Cultura

Arapiraca viveu apogeu carnavalesco durante as décadas de 60 e 70

Por quase duas décadas, a cidade contou com festas e encontros de foliões

Por 7Segundos 27/02/2022 08h08
Arapiraca viveu apogeu carnavalesco durante as décadas de 60 e 70
Arapiraca viveu o apogeu do carnaval nas décadas de 60 e 70 - Foto: Reprodução

Os arapiraquenses que nasceram depois dos anos 80 provavelmente não sabem, mas a Capital do Agreste alagoano já foi bastante conhecida pelas festas de Carnaval. Já os mais velhos se recordam de uma época de ouro na tradicional da folia de fevereiro.

As décadas de 60 e 70, principalmente, são lembradas com saudosismo pelo frevo que invadia os principais corredores públicos do centro da cidade.

As festas daquela época também se estendiam para as casas de famílias tradicionais da cidade e bailes no Clube dos Fumicultores. Mas a história do Carnaval de Arapiraca é ainda mias antiga.

PRIMEIROS BLOCOS 

No livro "Arapiraca através do tempo", do historiador local Zezito Guedes, é descrito que a tradição carnavalesca por aqui teve início logo após a emancipação, nos anos de 1925, 1926 e 1927, quando o município passou a organizar as primeiras festas de Carnaval.

O escritor arapiraquense descreve que, nesse período, políticos e figuras de destaque participavam de intensas atividades sociais, promovendo eventos concorridos.

Foi neste período que surgiu o primeiro bloco carnavalesco de Arapiraca: o Canaverde. Fundado pelo Coronel Zé Farias, o bloco reunia foliões fantasiados, música e seu estandarte - uma cana verde com um pendão.

A partir daí surgiram outros grupos, como o Bola Preta, fundado pelo Mestre Juvino; além do Lusitano, Garota Moderna, Padadinos, Caçadores e Sossega Leão.

Esses primeiros blocos animaram os fevereiros de Arapiraca até os idos de 1935.

TURMA NOVA

Numa época de recesso carnavalesco motivado de lutas políticas acirradas e muitas vezes violentas, o arapiraquense Dedé Vigário criou a bandinha de zabumba que tomou o seu nome. Composta por veteranos boêmios da sociedade local, a "Bandinha do Dedé" percorria as ruas da cidade, invadindo as residências dos amigos e provocando muitas gargalhadas.

A bandinha do Dedé incentivou o surgimento de novos blocos carnavalescos

Após a Bandinha do Dedé, que ficou na ativa até 1978, houve uma grande abertura carnavalesca, com o surgimento de novos blocos, na maioria das vezes formados por estudantes. Dentre os que mais se destacaram à época estão Zum Zum, Tengo Tengo, Bizorão, Bloco do Pau, Bisoleta, Corrupaco e Pingo Dela.

Além dos blocos, a década de 60 e 70 também foi o ápice para o surgimento das primeiras escolas de samba: 30 de outubro, Unidos de Arapiraca e Cebolinha.

Enquanto os blocos de Carnaval e as escolas de samba animavam os foliões durante o dia, à noite ficava por conta dos bailes do Clube dos Fumicultores, numa espécie de reunião familiar, sempre ao som de muita orquestra de frevo.

AMOR E CARNAVAL

Em meio as manifestações culturais e sociais de 1972, o casal Cícero Brito e Jacinta Pinheiro se conheceu, em meio aos temores de uma Guerra Fria e de uma ditadura militar institucionalizada no Brasil.

Em meio aos anos obscuros, as pessoas utilizavam os bailes e festas como escape dos episódios de tensão. Para o artista plástico Cícero Brito, o sentimento era de troca, meio em meio a tanta incerteza.

"A gente dançava fora desse quadrado. Aqui em Arapiraca tínhamos o Bar do Paulo, que tocava músicas que na época era proibida pela censura. O ato de coragem artística em apenas botar o vinil para rodar, mudou o olhar de muita gente e fez a cabeça de toda a minha geração", contou ele, relembrando ainda os outros points de Arapiraca.

Foi em um desses bailes que o arapiraquense conheceu aquela que seria seu grande amor.

“Eu via aquela menina alegre dançando com todo mundo, ao lado das amigas, e me encantei. Ela sentia a música. Então me aproximei, já que ela estudava com uma de minhas irmãs, a Sales. Tentei várias vezes conversando até que ela cedeu às minhas investidas – e aos meus passos de dança”, brinca Cícero, que dizia assistir repetidas vezes ao filme “Os Embalos de Sábado à Noite”, com John Travolta, para aprender todo o gingado da disco music.

Da paixão que nasceu do baile, nasceu em seguida o amor – e ainda dois filhos; um deles é este que vos escreve. “Estamos juntos há basicamente 40 anos e contando…”.

Ele ressalta que também havia festas e matinês na Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), no Jacy’s Club (antigamente chamado de “Clube Ara”), Produban (onde hoje funciona a loja Santana, no bairro do Centro) e Clube do ASA.

A paquera aos finais de semana era “sacramentada” logo após às missas na Igreja do Santíssimo Sacramento, na Praça do Bom Conselho, no Centro, quando os candidatos a casal compravam pipoca, sorvete da Pinguim e rolete na Praça Deputado Luiz Marques da Silva. “A gente ficava conversando e arrodeando a praça. De novo e de novo”, lembra.

Já Jacinta recorda dos bons tempos dos bailes mensais nos Fumicultores. “Alguns deles eram temáticos. Havia uns com indumentárias de cigano, Rainha do Fumo – que eu cheguei a concorrer uma vez desfilando, mas não ganhei –, Baile das Debutantes, Brotinho da Cidade, Bailes de Formatura – geralmente no fim do ano – e Baile de Vaquejada. Quem era sócio do clube podia entrar. Era bom demais. Dancei pouco, viu?”, sorri ela, enfatizando haver também o Baile do Rotary e Intecract Club (para os jovens) e Baile do Lions Club e Leo Club (também direcionado aos mais jovens).

Para compor esta matéria foram usadas informações cedidas pela Prefeitura de Arapiraca.