Garoto argentino de 9 anos foi o único aluno de sua escola por seis meses
A incomum história de Uriel, de 9 anos, repercutiu na imprensa argentina nesta última semana. O menino da zona rural de Bragado, cidade da província de Buenos Aires, a 220 quilômetros da capital argentina, foi o único aluno da Escola N° 26 de Paraje La Criolla por seis meses. Em anuncio realizado ontem (30/6), Alejandro Finocchiaro, diretor geral de Cultura e Educação da província, informou sobre o fechamento da escola. Uriel Biondini e a professora Alejandra Ramos serão transferidos para instituções próximas.
Em entrevista ao jornal argentino Clarín, o menino contou que a escola já teve mais alunos. “Éramos quatro. Depois disso chegaram outros, somando seis no fim do último ano.” No entanto, na matrícula de 2016, Uriel tinha como colega apenas Bárbara, que depois acabou se mudando para a escola onde o irmão mais novo estuda.
A falta de crianças na Escuela N° 26 se dava por alguns motivos. Estima-se que na região de Paraje La Criolla habitem apenas 30 pessoas, além disso, em meados de 2015, a área foi alvo de inundações, o que motivou algumas das famílias a deixar o local. A escola em si também é um problema. Por causa das chuvas, o prédio perdeu o teto, mesmo assim aluno e professora eram contrários ao fechamento da escola.
“A primeira coisa que eu pensei quando fiquei só é que seria muito chato estar na escola, em seguida, eu fiquei com medo pela escola, porque eu tenho amor por ela e não quero ela feche. Meu irmão se formou aqui e eu quero fazer o mesmo", explicou o garoto.
O sentimento de Uriel é compartilhado pela professora Alejandra. Ela mora na cidade de Bragado e viajava 70 quilômetros todos os dias para dar aulas ao menino, a quem dava carona no caminho da escola. Além da professora, trabalhavam no prédio mais três pessoas: a diretora, e dois funcionários que faziam a manutenção do local.
Os apelos de Uriel e Alejandro, porém, não foram atendidos pelas autoridades: "Vamos transferir a professora, pois a província de Buenos Aires necessita de professores, e nenhum educador gosta de uma escola sem alunos. Uriel, assim como outros estudantes, precisa desfrutar do ambiente escolar, onde pode se socializar com outras crianças", disse Finocchiaro.
O funcionário do governo informou que Uriel será transferido para a Escola N° 20, em ambiente urbano, apenas 3 quilômetros mais distante que a Escola N° 26, e com caminho asfaltado em vez da estrada de terra. Segundo o comunicado, o transporte será custeado pelo Conselho Escolar da província. As atividades diárias de Uriel e Alejandra começavam às 13h.
“A primeira coisa que fazíamos era cantar o hino, mas sem erguer a bandeira, já que o mastro se rompeu durante um dos temporais”, contou a professora ao Clarín. Depois disso, ela ensinava ao menino as disciplinas de Espanhol, Mateática, Ciência Sociais e Naturais.
As 17h, Uriel voltava para casa, normalmente com uma tarefa para o dia seguinte. Apesar das dificuldades e da ausência de alunos, Elsa, mãe de Uriel, defendeu ao jornal argentino que a realidade da região requer cuidados específicos.
“Há pessoas que ficam aqui por um tempo e se vão, mas há esse movimento de pessoas que chegam. Havia uma escola que ficou por dois anos com um único aluno, em seguida chegaram mais pessoas e se somaram 13.”
“Se a escola fecha as portas, dificilmente ela vão reabrir, com isso, não só Uriel, mas todos as outras crianças saem prejudicadas. Se os pais se mudarem para essa região, não haverá escolas por perto”, explica Elsa, apoiada por Alejandra, que antes do fechamento prometia esforços para trazer mais alunos à Escola N26.
Uriel é classificado pela professora com um bom aluno. Ela defendia que o menino pudesse realizar o desejo de se formar na mesma escola que o irmão. Ao frustrar os planos de Uriel, Alejandro Finocchiaro explicou que a decisão tinha como objetivo protege-lo: “Não é saudável que um menino estude sozinho, é um caso extremo, pois também não se pode ter uma escola com três alunos, é preciso haver integração.”