David Junior celebra quebra de estereótipo com personagem em 'Sob Pressão - Plantão Covid'
Ator se inspirou em amigo do Cabo Verde para viver neurocirurgião na série
Escalado para viver um neurocirurgião em Sob Pressão - Plantão Covid, David Junior celebrou a possibilidade de quebrar um estereótipo muito comum a negros no audiovisual: "Estar nesse lugar onde a gente salva vida, e não tira vidas, é um divisor de águas na teledramaturgia".
Natural da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, o artista enfatizou que tem poucas referências negras na Medicina e contou que se inspirou em um amigo cabo-verdiano que se tornou chefe em um hospital de referência no Maranhão.
"Não conheço muitos médicos e menos ainda negros. Ele tem a minha idade e me deu um panorama novo do ponto de vista de um médico negro: o que ele passa, como os pacientes o confundem dentro do hospital... Tem gente não o aceita como médico".
"Ele trabalha em um hospital particular. Alguns pacientes não aceitam ser atendidos por ele, que precisou aprender a se impor".
Tais questões não serão abordadas no especial focado no combate à pandemia, mas David celebra pequenas vitórias pessoais que são gigantes do ponto de vista da representatividade. Por exemplo? Manter seu cabelo no projeto.
"Lembro que quando eu era moleque, o meu teto de ascensão social era exatamente a Medicina, porque era uma faculdade caríssima em que a pessoa tinha que estudar em tempo integral e as pessoas tinham que trabalhar para estudar. Então, era completamente inviável".
"Além de estar hoje fazendo um personagem que tem essa representatividade nesse lugar acadêmico que eu achava inatingível, eu ainda tive um outro presente, que é muito simbólico pra nós, negros, que foi manter o meu cabelo".
"No meio dramatúrgico, geralmente as pessoas costumam moldar a gente da maneira como a gente deve ser para eles: ‘ah, se você tiver o cabelo assim, você pode passar uma outra imagem, uma outra mensagem’. Então, quando eu cheguei pra conversar com a equipe de caracterização e eles me permitiram manter o meu cabelo, o que significa muito pra nós, negros, foi um presente tão grande, porque por muitos anos na minha vida eu tive que raspar o meu cabelo pra ser meio que uma pessoa invisível ou uma pessoa que não passasse no radar negativo".
"Estar fora desse estereótipo, dramaturgicamente, isso, pra 56% da população, significa muito. Para mim é um simbolismo muito grande estar nessa temporada especial, falando sobre uma situação especial que estamos vivendo, não só política, como também de saúde".