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Jovem perde rim após ser baleado e hospital entrega órgão à família em saco plástico na Bahia

Unidade hospitalar afirma ter entregue órgão aos familiares para realização de biópsia

Por 7Segundos com Ibahia.com 28/07/2022 18h06
Jovem perde rim após ser baleado e hospital entrega órgão à família em saco plástico na Bahia
Órgão embalado em saco plástico para biópsia - Foto: Arquivo pessoal

Um jovem de 21 anos perdeu um dos rins após ser baleado e passar por uma cirurgia no Hospital Geral Menandro de Faria (HGMF), em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador. Após o procedimento, a família do rapaz alega ter recebido da unidade de saúde o órgão da vítima dentro de um saco plástico.

De acordo com o g1 Bahia, a vítima, identificada como Jeferson Oliveira Bispo foi baleado após ser abordado por dois homens armados, quando ele passava uma das ruas do bairro de Itinga, na cidade. O jovem trabalha com entrega de alimento por meio de aplicativos.

Moradores da região socorreram o jovem e o levaram para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Mas, ao chegar ao local e ser avaliada, foi constatado que por causa da gravidade do ferimento, Jeferson foi transferido para o hospital Menandro de Faria.

Segundo os médicos, o projétil que atingiu o jovem não foi encontrado, mas para estancar o sangramento, Jeferson foi submetido a uma cirurgia. Após o procedimento, a namorada do jovem, Andreza Silva, diz ter sido chamada pela equipe médica da unidade e no local foi informada que precisaria pegar “uma peça do namorado”.

De acordo com Andreza, ao chegar na área do hospital em que o material seria retirado, ela afirma ter percebido que estava segurando o rim de Jeferson e se assustou.

Em entrevista à TV Bahia, ela contou que foi entregue junto com uma solicitação de exame de anatomia patológica. No documento, também havia a indicação de clínicas onde o procedimento poderia ser feito.

“Deram um saco na minha mão e diziam que era uma peça. Depois disso, ela [médica] veio dizer que era o rim dele. Até então, a gente não sabia de nada disso e só soube depois da visita que era o rim. Isso foi no sábado [23], e ela falou que até segunda [25], a gente tinha que fazer esse exame”.

Paciente Jeferson Oliveira Bispo. Foto: arquivo pessoal

Ainda de acordo com Andreza, a médica não explicou o que fazer com o rim de Jeferson, apenas para que ela não ficasse assustada com a situação, que era normal as ficarem sem um dos rins.

O caso aconteceu na última sexta-feira (22), e nesta terça (26), a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab), informou que apura a situação. Segundo a Secretaria, houve uma “falha no fluxo de atendimento. O paciente segue internado na unidade, com estado de saúde estável.

De acordo como a Polícia Militar, um adolescente suspeito de envolvimento no crime foi apreendido e levado para Delegacia de Lauro de Freitas.

Hospital onde o paciente está internado. Foto: reprodução

Em nota, o Hospital Geral Menandro de Faria (HGMF) explicou que o órgão foi entregue aos familiares para realização de biópsia. Na unidade médica em que Jeferson está internado, não possui laboratório de anatomia patológica.

Já a Secretaria da Saúde do Estado (Sesab), antes de informar que apura o caso, confirmou a entrega do órgão à família do jovem.

A Secretaria também detalhou em um comunicado, que a família de Jeferson recebeu recomendações de onde levar o rim para faze a biopsia pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e que a unidade procurou a família para tirar dúvidas os protocolos adotados.

No entanto, nesta terça-feira, a pasta reconheceu que houve uma falha no fluxo do atendimento, que já foi corrigida. Além disso, reforçou que o material foi entregue novamente ao hospital que providenciará a biopsia.

O que diz a Cremeb


Ao g1, o presidente do Conselho Regional de Medicina da Bahia (Cremeb), Otávio Marambaia, afirmou que o rim de Jeferson não deveria ter sido entregue à família.

“Há um estranhamento, porque o material cirúrgico, aquilo que foi retirado durante a cirurgia, deveria ter sido acondicionado corretamente e encaminhado para o Laboratório de Anatomia Patológica, não ser entregue aos familiares sem nenhuma orientação”.

O presidente também diz que é recomendável que o material não seja entregue para evitar perda, extravio ou destruição do órgão.

“Eu recomendo sempre às famílias que não levem para casa material cirúrgico, que deva fazer exame, para evitar justamente a perda, o extravio e até a destruição deste material, porque o paciente ficar sem um diagnóstico e, por consequência, ficar sem tratamento”, diz.

O procedimento correto é, segundo Otávio, o envio do material pelo próprio hospital para laboratórios que façam os exames.

“Em qualquer hospital que se preze, o material é encaminhado ao laboratório do próprio hospital, ou a um laboratório conveniado. Acondicionado em vasilhames ou imerso em líquidos próprios, para conservação do material, de modo a evitar que se perca a qualidade do exame, quando for realizado”, afirmou.

“Esse órgão poderia apodrecer, ser destruído. E, caso se tratasse por exemplo de uma doença grave, o que não é o caso, felizmente, perder-se-ia o material que foi retirado do paciente e que, como todo material, tem que ser examinado. Nos casos de doenças malignas como um câncer, o material tem que estar em condições adequadas para que o patologista possa fazer um diagnóstico. Sem isso, sem o acondicionamento adequado, o material se destrói. Prejudica o diagnóstico, dificulta e às vezes impossibilita o diagnóstico”.

Família sem resposta e boletim na polícia


O pai de Jeferson, Luciano Bispo, também esteve no hospital horar após Andreza receber o rim do namorado. Ele questionou a unidade de saúde sobre o procedimento.

“É uma situação muito complicada. A gente fica estarrecido com uma situação dessa. Eu queria uma resposta do hospital, porque nunca vi uma coisa dessas”, lamentou.

Como ele não obteve resposta do hospital, o pai do jovem baleado foi orientado pela própria família a prestar queixa na Delegacia de Portão. Ele relatou que, ao buscar esse atendimento, foi constrangido e maltratado pelos policiais. Por esse motivo, a ocorrência não teria sido registrada.

Em nota, a Polícia Civil afirmou que dispo disponibiliza tanto a Ouvidoria quanto a Corregedoria, para que seja formalizada a denúncia de mau atendimento. Informou ainda que não “coaduna com as atitudes relatadas”.