'Sr. Caveira': o que se sabe sobre crânio achado com carta em rodovia de SP
Perícia tenta identificar a vítima

O crânio humano foi encontrado à beira da Rodovia dos Imigrantes, em Cubatão (SP), ao lado de velas, um prato branco e uma carta assinada por "Sr. Caveira". O nome remete à entidade Exu Caveira, cultuada na umbanda, mas líderes religiosos rechaçam a associação (ver mais abaixo). A Polícia Civil investiga o caso como morte suspeita e aguarda os laudos do Instituto Médico Legal de Santos.
O crânio foi encontrado no dia 6 de maio, ao lado de uma carta datada de 10 de abril, que falava em proteção espiritual e pedia segredo a quem o encontrasse.
"Você acaba de se encontrar com uma força extraordinária. Seus caminhos serão de luz e amor", dizia um dos trechos, que sugeria acender vela preta ou vermelha e deixar bebida no local.
Segundo a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo), o crânio passa por exames antropométricos para estimar sexo, faixa etária, ancestralidade e possíveis causas da morte. O material permanece sob custódia no IML de Santos, e o inquérito corre no 3º Distrito Policial de Cubatão.
Próximos passos
O perito criminal Warley Freitas de Lima explicou ao UOL que a perícia começa pelo exame do local onde o crânio foi encontrado. "É preciso buscar evidências como manchas de sangue ou objetos com impressões digitais, guimbas, garrafas, qualquer material que ajude a identificar a dinâmica do fato ou seus autores."
Craniometria, morfologia craniana e análise odontológica podem revelar sexo, idade, ancestralidade e até hábitos de vida. "Intervenções odontológicas, fraturas, cirurgias... tudo isso pode ser cruzado com fichas de desaparecidos e levar à identificação quase certa da vítima", afirmou.
Sinais de trauma no crânio também são analisados e ajudam a determinar a causa da morte. "Fraturas, cortes ou perfurações indicam se houve agressão com arma de fogo, objeto cortante ou instrumento contundente", explicou Warley.
Caso os exames iniciais não apontem a identidade, a reconstrução facial pode ser empregada como recurso complementar. "Ela ilustra o possível rosto da vítima e é útil para veiculação em bancos de desaparecidos", disse. Se houver material genético viável, o DNA será comparado com o de familiares ou inserido em um banco nacional.
Ritual ilegítimo
A notícia do encontro do crânio humano em uma suposta cena "ritualística" provocou discussões nas redes sociais. Algumas pessoas atribuíram a cena a religiões de matriz africana, com comentários preconceituosos.
A Fucesp (Federação de Umbanda e Candomblé do Estado de São Paulo) afirmou que a cena não reflete práticas legítimas das religiões de matriz africana.
"Jamais vi ou ouvi algo parecido em 50 anos de atuação. Isso não é prática da umbanda e nem do candomblé", disse Carlos Roberto Salun, presidente da Fucesp.
Segundo a Fucesp, práticas com sangue ou ossos humanos nunca fizeram parte da umbanda ou do candomblé. "Esses elementos não integram nenhuma obrigação legítima. Nunca fizeram parte da doutrina e são, quando aparecem, desvios cometidos por pessoas que agem por conta própria", afirmou Salun.
Salun criticou a ideia de se deixar um bilhete como parte de uma oferenda. "O espírito Exu não vai ler carta. Só quem tem imaginação fértil pensa nisso", afirmou.
Ele teme que a cena reforce estigmas. “Se isso cai no conhecimento de quem já tem preconceito, só serve para rebaixar a imagem das nossas religiões”, contou o presidente da Fucesp.
A federação informou que o episódio será discutido em cursos internos para sacerdotes e dirigentes religiosos. "Vamos abordar o caso com quem vai abrir novos templos e com quem já tem. É um alerta", disse.
Sem identidade
O caso também chamou a atenção do projeto Humanidade 21, coordenado pelo professor Everson Aparecido Contelli, da Universidade Brasil. A iniciativa mapeia mortos desconhecidos no país e busca estabelecer um regime jurídico de proteção a esses casos.
Segundo Contelli, o Brasil registra oficialmente 694.680 mortes sem identificação, mas a auditoria conduzida pelo projeto indica que 80% desses registros são inconsistentes. Ainda assim, cerca de 138.900 cadáveres permanecem sem nome, o que ele classifica como "tragédia humanitária".
O projeto usa técnicas modernas como reconhecimento facial, cruzamento de DNA, análise odontológica e arqueológica. "Cada morto não identificado representa uma família que busca por dignidade e respostas. É preciso reconhecer o direito humanitário dos mortos e desaparecidos do país."
Contelli defende a criação de um marco legal que impeça, por exemplo, o descarte de sepulturas sem identificação. "O crânio em Cubatão pode ter sido retirado de um cemitério ou indicar uma morte não registrada. Só a perícia poderá confirmar."
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