Médicos criam falso diagnóstico e põem em risco saúde de pacientes para desviar recursos do SUS
Empresa sediada em Maceió teria recebido R$ 16 mi do SUS para custear consultas e medicamentos
A Polícia Federal em Alagoas cumpriu na manhã desta terça-feira (13) quatro mandados de prisão temporária, um de condução coercitiva e oito de busca e apreensão, expedidos pela justiça de Alagoas, contra médicos e empresas acusados de desviar dinheiro do Sistema Único de Saúde (SUS). Em Alagoas, a operação, denominada "Operação Hoder", realizou buscas em três empresas situadas nas cidades de Maceió, Penedo e Arapiraca. Duas pessoas foram presas. Na ação, também realizada em mais três estados, um médico foi preso. Os detalhes de operação foram repassados em entrevista coletiva no final da manhã.
De acordo com o delegado da Polícia Federal, Bernardes Gonçalves, no decorrer das investigações, foi constada a ação de uma organização criminosa responsável por lesar a União, através do SUS, prestando informações incompatíveis sobre atendimentos médicos e fornecimento de medicamentos para tratamento de glaucoma, resultando no recebimento, por empresas ligadas aos investigados, de recursos financeiros em montante superior ao que deveria ter sido repassado às mesmas.
"O inquérito foi instaurado em 2016 depois de um inquérito policial que informava sobre fraudes que envolvia o grupo estruturado nessas clínicas na área de oftalmologia. O delegado solicitou ao Denasus auditorias realizadas nessas clínicas citadas no inquérito. O delegado recebeu relatórios de auditoria de 2008 a 2011 do Denasus, que se constatou as fraudes. Mesmo com as auditorias realizadas em 2011 e com o pedido de ressarcimento de R$ 9 milhões feitos pelo Denaus à clínica, resultantes de prejuízos ao SUS, eles continuaram com aparentemente com a mesma prática criminosa", explicou o delegado Bernardes Gonçalves.
Ainda de acordo com o delegado, os médicos prescreviam colírios mais caros para os pacientes e realizavam mutirões nos municípios investigados com bastante frequência. Além disso, em casos em que poderia ser preescrito apenas um colírio de primeira geração, que custa em torno de R$ 18,00, era prescrito um de terceira geração, que custa R$ 205,00.
Nas investigações também foram identificados que os médicos preescreviam três colírios, recebiam o valor do SUS, mas só repassavam dois. O terceiro colírio era prometido para ser entregue em uma data posterior, mas nunca chegou às mãos dos pacientes. Além dessas ações, a empresa investigada também diagnosticava o glaucoma em pacientes que não tinham a doença.
Uma das vítimas da fraude tem 32 anos e foi 'diagnosticada' durante um mutirão no município de Barra de Santo Antônio. Posteriormente ele descobriu que não era glaucomatoso. Ainde neste município, as investigações apontam que, em um dos mutirões, 190 pessoas foram atendidas, e destas, 75 foram acusadas com a doença. Segundo o delegado federal, Bernardes Gonçalves, o percentual é considerado alto para as estatísticas.
"Isso expressa mais ou menos 40% do total, que é completamente destoante do percentual de glaucomatosos no mundo. Estima-se que no mundo há 65 milhões de pessoas com glaucoma", finaliza o delegado.
Durante as investigações constatou-se que uma empresa sediada no bairro do Benedito Bentes, em Maceió, recebeu em torno de R$ 16 milhões do SUS para custear consultas e fornecimento de colírios.
Dentre os investigados há médicos e funcionários administrativos. Um oftamologista, que não teve sua identidade divulgada foi detido. Ainda não há determinação sobre o fechamento das empresas conveniadas ao SUS.