Conheça a história do músico arapiraquense que já percorreu mais de 80 países a bordo de um cruzeiro
Lecivan Martins é autodidata e começou a tocar com o músico Lourenço
Quis o destino que o nome dele fosse trocado de Lelivan- como está no documento de identidade - para Lecivan José Martins, 39 anos. Quis o destino que o menino que nasceu no Povoado Cangandu, zona rural de Arapiraca e trabalhou na roça, vendeu picolé e também foi garçom, desbravasse o mundo por águas tão longínquas. Nos últimos 7 anos, Lecivan Martins (@lecivanmartins)tem sido um verdadeiro "descobridor dos 7 mares" parafraseando nosso eterno Tim Maia. Em menos de uma década, já conheceu mais de 80 países dos 193 existentes no mundo.
Com muita coragem, persistência e determinação conseguiu alçar o posto de estar entre os mais requisitados pianistas especialistas em jazz das maiores companhias de cruzeiros marítimos de alto luxo do mundo. Para saber mais da história de sucesso desse músico autodidata vamos voltar ao passado.
Em entrevista ao portal 7Segundos, Lecivan Martins contou que a ligação com a música vem desde criança através do rádio de pilha do pai. No interior, há quase 40 anos, o rádio era o único meio de comunicação do trabalhador rural. Desde muito pequeno, entre 5 e 6 anos de idade, ele já ouvia toda a programação radiofônica no radinho de pilha do pai dele.
" As rádios daquela época tinham um repertório mais apurado. Ouvia muita música internacional como blues, jazz, e os clássicos da MPB. Eu nem entendia aquilo e mal sabia que essa experiência musical na infância iria estar diretamente ligada ao meu destino profissional nos cruzeiros em alto mar", revelou.
Lecivan contou que outra experiência com a música na infância eram as festas da padroeira. E foi nestas festas que ele conheceu o músico Lourenço e já se encantava com o trabalho que aquele profissional realizava.
Quando Lecivan tinha 12 anos, o pai dele foi morar no bairro Primavera para que os filhos pudessem continuar os estudos. E, intuitivamente, Lecivan decidiu procurar o Lourenço - aquele músico que ele via tocar nas festas da zona rural.
Mais uma vez, quis o destino que a casa que o pai comprara na cidade para a família morar fosse ao lado de um restaurante. E o adolescente Lecivan, aos 12 anos, foi trabalhar como garçom. Neste local, ficou amigo dos músicos da banda "Mistura Nossa" e para se aproximar dos músicos começou a carregar as caixas de som da banda. Depois ainda trabalhou ajudando os músicos da banda Placa Liminosa até descobrir onde o músico Lourenço morava.
"Eu ficava assistindo aos ensaios do Lourenço e falei que eu morava no Cangandu e o admirava desde quando ele tocava nas festas da padroeira", contou Lecivan.
Primeira experiência no teclado
Foi o cantor Lourenço que deu a primeira oportunidade para Lecivan ter contato com a música. "Eu deixei de carregar as caixas de som da outra banda e fui contratado para cuidar dos instrumentos da banda do Lourenço. Foi assim que eu tive contato com o teclado.
"Ele percebeu a minha dedicação, cuidado e paixão pelos instrumentos e me autorizou a aprender a tocar o teclado quando a banda não estivesse ensaiando. Com apenas três meses eu me tornei o tecladista da banda", revelou.
O músico arapiraquense tocou por 13 anos na banda do Lorenço e a ligação deixou de ser apenas profissional para se tornar familiar: Lecivan casou com Cicinha, irmã de Lourenço que também cantava na banda. O casal vai completar 17 anos de casados e tem duas filhas.
Inquieto profissionalmente, em 2003, Lecivan começou a trabalhar também com gravação de jingles, dvds e arranjos msicais na DKS Produções. Em 2009, foi convidado para tocar na banda de forró Moleca 100 Vergonha e participou de várias apresentações da banda em rede nacional de televisão como o SBT e a Band. Depois voltou para Arapiraca e desenvolveu vários projetos musicais.
Primeiro curzeiro
A história com a musicalidade em cruzeiros começou em 2015 quando um amigo músico de Maceió que ja trabalhava dentro de navios comentou que estavam precisando de um pianista.
"Eu não era pianista e nem falava nenhum idioma. Meu primeiro embarque foi para a República Dominicana. Cheguei lá sem entender uma palavra em inglês ou espanhol. Mas minha vontade de fazer algo diferente era tão grande que encarei o desafio", relembrou o músico arapiraquense.
Lecivan conta que antes de embarcar, ainda no Brasil, a agência enviou as músicas que ele teria que tocar no primeiro dia de embarque. Ele que nunca tinha tocado piano teve pouco tempo para ensaiar.
"O primeiro dia de show no cruzeiro foi terrível. Os músicos todos sincronizados e eu sem entender uma palavra mas consegui tocar as músicas", revelou.
Depois desse primeiro show, na mesma noite, os músicos falaram que teria um segundo show no cassino do navio e ele precisaria tocar jazz, mas ele nunca tinha tocado esse rítmo no teclado.
"Nesse show do cassino eu não consegui tocar e o chefe do entretenimento do navio disse que iria me mandar de volta para casa porque eu não acompanhava os músicos que já estavam em um nível muito alto. O navio tinha uma progrmação cultural e as pessoas pagam até 30 mil dólares para estar num cruzeiro. Não havia tempo para eles ensinarem pra mim", lembrou.
Foi então que o destino, mais uma vez, quis que o garoto simples da roça se tornasse um grande músico. Lecivan contou que o chefe dele, Carlos Brasil, acreditou na determinação e estipulou um prazo de 15 dias para ele estudar todas as músicas dos shows que estavam na programação do cruzeiro. Caso ele não aprendesse, teria que deixar a embarcação.
Prova de fogo
"Essa era a minha única chance de dar seguimento ao meu sonho. E foi aí que aquela sonoridade de jazz e blues que eu ouvia no rádio do meu pai foi relembrando na minha mente. Ensaiava dia e noite sem parar. Mal fazia as refeições e dormia muito pouco. Minha determinação foi tanta que eu terminei a temporada de cinco meses como chefe dos músicos do cruzeiro", disse emocionado.
Depois desse "teste de fogo" Lecivan não parou mais. Se especializou em "pianista solo que toca jazz"e deixou de tocar na banda para fazer duo com cantoras de renome internacionais.
Com esse salto na carreira musical ele trocou a companhia que era de um cruzeiro de três estrelas para outras companhias que são de seis e sete estrelas.
Quanto mais estrelas tem as companhias mais caro são os cruzeiros e mais seletos e ricos são os passageiros. Eu toquei em um cruzeiro que tinha um tripulante que já tocou bateria na banda do Frank Sinatra", revelou.
Em cada parada nos mais de 80 países que ele já conheceu, se deparava com a geografia, o clima, a cultura e os povos diferentes. Lecivan disse que é uma experiência profissional e pessoal muito inigulável e muito gratificante. Para o músico, o que mais chama a atenção em todos esses lugares que eu conheceu é a divisão entre os países de primeiro mundo: mais educação, mais segurança e mais oportunidade de vida para todos. Não há um abismo social e econômico como vemos no Brasil, por exemplo", pontuou.
Lecivan afirmou que trabalhar em cruzeiros tem suas vantagens e desvantagens: o mais difícil é ficar tanto tempo distante da família.
"O cruzeiro mais longíquo que fiz foi de oito meses e nesse período perdi datas importantes como o aniversário de 15 anos da minha filha. A vantagem é a experiência cultural e o fator financeiro. Trabalhando em cruzeiro você viaja, conhece o mundo e não gasta nada. O que eu ganho como pianista eu tenho feito investimentos para garantir um futuro financeiro para minha família", finalizou.
Atualmente Lecivan está em Arapiraca trabalhando em campanhas políticas mas em dezembro já embarca para o Japão em um cruzeiro ultra-luxuoso de sete estrelas.