Viral

Fã processa Deolane Bezerra, Carlinhos Maia e Virginia após perder mais de R$ 322 mil

Ação judicial pede reparação de R$ 1,1 milhão

Por UOL 11/09/2024 08h08 - Atualizado em 11/09/2024 09h09
Fã processa Deolane Bezerra, Carlinhos Maia e Virginia após perder mais de R$ 322 mil
Influenciadores digitais Deolane Bezerra, Carlinhos Maia e Virginia Fonseca - Foto: Reprodução/Redes Sociais

A servidora Arianny Rosa Pereira, 31, afirma ter pedido R$ 322.750 em um site de apostas. Ela resolveu processar os influenciadores Deolane Bezerra, Virginia Fonseca e Carlinhos Maia por, segundo ela, terem incentivado as apostas em suas redes sociais.

A ação judicial, que pede reparação de R$ 1,1 milhão, foi aberta no Tribunal de Justiça de Goiás pouco antes de Deolane ser presa por suspeita de envolvimento em lavagem de dinheiro e promoção de jogos ilegais.

"Eles apostavam e mostravam seus ganhos. Isso me iludiu, fazendo com que eu acreditasse que poderia acontecer o mesmo comigo", disse. Ao UOL, Arianny conta sua história.

“Recebi dinheiro e resolvi apostar. Tudo começou em setembro do ano passado, quando eu estava de férias. Em casa, mexendo no Instagram, me deparei com as postagens e stories de influenciadores jogando e ganhando dinheiro”, relembrou.

“Vi primeiro pela página da Virginia Fonseca e, depois, com a Deolane Bezerra e o Carlinhos Maia, que apostavam e mostravam seus ganhos. Isso me iludiu, fazendo com que eu acreditasse que poderia acontecer o mesmo comigo”, pontuou Arianny.

“Eu tinha recebido um dinheiro das minhas férias e decidi apostar. Estava passando por um momento difícil: tinha perdido uma tia querida e estava com depressão. Além disso, tive problemas com a minha mãe e havia saído de casa. Estava frágil e acabei sendo enganada”, disse Arianny Pereira.

Prints da divulgação dos jogos feita por Deolane e outros influenciadores foram acrescentados ao processo. Foto: Arquivo Pessoal

“Entrei no site Esportes da Sorte [também investigado na operação da Polícia Civil de Pernambuco] por causa das influências de pessoas como a Deolane, que é advogada, Virginia e Carlinhos Maia. Como eles são figuras públicas de credibilidade, confiei e fui iludida. Comecei a perder o dinheiro rapidamente, mas segui apostando, tentando recuperar o que já tinha perdido”, contou.

'Dinheiro seria para tratamento'


“Para pagar minhas contas, tirei um dinheiro que meu pai tinha aplicado: era de uma herança que ele havia conseguido depois de muito esforço, e seria usado para seu tratamento, já que ele tem problemas cardíacos. Na tentativa de recuperar o que já tinha perdido, tirei esse dinheiro da aplicação e perdi tudo”, explicou Arianny.

“Tentei entrar em contato com o pessoal da Esportes da Sorte e com a Deolane, mas ninguém me respondeu. Isso me abalou profundamente. Eu estava num momento frágil e nem sabia o que estava fazendo”, relatou.

'Fiquei internada e até tentei suicídio'


“Essa situação destruiu minha vida e a da minha família. Minha relação com meu pai também foi gravemente afetada. Eu perdi todo o dinheiro que tinha e o dele também: perdi tudo [R$ 322 mil]. Fiz empréstimos, financiei um carro para conseguir pagar as contas e evitar perder nossa casa. Depois disso, tive problemas psicológicos, fiquei internada e até tentei suicídio”, contou.

“É muito difícil falar sobre isso. Desde então, não consigo dormir, só com remédios. Faço tratamento, mas essa situação ainda me afeta profundamente e ninguém sabe o que estou passando, só minha família. Enquanto isso, vejo outras pessoas aproveitando e vivendo luxuosamente às nossas custas e isso tem de acabar”, disse a servidora.

'Não sou viciada, foi uma armadilha'


“Hoje vejo que muitas pessoas estão passando por algo semelhante, por isso é necessário que algo seja feito para parar essa divulgação enganosa. Se é ilegal, não deveria acontecer livremente no nosso país. Por isso entrei com essa ação [na Justiça], para tentar reaver o que perdi”, explicou.

“Não sou viciada em jogo: o que aconteceu foi uma ilusão e uma armadilha. As pessoas julgam, acham que você é viciada, mas isso não é verdade. Fui enganada, e agora estou tentando reaver meu dinheiro e meus direitos”, finalizou Arianny.

Ação é pioneira, diz advogado.


Este pode ser o primeiro processo do país que visa a responsabilizar influenciadores por perdas em apostas.
O advogado de Arianny, Cícero Goular, disse não ter conhecimento de outras ações do tipo. A tese desenvolvida pelo escritório busca responsabilizar tanto as plataformas de apostas quanto os influenciadores digitais.

Arianny perdeu R$ 322.750, incluindo uma herança destinada ao tratamento de seu pai.
O advogado explicou que a cliente usou o dinheiro das férias e da herança do pai, que tem problemas cardíacos. Agora, eles pedem a restituição do valor perdido e uma indenização de R$ 800 mil por danos morais.

Segundo Cícero, muitos apostadores são levados a acreditar em lucros fáceis devido à credibilidade que os influenciadores, como Deolane Bezerra, têm entre seus seguidores.
Para ele, esses influenciadores induzem os apostadores a arriscarem quantias significativas, levando a perdas devastadoras.

Cícero questiona a transparência dos ganhos divulgados pelos influenciadores.
Ele acredita que os influenciadores deveriam provar que realmente ganham nas apostas e que os valores mostrados não são manipulados para enganar o público. Segundo o advogado, a falta de transparência alimenta um ciclo de falsas expectativas e prejuízos.

O advogado também aponta falhas no controle social das plataformas de apostas.
E levanta a questão de regulação das plataformas de apostas para impedir que crianças, idosos e pessoas vulneráveis acessem seus serviços. Para ele, a ausência de um sistema eficaz de controle coloca em risco diversas famílias que não têm os meios para se proteger.

Este processo pode abrir precedentes para outras ações contra influenciadores.
Cícero acredita que o caso de Arianny servirá como base para futuras ações de apostadores que sofreram perdas semelhantes.

O UOL buscou as assessorias de Deolane Bezerra, Virginia Fonseca, Carlinhos Maia e da Esportes da Sorte, mas não teve retorno. O espaço segue aberto.

Procure ajuda


Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada como o CVV (Centro de Valorização da Vida) e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.