Brasil

Batizada de Pixinguinha, nova espécie de perereca é descoberta no Espírito Santo

Espécie habita área de Mata Atlântica na cidade de Santa Teresa

Por G1 ES 01/07/2021 10h10 - Atualizado em 01/07/2021 11h11
Batizada de Pixinguinha, nova espécie de perereca é descoberta no Espírito Santo
Perereca-Pixinguinha foi descoberta na cidade de Santa Teresa, na Região Serrana do Espírito Santo - Foto: Reprodução/TV Gazeta

A cidade de Santa Teresa, na região Serrana do Espírito Santo, é, até este momento, o único lugar do mundo a abrigar uma nova espécie de perereca que foi descoberta na Mata Atlântica.

Batizada com o nome científico de Scinax pixinguinha, o animal foi carinhosamente apelidado de pereca-pixinguinha, em homenagem a um dos maiores expoentes do chorinho do Brasil, o músico e compositor Alfredo da Rocha Vianna Filho, conhecido em todo o país como Pixinguinha.

O nome foi escolhido pelo grupo de pesquisadores responsável por identificar a nova espécie na natureza.

Um desses pesquisadores é João Victor Lacerda, biólogo do Projeto Bromeligenous (que se dedica ao estudo de anfíbios que vivem em Bromélias) e do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA). Ele contou que a ideia do nome Pixinguinha foi unir a descoberta de uma nova espécie e o apelo para a necessidade de conservação ambiental em uma mesma roda de choro.

"Vivemos diante de um eterno conflito de emoções. Por um lado, nos entristece constatar que a Mata Atlântica já foi praticamente toda devastada e, com isso, muitas espécies de plantas e animais foram extintas antes mesmo de serem descobertas. Por outro lado, é um grande alento e motivação saber que esse pouquinho que resta de mata ainda nos reserva grandes descobertas", explicou João Victor.

Para o pesquisador, encontrar uma nova espécie em meio a esse cenário tem o poder de, momentaneamente, transformar o lamento em felicidade.

"Essa mistura de sentimentos nos lembrou bastante do saudoso e talentoso músico Pixinguinha que, feito mágico, transformava notas de choro em lágrimas de alegria."

A perereca-pixinguinha foi descoberta em 2020 pelo grupo de pesquisadores, que costuma desbravar as matas de Santa Teresa para conhecer melhor as espécies de anfíbios, já que a cidade é uma referência mundial quando se trata desse tipo de animal.

Inicialmente, os biólogos acharam estar diante de uma espécie presente em outras áreas da Mata Atlântica, mas que nunca tinha sido encontrada em Santa Teresa.

Porém, para surpresa de todos, eles não estavam diante apenas de um novo registro para a cidade, mas sim de um achado inédito no planeta.

Depois de um ano de investigação, a descoberta foi publicada com a descrição da nova espécie no periódico científico internacional Ichthyology & Herpetology, no dia 29 de junho de 2021.

Perereca Pixinguinha

Medindo entre 2,4 e 3,8 centímetros (machos são menores e fêmeas são maiores), a pixinguinha habita locais mais próximos das áreas urbanas.

Ela foi descoberta no Parque Nacional de São Lourenço, que fica próximo à cidade de Santa Teresa, além de ter sido localizada também em terrenos já do perímetro urbano, mas que fazem limite com a mata.

Um de seus grandes diferenciais em relação às outras espécies é o fato de o macho mudar de cor: de dia ele é cinza, mas, à noite, adquire uma coloração amarelada.

Pixinguinha tem uma coloração verde esbranquiçada na região da virilha, que também a difere. Além disso, os machos possuem braços mais fortes do que os de outras pererecas.

João Victor explicou que descrever e batizar uma nova espécie é o primeiro passo para ela ser avaliada em relação ao seu status de conservação.

"Até ser formalmente descrita, ela não será relacionada em avaliações e listas de espécies ameaçadas, ficando totalmente desprotegida em relação a políticas públicas de conservação. Descobertas de novas espécies são fundamentais para entendermos os impactos da ação humana no planeta. Se for extinta antes de ser descoberta, essa perda jamais será contabilizada."

O pesquisador ressalta que sapos, rãs e pererecas têm uma enorme variedade de cores, tamanhos e comportamentos. Eles são fundamentais para a manutenção do equilíbrio da natureza, servindo de predadores e presas para diversas outras espécies de animais.

Além do aspecto ambiental, esses animais também têm potencial para ajudar no tratamento de doenças.

"Por se alimentarem de mosquitos, aranhas e besouros, eles controlam pragas e vetores de doenças que afetam a vida das pessoas. Na respiração desses animais, que é realizada através da pele, eles secretam uma enorme diversidade de compostos bioativos que podem auxiliar, por exemplo, no combate ou controle da diabetes, leishmaniose e doença de chagas", explicou João Victor.