Vício em jogos de azar gera consequências que vão além do financeiro
Microempresário arapiraquense fala sobre sua luta contra o problema
Na última semana, o jogador Neymar Júnior viralizou ao simular perder mais de R$ 5,6 milhões em um site de apostas online. A reação do atleta brasileiro, num misto de choro e riso, foi transmitida durante uma live.
Tudo não passou de uma estratégia de marketing e, convenhamos, tendo em vista que Neymar é o quarto jogador mais bem pago do mundo, com uma fortuna estimada em R$1 bilhão de acordo com a revista Forbes, o valor perdido não vai fazer nem cócegas no bolso do crack do Paris Saint-Germain.
Entretanto, o dinheiro gasto em jogos de azar faz muita falta para quem não consegue se conter. O vício sempre foi um problema sério para muitas pessoas e, com o avanço da tecnologia e a facilidade no acesso, o assunto se tornou ainda mais grave. Especialistas apontam que o vício em apostas pode levar a graves consequências financeiras, psicológicas e sociais, afetando a vida de milhares de pessoas em todo o mundo.
Um estudo recente realizado pelo Centro de Pesquisa de Apostas e Jogos da Universidade de Las Vegas revelou que cerca de 5% da população adulta dos Estados Unidos é viciada em jogos de azar. Isso significa que mais de 10 milhões de americanos sofrem com o problema.
De acordo com um microempresário arapiraquense de 40 anos, que terá a identidade preservada, a luta contra o vício já dura uma década e o hábito começou por influência familiar.
“Desde a adolescência que eu apostava no Jogo do Bicho. Eu via meu pai e meu avô jogarem toda semana e quando passei a ganhar meu próprio dinheiro, dei continuidade a essa tradição. Em um determinado momento da vida adulta, cheguei a ganhar uma quantia relativamente grande e acabei me iludindo. Me senti motivado a gastar ainda mais dinheiro e com jogos mais arriscados”, disse.
Para ele, tudo era motivo para apostar, desde o dominó com os amigos, máquinas caça níquel, até jogos online. Ele só se deu conta de que estava imerso em um problema grave, quando precisou fechar o estabelecimento comercial da família por falta de dinheiro.
“Certo dia eu cheguei para trabalhar e percebi que a loja estava com poucos produtos e eu não tinha dinheiro nem para repor as mercadorias e nem para pagar fornecedores e funcionários. Precisei fechar as portas e procurar ajuda”, continuou.
Indagado sobre o que ele diria para si próprio antes de começar a jogar, o arapiraquense foi sucinto: “Não confie na sensação de esperança contínua”.
A psicóloga Tauama de Moraes orienta que familiares fiquem atentos. “Se você tem um parente que passa muito tempo no celular por causa desses jogos ou gastando mais dinheiro do que pode, é bom ficar de olho”, disse a especialista.
Tauama explica que o vício em jogos de azar funciona da mesma forma que a dependência química.
“As pessoas podem começar a jogar por diversão, porque outras pessoas do seu convício fazem, por curiosidade, ou mesmo na intenção de ganhar dinheiro. De todo modo, a dependência em jogos é comportamental, ou seja, existe compulsão por agir de determinada forma e não por uma substância, como na dependência de álcool ou outras drogas”, explica a psicóloga.