Com pais analfabetos, filho de sertanejo ganha bolsa para estudar no exterior
Adeildo Vieira tem 19 anos e estuda no Ifal em Santana do Ipanema
"Meus pais nunca estudaram. Ele enrola cadeira de balanço e minha mãe é aposentada por invalidez. Então estudar veio de um incentivo de mudança na realidade da família". Com esse relato, Adeildo Vieira, o formando do curso técnico em Agropecuária do campus do Ifal em Santana do Ipanema, dá a dimensão do que representa a conquista de estudar no exterior.
Na última quinta-feira (31) ele recebeu a carta de admissão para ingressar na Universidade Duke - instituição de ensino norte-americana que figura entre as 20 melhores universidades do mundo. O alagoano de família humilde que mora em Olho D'água das Flores, no Sertão de Alagoas, ganhou uma bolsa integral para cursar Ciências da Computação e Física.
Adeildo Vieirao tem apenas de 19 anos e também conseguiu aprovação na universidade estadunidense Stetson com bolsa parcial, mas desistiu da empreitada após receber o resultado da Duke. "A Duke University foi a minha escolha principal (faculdade dos sonhos) desde o início, pois é referência mundial em pesquisa e é renomada. Lá poderei estudar e pesquisar com os recursos mais avançados em tecnologia", comemora Adeildo.
Histórico
O caminho até a aprovação contou com a dedicação do candidato e a atuação de uma rede de conexões e apoio institucional. Em 2020, Adeildo fez aplicações em dez universidades nos Estados Unidos e não obteve resultado positivo em nenhuma delas, mesmo com histórico escolar invejável, participação em projetos de pesquisa, de extensão comunitária, medalhas em olimpíadas do conhecimento e atuação como bolsista da monitoria em Matemática e do Programa Espaço 4.0 no Ifal Santana do Ipanema.
Meses depois, o estudante tomou conhecimento no próprio campus do Programa Oportunidades Acadêmicas da EducationUSA, uma organização vinculada à Embaixada dos Estados Unidos que oferece suporte gratuito a brasileiros de baixa renda que sonham em ser admitidos em faculdades americanas. Adeildo decidiu então participar da seletiva do órgão: fez redações sobre suas vivências acadêmicas no Ifal, incluindo premiações e atividades extracurriculares, foi entrevistado pelos orientadores acadêmicos do programa e, por fim, conseguiu ingressar no seleto grupo de 20 alunos de todo o país selecionados anualmente para ter o acompanhamento da EducationUSA.
O Oportunidades Acadêmicas ajudou a custear e realizar o processo de candidatura do estudante nas universidades americanas. "Foi o ano de 2021 inteiro me dando assistência, tendo aulas de inglês com professoras nativas dos EUA, mentoria e assistência financeira pagando as inscrições de provas como o TOEFL [exame de proficiência], as despesas para emissão de visto e passaporte, tradução juramentada de documentos escolares e financeiros. Sem isso, eu teria que desembolsar mais de 3 mil dólares", detalha Adeildo. "É uma mentoria personalizada on-line. Eu tinha meu orientador acadêmico próprio e reuniões semanais para discutir redações, escolha de faculdades, como falar sobre meu desempenho acadêmico no Ifal. A partir disso, me inscrevi em várias faculdades".
As avaliações feitas pelas universidades envolviam outras redações, prova de inglês, títulos e cartas de recomendação dos professores. Nesse ponto, Adeildo teve a colaboração dos docentes do Ifal Santana Rodolfo Luna (Física), Odair Santos (Língua Portuguesa), Wagner Ribeiro (Matemática) e Alexandre Rios (Biologia).
"Espero que essa conquista sirva de inspiração e traga visibilidade para que os alunos entendam que é possível estudar fora, ou até mesmo atingir a educação superior no nosso próprio país. Falo isso principalmente para os alunos do sertão e dos interiores do país, que sofrem da invisibilidade, principalmente os estudantes de escola pública", ressalta o recém-aprovado em Duke.
Expectativas - O início das aulas na nova instituição de ensino está agendado para agosto deste ano. A viagem do estudante do Ifal até Carolina do Norte - EUA será paga pela EducationUSA e as demais despesas estão inclusas na bolsa integral oferecida pela universidade. "Eu não teria como ir se fosse menos que integral. Digo isso por que é muito caro. Só a anuidade da faculdade passa de 60 mil dólares. Mas com a bolsa eles custeiam até um casaco que eu precise comprar", aponta Adeildo.
Para o estudante, as maiores preocupações relacionadas à ida aos Estados Unidos são o frio e a saudade, mas ele está disposto a enfrentá-las em nome de mais uma superação no campo educacional. "É a minha primeira viagem internacional. Estou apreensivo e ansioso também porque sou filho único e nunca fiquei tanto tempo longe da família. E principalmente do meu sertão; é um lugar de muito aconchego", destaca.