Educação

Reitores buscam unir forças para fortalecer as universidades e o Nordeste

Em reunião realizada em Maceió, gestores discutiram como unir ações em prol da região, mas também dividiram angústias pela falta de orçamento

Por 7segundos/Assessoria 03/06/2024 15h03
Reitores buscam unir forças para fortalecer as universidades e o Nordeste
Reunião dos reitores do Nordeste, na Ufal, quando se discutiu ações conjuntas em prol da região - Foto: Ascom

Em dois dias, reitoras e reitores das universidades do Nordeste discutiram, em Maceió, a situação insustentável provocada pela redução do orçamento, mas também discutiram propostas de atuação conjunta para potencializar e fortalecer ações em busca do desenvolvimento regional. Temas como ciência, tecnologia, internacionalização, cooperação e boas práticas administrativas foram o mote da reunião da Rede Nordeste da Associação dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), liderada pela reitora Joana Angélica Guimarães da Luz, da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).

Os desafios são muitos, mas a união de ações pode representar o fortalecimento das instituições. Essa é a opinião da reitora Joana Angélica Guimarães: “Cada região tem suas especificidades, mas a gente se organizar, se unir, representa um avanço enorme para a região toda, como redução de custos, por exemplo, porque, muitas vezes, tem um projeto que pode ser compartilhado por mais de uma instituição. Isso também pode melhorar as relações com os órgãos governamentais que nos mantêm”, afirmou.

A coordenadora da Rene disse que tudo isso representa também uma melhoria na estruturação das instituições. “Mesmo do ponto de vista de ampliação de rede, vamos pensar em novas universidades, novos campi. Acho que isso não é o momento agora, mas se fosse, a gente precisaria pensar o que já temos, quais os grandes vazios que a gente ainda tem e que necessitam de investimentos - e não estou falando em colocar instituições nesses locais, mas colocar projetos nessas áreas, identificar quais áreas estão desassistidas, que têm poucos projetos sendo tocados. Isso tudo nos dá um olhar mais amplo para a região e faz com que a gente possa contribuir melhor para o Nordeste”, explicou.

E enfatiza: “Termos participado da reunião da Rene foi uma forma de pensar a região Nordeste, porque quando nos unimos e pensamos regionalmente a gente potencializa muito as ações que a gente faz. Cada um de nós tem várias ações dentro das nossas instituições, nas áreas de pesquisa, de extensão, de parcerias diversas, de internacionalização, enfim, são várias coisas que cada universidade faz. Mas para a gente potencializar e otimizar tudo isso, precisamos pensar regionalmente e pensar quais são nossos grandes desafios. Só para dar um exemplo de como seria na prática, a minha universidade, a UFSB, pode ter um projeto e a Ufal ter um similar, então, por que não juntar esforços para pensar e agir conjuntamente, para atender de maneira ampliada e que isso tenha um impacto muito maior na nossa região.”

A ideia da reitora Joana é que essas discussões se ampliem. “Esse trabalho que fazemos, o pensar junto sobre os grandes desafios que a gente tem na região Nordeste, tudo isso é muito importante, porque quando a gente pensa junto consegue ampliar as ações e pode pensar num planejamento mais a longo prazo”, reforçou.

Momento crítico

O reitor da Universidade Federal Alagoas, Josealdo Tonholo, foi o anfitrião da Rene e destacou a importância do evento e da união das instituições do Nordeste. “Nosso desafio é que as nossas universidades federais sejam as melhores e ofertem melhor resultado para nossa gente nordestina e alagoana. Foi um privilégio muito grande sediar esse evento, estar com os reitores e reitoras compartilhando, trocando informações de diversas áreas”, reconheceu.

Tonholo reforça a riqueza das discussões, a troca de experiências em várias áreas, boas práticas, cooperação nacional e internacional, mas também destaca que esteve na pauta da reunião o momento difícil pelo qual todas as universidades públicas brasileiras estão passando. “Estamos num momento muito crítico, com uma greve forte, um movimento que pede não apenas reajuste salarial, mas as condições necessárias para continuar formando bem os profissionais do nosso país e os nossos pesquisadores. Estamos passando por sérias dificuldades para tentar manter as nossas universidades funcionando, em função da crise orçamentária”, contou.

O reitor da Ufal relata que o momento é de reflexão, de união e de firmeza na defesa das instituições. “Temos de manter um posicionamento político forte, em defesa da universidade pública, gratuita, para garantir que a gente consiga continuar fazendo o que a gente sabe fazer de melhor que é formar bem a nossa gente nordestina, dentro das melhores instituições brasileiras, que estão aqui na região Nordeste, no sistema federal”, pontuou.

Sobre as dificuldades por que passam as universidades, o reitor Gildásio Guedes Fernandes, da Universidade Federal do Piauí, questionou sobre o que fazer diante da crise orçamentária: “A situação das Ifes [Instituições Federais de Ensino Superior] é muito complicada porque não temos orçamento. Então, qual é a saída? Precisamos dessa resposta. Não fosse a dedicação dos nossos professores e nossos técnico-administrativos estaríamos em situação muito pior. Estamos sem saída, enfrentando uma situação difícil! Como melhorar? O quê fazer?”, questionou o gestor.

Parcerias internacionais

Além dos reitores e reitoras, a reunião teve convidados que ampliaram as discussões de interesses comuns para as universidades participantes. O deputado federal Rafael Brito, presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, agradeceu o convite e colocou-se à disposição das instituições. “Contem com nosso apoio, com a Frente, que é segunda em quantidade de membros, com 12 partidos integrantes, plural e com capacidade de diálogo”, afirmou.

Na pauta da reunião, foram abordados diversos temas de interesses comuns para as universidades participantes. O professor Fábio Guedes, diretor presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal), apresentou projetos na área de ciência e tecnologia para o Nordeste brasileiro.

A Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) também foi convidada. O superintendente do órgão, Danilo Cabral apresentou aos reitores e reitoras a proposta de criação da Rede de Instituições Científicas e Tecnológicas (ICTs). Em entrevista ao portal da CBN Recife, Cabral defendeu que a Sudene pretende fomentar a inovação associada à estratégia de territorialização da nova indústria do Brasil: “Queremos ter uma grande plataforma de informações, dialogando com o Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste e buscando mecanismos de financiamento". Queremos estruturar o pensamento científico da região para vencer os desafios para nosso desenvolvimento.”

Parcerias internacionais foram pontos discutidos pelos reitores e reitoras. Em relação às universidades africanas, a temática teve a participação do assessor de Relações Internacionais da UFSB, Gabriel Nascimento, e da professora Artemisa Odila Candé Monteiro, pró-reitora de Relações Internacionais da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Sobre parcerias com os Brics e a Missão Rússia 2024, essa temática teve a participação da reitora Sandra Goulart, presidente da Comissão de Relações Internacionais da Andifes (Cria).

Ainda sobre cooperação Internacional entre as universidades federais nordestinas e a África, o evento contou com a participação, de forma remota, de Luiz Felipe Pereira, cônsul do Brasil na África do Sul.

O pró-reitor de Planejamento da UFSB, Franklin Matos, apresentou dados sobre o declínio do orçamento das universidades, e o coordenador de Administração, Suprimentos e Serviços da Ufal, Edson Lima, falou do trabalho coletivo e compartilhado nas contratações: a experiência do Fórum de Compras e Licitações.

Vários temas foram levados à discussão, como educação a distância e cooperação entre as universidades do Nordeste. Para finalizar os trabalhos da Rene em Maceió, a reitora Ludmilla Oliveira, da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), falou das ações de sua instituição no semiárido brasileiro.