Futebol

CEO do Cruzeiro vai buscar recuperação judicial e 'joga pesado' pela mudança para clube-empresa

Vittorio Medioli escreveu um longo texto explicando como pretende colocar o Cruzeiro nos trilhos depois das desastrosas gestões que a Raposa teve, levando o clube ao caos interno

Por Terra 30/12/2019 15h03
CEO do Cruzeiro vai buscar recuperação judicial e 'joga pesado' pela mudança para clube-empresa
Cruzeiro perde e cai para a segunda divisão - Foto: Gazeta Press

O CEO do Cruzeiro, o empresário Vittorio Medioli, continua suas explanações sobre como tentará, ao lado do conselho gestor do clube, tentar erguer a Raposa, que vive sua maior crise na história, com uma dívida de mais de R$ 700 milhões, falta de credibilidade comercial e esportiva, que culminou no rebaixamento da equipe para a segunda divisão.

Medioli escreveu uma coluna no jornal "O Tempo", que faz parte das suas empresas, detalhando os planos iniciais do conselho gestor da Raposa e como vão colocar em prática um plano de ação que tire o clube do "limbo" financeiro e institucional.

O dirigente voltou a bater na tecla de mudar a natureza comercial do Cruzeiro, deixando de ser clube recreativo para clube-empresa, criando assim, uma Sociedade Anônima, o que poderá fazer da equipe celeste em uma empresa focada no mercado, com menos interferências pessoais e foco em resultados dentro de fora de campo.

Outro ponto importante da fala de Medioli é a tentativa que o Cruzeiro fará em breve de buscar uma recuperação judicial, o que pode paralisar as dívidas, dando tempo para que o clube organize como irá pagar aos credores e consiga ainda seguir o dia a dia da instituição. Veja abaixo a coluna de Medioli.

Ad astra

Quanto mais sofrido o caminho, mais elevado será o prêmio

Em 22 anos desta coluna, raríssimas vezes abordei o assunto futebol. Até porque já tem batalhões de gente falando disso.

Hoje tratarei do Cruzeiro Esporte Clube, uma marca gloriosa que completa, no dia 2 de janeiro, 99 anos de vida.

Nasceu em 1921 pela vontade de imigrantes italianos que aqui começaram uma nova vida, numa época em que o país de origem parecia distante como a Lua. Deram o nome de Palestra Itália. Adotaram a camisa tricolor, fiel à bandeira italiana.

O Palestra foi forçado a mudar de nome por imposição do governo, quando, durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil se alinhou com países do lado oposto ao da Itália. O Palestra acabou assumindo, assim, o nome Cruzeiro, ao mesmo tempo em que nasceu Palmeiras, em São Paulo. O nome Itália foi varrido.

Em Belo Horizonte, no Barro Preto, mudou-se a camisa para a cor de fundo da constelação das cinco estrelas do Cruzeiro do Sul, estampada na bandeira do Brasil. O azul "royal" era exatamente a cor adotada pela seleção de futebol italiana, naquele momento duas vezes campeã do mundo, a "Azzurra".

Quando cheguei a Belo Horizonte, meu destino já estava traçado, abracei o Cruzeiro em 1976, sem odiar o América e o Atlético, nutrindo, aliás, uma grande admiração pelos ídolos alvinegros, como Reinaldo, Cerezo, Paulo Isidoro, que travavam jogos espetaculares contra Dirceu Lopes, Joãozinho, etc.

Conheci, na casa daquele que seria depois meu sogro, o então mítico Elias Kalil e o filho dele, bem mais novo do que eu, Alexandre. E no Cruzeiro, Felício Brandi era o farol, o benfeitor, o presidente admirado.

Naturalmente acabei me distanciando da Itália (desde 2017 não vou lá). Amigos e parentes minguados, falecendo, outros poucos nascendo. Fiquei mais mineiro do que muitos aqui nascidos. Já acumulo dois terços de vida, ou 44 anos, transcorridos aqui.

Por destino e sorte (que muito me acompanhou), estruturei o vôlei do Cruzeiro e o levei ao vértice mundial, seis vezes campeão brasileiro, seis vezes sul-americano, três vezes Mundial. Nem eu consigo entender direito o que aconteceu. Importante é que aconteceu.

Por uma série de fatores que defino: seriedade, estudo dedicado, construção de um ambiente comprometido com a verdade, o respeito, a competência, a superação, a disciplina, a vontade, os exemplos. Nunca abdicamos no Sada Cruzeiro da possibilidade de melhorar, nem pensamos em ser menores que os maiores. A derrota, ensinei aos meus colaboradores, faz parte da disputa, mas suar a camisa é uma obrigação, e sair com a certeza de ter dado o melhor, usando da arte, da beleza, da garra. O projeto do vôlei sempre teve os jovens como alvos, a disciplina, o crescimento humano, o enriquecimento do caráter para se sair bem dentro e fora de quadra.