Alagoas

Maceioenses resistem ao tempo e preservam o amor pelo 'Besouro da Volkswagen'

Por Mariane Rodrigues *estagiária com Mariane Rodrigues *estagiária 18/06/2016 09h09
Maceioenses resistem ao tempo e preservam o amor pelo 'Besouro da Volkswagen'
Encontro no Estacionamento do Jaraguá, Maceió. - Foto: Fusca Clube Alagoas

Mulher, fisioterapeuta, especialista, professora universitária e amante de fusca. Mariana Ferro Cordeiro Pires, 29, herdou do pai a paixão pelo carro mais popular do mundo, que depois de oito décadas de sua criação, ainda encanta corações e conquista adeptos fiéis.

O fusca foi criado no final da década de 1930 e projetado por Ferdinand Porsche, quando surgiu na Alemanha a ideia de se criar um carro econômico, de fácil produção e eficiente para os alemães que sofriam uma dura recessão econômica, em consequência da Primeira Guerra Mundial.

O carro passou por uma série de modificações ao longo do tempo, desde mudanças mecânicas até reformas na estrutura externa. No entanto, as alterações nunca foram tão significativas a ponto de perder a identidade dos modelos iniciais.

No Brasil, ele surgiu nos primeiros anos da década de 1950, trazido pela VolksWagen dois anos após a empresa automobilística introduzir a Kombi no país.

O besouro, apelido carinhoso dado pelos fãs, já foi carro de correio, ambulância, táxi, carro de polícia, até protagonistas de músicas e filmes nacionais e internacionais. Atualmente, o automóvel tem um dia somente seu: 22 de junho, quando se comemora o dia mundial do fusca.

Hoje, os modelos são colecionados por pessoas apaixonadas, como Mariana, que possui um carro mais moderno, mas há seis anos tem um Itamar original, de 1994 – o nome Itamar é originado do Governo Itamar Franco, por ter sido este, o presidente a relançar o fusca após a produção ter sido encerrada em 1986. Ela o utiliza para passear e ir aos encontros realizados todas as quintas-feiras no estacionamento do Jaraguá.

“Eu tenho esse fusca por amor. Amo fusca desde criança, eu tinha uma coleção de livro de histórias, e nela, uma era sobre um fusca abandonado no ferro- velho. Eu sentia muita pena dele. Tenho o livro até hoje”. A ‘fusqueira’ menciona o livro O Carro Falante, que conta a história de um fusca azul que não conseguia fazer nenhum amigo, até parar em um ferro-velho, onde sua vida muda completamente.  

Na bagagem de Mariana, canos reservas, correias, peças e materiais mecânicos para quando ocorrer algum imprevisto. Ela diz serem “coisas de fusqueira”, e que já está acostumada a fazer revisões, e ter esse contato mais bruto em consertos de carro. Tudo isso, porque, desde pequena, teve a influência do pai. 

Cortesia/ Arquivo pessoal“Meu pai diz que eu sou o filho homem que ele não teve. E tudo isso veio dele. Sempre tivemos carros velhos. Quando eu era criança, ele ficava consertando, mexendo, limpando o fusca e eu ficava do lado, ajudando e fui pegando gosto por carros, motores e velocidade”. 

É na velocidade, que a professora universitária mostra o verdadeiro prazer em estar perto de um fusca. Ela participa de arrancadas realizadas em Caruaru, em Pernambuco, a cada dois meses, onde já ganhou o terceiro lugar.

Sebastião Grangeiro Filho também é um alagoano fã de carteirinha do Volkswagen. Assim como Mariana, ele faz parte do Fusca Clube Alagoas, de onde é vice-presidente. Seu carro oficial é um Vectra, mas a sua garagem é como coração de mãe: sempre cabe mais um. E no caso de Sebastião, a garagem precisa caber mais dois, pois na sua coleção há dois fuscas Itamar de 1994 e 1995. O primeiro é tunado, com rodas esportivas, aro 18, cor bege. O segundo é um Standard branco, original e ganhador de dois prêmios, considerado o melhor fusca da década de 1990. Os concursos foram realizados em Alagoas e Pernambuco.O fusca é um veículo que faz parte da vida de Sebastião. Ele aprendeu a dirigir em 1985 em um fusca, e este, também foi o seu primeiro carro. Para conservar esses veículos tão antigos, é preciso dedicação e tempo do proprietário. “Para o amante do fusca não há que se falar em trabalho. Sempre digo que são cuidados que temos com eles”, brinca o fusqueiro. 

Os cuidados vão desde a manutenção do carro como também precauções para que o veículo não seja roubado. “A manutenção é igual a um carro do dia-a-dia, mas temo mais cuidado com a troca de óleo, porque ele fica parado por mais tempo. Além disso, temos que ligá-los de cinco em cinco dias para que a bateria não descarregue e tomo muita precaução quando saio de casa para não ter meus carros antigos roubados. Para isso, escolho bem onde estacioná-lo, e de preferência que fique ao alcance dos meus olhos”, explica.

Vender este veículo tão querido não é algo que passa pela mente dos apaixonados por ele. E Sebastião Grangeiro confirma isso. “Difícil vender. Digo sempre que é um casamento antigo, onde o divórcio não passa pela minha cabeça”.

Viagens

Os carros antigos estão na imaginação das pessoas, que os relacionam às viagens em companhia, aventuras e liberdade para desbravar os lugares. Há quem pense que viajar em um fusca é algo desconfortante, mas os amantes aqui em Alagoas não se incomodam muito com isso.

Sebastião diz que a maior distância percorrida por ele com o fusca foi a de 500 km, quando foi para a cidade de Patos, localizada na Paraíba. Mas outras também constam em sua bagagem, juntamente com seus companheiros do Fusca Clube Alagoas, como, Caruaru e Campina Grande.  Outra está sendo planejada pelo clube para os estados do Piauí ou Maranhão, para 2017.

Quando as viagens são muito longas e a família vai junto, Sebastião leva seu Vectra com o fusca atrelado ao cambão, assim os parentes podem viajar com mais conforto.O Clube

O Clube Fusca Alagoas foi fundado em 2005 por Cristiano Henrique de Melo, primeiro presidente. O intuito era o de reunir semanalmente os amantes de fuscas de Alagoas para manter vivo este carro tão amado pelos brasileiros. Além disso, o objetivo também era o de evitar que os automóveis ficassem somente nas garagens, em desuso.

O primeiro encontro foi realizado em agosto de 2005 com um número total de 10 fuscas. Atualmente, o número é de 45 cadastrados e os encontros acontecem todas as quintas-feiras no estacionamento do Jaraguá, em Maceió.

“A gente se encontra, troca informações, visando cada vez mais perpetuar o besouro da Volkswagen entre os apaixonados”, diz Sebastião. 

O clube, por sua vez, possui 95 pessoas, sendo 35 contribuintes com mensalidades e 60 que participam casualmente. As mensalidades são investidas em eventos e viagens promovidos pelo clube. Com esse dinheiro, o grupo também paga um mecânico que o acompanha na estrada, caso algum veículo tenha problema. 

Dia Mundial do Fusca

Próxima quarta-feira, 22, comemora-se o dia mundial do fusca. E o clube tem organizado a sua homenagem ao besouro que será realizada no Shopping Pátio Maceió, localizado no Benedito Bentes.

Serão colocados oito fuscas exposto na parte interna do shopping. E no dia 22, os demais carros do clube terão o encontro na parte externa do estabelecimento.