação”, explicou Daniela Ramos.
Além de todas as dificuldades enfrentadas por causa da pandemia, outra barreira encontrada pelas equipes da Central de Transplantes é o preconceito e o tabu que ainda persistem em meio à doação de órgãos.
“Nossas equipes são formadas por médicos, enfermeiros e psicólogos, e estão capacitadas para fazer o trabalho de sensibilização e acolhimento com a família do doador. Mesmo assim, ainda existe esse preconceito em função da falta de conhecimento da população sobre o processo da doação de órgão”, destaca a coordenadora.
“As pessoas ainda não compreendem o diagnóstico de morte encefálica e confundem com situações em que o paciente está em coma, e os órgãos serem retirados com o ente querido ainda vivo, mas essa possibilidade é zero pelo rígido protocolo que é seguido para a confirmação da morte encefálica. Questões religiosas também dificultam a doação dos órgãos, assim como o fato das pessoas, ainda em vida, não falarem para a família sobre o desejo de ser um doador de órgãos, e é somente os familiares que podem autorizar a doação”, disse Daniella Ramos.
Protocolo de morte encefálica – Para ser um possível doador de órgãos, é preciso que seja diagnosticada a morte encefálica desse paciente, que ficará mantido em ventilação mecânica e com drogas vaso ativa, para que os órgãos permaneçam viáveis para ser transplantado para outra pessoa.
O protocolo segue a resolução número 2.173/17 do Conselho Federal de Medicina, que consiste em três etapas com dois médicos fazendo exames clínicos para poder testar os reflexos do paciente. Após a confirmação da parte clínica, um terceiro médico irá fazer um exame complementar de imagem, para verificar se existe algum fluxo sanguíneo no cérebro ou atividade elétrica cerebral. Com a confirmação nos três exames, a morte encefálica fica comprovada e a família é informada do diagnóstico.
“Após essa confirmação, as equipes da central de transplante informam a família que tem a opção de prosseguir com a doação de órgãos ou então pegar o corpo e dar seguimento ao funeral”, explicou a coordenadora.
Fila de espera – São 437 alagoanos que estão na fila de espera para receber um órgão. Na fila para receber um novo rim estão 143 pacientes, 292 pessoas estão esperando para receber córneas e duas pacientes esperam por um transplante de coração.