Encontro discute no Rio soluções para escolas de samba enfrentarem crise
Representantes de agremiações e associações carnavalescas de todo o país discutem, de hoje (23) até sábado (25), no Rio de Janeiro, como o setor pode se adaptar e buscar soluções para o atual momento de crise no país. É a terceira edição da Feira de Negócios do Carnaval e Encontro Nacional do Samba (Carnavália-Sambacom).
Segundo o organizador do Carnavália-Sambacon, Nei Barbosa, por causa da crise, a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) propôs modificações no regulamento para o carnaval do próximo ano, reduzindo o número de carros alegóricos, que serão no mínimo cinco e no máximo, seis, e o tempo máximo de desfile de cada escola para 75 minutos.
Barbosa disse que a diminuição do tempo dos desfiles deve levar as escolas a reduzir o número de componentes. “Com o mesmo número de componentes, não dá para fazer o tempo exigido de desfile.”
A gestão do carnaval das escolas de samba, ligas e associações e a importância dos departamentos culturais dessas agremiações também estão na pauta do Sambacon. Outra mesa discutirá o carnaval de rua, envolvendo a participação de blocos tradicionais como o Cacique de Ramos, Clube de Samba e Bola Preta, além de blocos novos, como os que integram a agremiação Sebastiana. Eles analisarão a situação atual e o crescimento dos blocos de rua.
O encontro aproveitará também as comemorações do centenário do samba, este ano, para avaliar a evolução dos sambas-enredo, desde os tempos antigos, em que a criação do samba era uma coisa mais romântica, feita por um único compositor, até os dias atuais, em que predomina o chamado samba de escritório, porque é composto, muitas vezes, por até 10 dez pessoas.
Nei Barbosa destacou que, nestes 100 anos, outro elemento que mudou foi a sinopse do samba-enredo, que ajuda os músicos a compor. “Antigamente, era um papelzinho só que o compositor recebia, ia para sua casa, para o botequim, para fazer o samba-enredo com um amigo. Agora, não. Virou uma coisa profissional, de muitas páginas”. O Sambacon vai analisar se isso é bom ou ruim e se a criatividade é tolhida por essas mudanças. “Os que fazem samba-enredo vão estar no Sambacon, discutindo essa matéria”, afirmou Barbosa.
Outro assunto em discussão é o carnaval fora da Marquês de Sapucaí, ou seja, os desfiles que não estão no foco da mídia. É o caso, no Rio de Janeiro, da Estrada Intendente Magalhães, onde desfilam as escolas de samba dos grupos B, C, D e E, e dos carnavais de outros estados. “Este ano, estamos recebendo um número recorde de ligas, associações, blocos de outros estados. Até do Amapá está vindo, do Rio Grande do Sul, do Maranhão.” Cada um colocará as dificuldades que enfrenta, para debate geral, informou Nei Barbosa.
No painel acadêmico, estudantes universitários são convidados a participar das discussões sobre o tema do carnaval. À noite, “porque ninguém é de ferro”, disse Nei Barbosa, haverá shows com sambistas de detaque. Nesta quinta-feira, por exemplo, Dudu Nobre e Alcione comandam o espetáculo, do qual participarão também o grupo Galocantô e os cantores e compositores Noca da Portela, Ana Costa e Elimar Santos.
Carnavália
A crise afetou a feira de negócios, que permaneceu com 60 estandes em 6 mil metros quadrados, no Centro de Convenções SulAmérica. Apesar disso, as empresas continuaram acreditando no projeto e o evento cresceu em termos de propostas apresentadas. Uma delas é a inclusão, pela primeira vez, da parte de saúde e beleza relacionada ao carnaval. A feira deve gerar negócios em torno de R$ 15 milhões para a cadeia produtiva do carnaval, contra os R$ 10 milhões registrados no ano passado, e atrair mais de 10 mil visitantes.
O evento terá também uma mostra inédita de filmes com a temática do carnaval, o Cine Carnavália, com curadoria de Teresa Guilhon, mestre em bens culturais e projetos sociais pela Fundação Getulio Vargas (FGV). Serão exibidos quatro filmes de longa-metragem, além de curtas que mostram desfiles de escolas de samba, blocos, grandes sociedades, corsos e bailes. “São filmes antigos, que estavam no esquecimento, filmes sobre figuras centrais do samba e filmes novos”, disse Nei Barbosa.
Varal Solidário
Outra novidade da Carnavália-Sambacon este ano é o Varal Solidário, ação social promovida pelo Bloco Cultural 7 de Paus. Os visitantes da Carnavália poderão levar agasalhos para doação. As roupas serão penduradas em um varal e entregues, posteriormente, a instituições.
Haverá ainda, na feira Carnavália, um espaço onde profissionais poderão divulgar seus produtos e serviços, com o objetivo de ampliar sua rede de contatos e negócios.