Cantora lírica emociona médicos no Paraná
Ela foi internada junto com o marido e os dois venceram a Covid-19. Professora aposentada disse acreditar que o fato de estarem vacinados ajudou a não terem problemas graves
“Cantei porque assim eu consegui buscar forças”. Assim descreve a professora aposentada e cantora lírica Lira Agibert. Aos 77 anos, ela venceu a Covid-19 depois de mais de duas semanas, internada em duas unidades hospitalares. Em um destes hospitais, a professora foi filmada cantando e emocionou a todos. Veja vídeo: https://g1.globo.com/pr/parana...
Lira foi hospitalizada com o marido, na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Os dois ficaram juntos, mas afastados por uma parede.
No dia em que o marido recebeu alta, ela foi filmada cantando um trecho de Mio Babbino Caro, considerada uma das mais belas obras do compositor italiano Giacomo Puccini. Apesar da falta de ar pela doença, Lira emocionou a todos com a voz.
A professora aposentada, que sempre cantou, disse ao G1 que não sabia que estava sendo filmada. Segundo ela, o que os enfermeiros não imaginavam é que ela cantou de tristeza.
“Quando vi que meu marido ia voltar para a casa, me encolhi na minha concha e comecei a cantar. Pedia que ele não me deixasse ali, não fosse embora. Cantei numa tristeza tão grande”.
Lira disse que o momento da despedida do marido foi muito comovente. Apesar disso, quem estava na UPA interpretou de forma diferente.
"Cantei mesmo do fundo do meu coração. Somos muito companheiros e o fato de eu saber que ele estaria sem mim e que eu estaria sofrendo a falta dele, pela minha condição, somente a música e a fé em Deus, com minhas orações, me salvaram", conta.
Depois de aproximadamente seis dias na UPA, Lira precisou ser transferida para o Hospital de Clínicas (HC), onde passou mais sete dias internada. Na véspera do domingo (9), Dia das Mães, recebeu alta.
“Eu rezei muito e conversei com Deus. Pedi que ele me libertasse desse vírus e senti que estava melhor. No outro dia, o médico me chamou e me deu alta”.
Lira contou que, ao saber que iria para a casa, cantou de novo. A cantoria não foi filmada.
“Falei que iria fazer uma homenagem aos profissionais da saúde. Pedi que se reunissem e cantei de novo. Mas dessa vez, um canto de felicidade e gratidão”, comentou.
Vacina ajudou
Lira e o marido não precisaram ser intubados e não tiveram quadros mais graves da Covid-19. Para a mulher, isso pode ser atribuído ao fato de que os dois tomaram as duas doses da vacina contra a doença.
“Para nós, não importava se a vacina tinha menos ou mais eficácia, mas sim a possibilidade de escapar. Confiamos na ciência. É por isso que eu digo e insisto: se tiver a oportunidade, tome a vacina”.
Arte na veia
Moradora de Colombo há 30 anos, Lira atuou como professora por 33. Apesar disso, a veia artística sempre esteve presente.
“Sempre gostei de criar projetos que eram para ser aplicados de maneira voluntária, fora do horário de expediente, na área de educação física, arte plástica, música, literatura”.
Embora a mãe não gostasse muito que ela se aventurasse pelo lado artístico, Lira cantou, desde os 14 anos em vários casamentos. “Estimo que, ao longo da minha vida, foram cerca de 1200 casamentos, entre cerimonias coletivas e individuais. E nunca cobrei, sempre foi por amor”.
Na sala de aula e fora dela, a professora aproveitava para passar também os conhecimentos artísticos aos alunos. Em 2014, Lira se aposentou e voltou a estuar e se dedicar à música e à literatura.
“Fui atrás dos meus sonhos de música lírica, que eu tinha interrompido quando mais jovem. Fiz trabalhos nos terminais de Curitiba, mas também escrevi. Escrevi sete livros. Sempre fui muito apaixonada pela literatura”.
O que Lira não imaginava, é que a música e a arte iriam ajudá-la a se recuperar de uma doença temida por todos. Quando foi internada com a Covid-19, ela disse que lembrar das óperas a fez sentir força.
“Confesso que me apeguei às notas musicais, tentava alcançá-las para ver se estava bem. A arte me trouxe paz, me deu forças para entender que passaria por isso”.
Alerta e aprendizado
De tudo que passou, Lira tira o aprendizado de que a arte salva. E pede que as pessoas tenham bom senso.
“Tem pessoas céticas, que não acreditam no óbvio. Digo que valeu como experiência e como alerta. O que eu trago pra mim e peço para toda a humanidade é muita consciência, porque o futuro é a longo prazo e as pessoas devem se preparar”.
Sobre a música, Lira disse saber que, se depender dela, vai continuar cantando até seu último dia.
“Se eu for até os 100 anos, em meu último suspiro talvez eu cante um pedaço de La Traviata”.