Saúde

Contato com pombos pode causar doenças infecciosas, alertam especialistas

Aves encontradas com facilidade nos centros urbanos trazem riscos para a saúde humana

Por Giulianna Albuquerque 31/12/2017 07h07
Contato com pombos pode causar doenças infecciosas, alertam especialistas
Pombos trazem risco à saúde humana - Foto: mkirarslan/iStock

Aves dóceis, bonitas e comuns em centros urbanos, os pombos não são animais tão inofensivos quanto parecem. Embora o contato direto com esses animais não ofereça nenhum risco, as fezes dessas aves podem provocar doenças infecciosas graves, principalmente por vias respiratórias, digestivas e atingir até o sistema nervoso.

Não existe uma relação direta entre o clima e a proliferação das doenças, mas o verão é um aliado para o contágio dessas mazelas, uma vez que ocorre a partir de partículas encontradas nas fezes dos pombos - que secas - são espalhadas pelo vento ou através do manejo do excremento dessas aves. Agentes patogênicos como fungos ou bactérias e até mesmo parasitas conhecidos como piolhos de pombo ou pixilingas podem acometer à população de patologias indesejáveis.

A dica dos especialistas para evitar o contágio é umedecer os locais onde os animais defecam para evitar que as partículas se espalhem. “Uma solução de água sanitária misturada a água ajuda a matar essas partículas e dificulta a inalação. O uso de máscaras também pode ajudar, mas não as máscaras cirúrgicas e sim aquelas mais rígidas. Também é importante lavar as mãos depois de manusear as fezes em caso de higienização de locais como praças públicas e escolas, onde esses animais têm presença comum”, explica Carlos Eduardo da Silva, assessor de vetores, zoonoses e fatores ambientais da Secretaria Estadual de Saúde.

Os pombos escolhem como abrigos locais altos, como torres de igrejas, telhados e instalações de ar condicionado. Em vias públicas podem ser facilmente encontrados em locais onde há restos de alimentos e acúmulo de lixo. Parte da população que alimenta as aves desconhece os riscos que trazem à saúde pública. Por isso especialistas recomendam que os humanos não alimentem os pombos. “Não há necessidade. Há oferta de alimentos suficiente para esses animais nas cidades. Ao serem alimentados, os pombos voltam para o mesmo lugar de comida fácil, onde eles também defecam, aumentando o risco do contágio”, relata Eduardo.

Quanto as doenças de pele, os riscos são mínimos, causando apenas irritação ou reação alérgica momentânea. Os ‘piolhos’ não costumam parasitar humanos. Já a criptococose, uma infecção decorrente de fungo, é contraída por vias respiratórias e pode provocar infecção, coriza, febre e falta de ar. A histoplasmose tem sintomas semelhantes, mas o agente causador, embora também seja um fungo, é diferente do da criptococose.

Já a Salmonelose pode ser contraída através dos alimentos ou da água contaminada. A bactéria se desenvolve e pode chegar aos alimentos também através das partículas encontradas nas fezes e espalhadas pelos ventos. “Se a água, por exemplo, possuir resíduos de fezes contaminadas o contato com as mãos ao manipular alimentos, ou lavar pratos e a sua ingestão podem provocar o contágio”, esclarece Eduardo.

Números

Como as doenças provenientes das fezes dos pombos não estão entre as doenças de notificação compulsória, àquelas acompanhadas pelo Ministério da Saúde e classificadas como obrigatório seu acompanhamento, a Secretaria de Saúde não tem dados de quantas pessoas foram acometidas por enfermidades relacionadas aos pombos, mas alerta que doenças infecciosas devem ser tratadas no Hospital Escola Doutor Hélvio Auto, especializado em doenças infectocontagiosas.

O técnico Eduardo lembra ainda que pessoas com a imunidade baixa, como portadores do HIV podem ter mais facilidade de contrair as doenças dos pombos, mas que na maior parte dos casos a evolução de combate à enfermidade é positiva. “No caso dos portadores de HIV, por exemplo, são paciente mais debilitados e o contágio pode ser decorrente daquilo que chamamos de infecções oportunistas em razão da baixa imunidade desse público”, ressalta.

É também de Eduardo a informação de que não há uma política de controle dessas aves, mas alguns segmentos precisam ter planos de controles de pragas e os pombos estão entre as pragas a serem combatidas. “O aeroporto, o porto e alguns indústrias de alimentos contratam empresas que utilizam falcões treinados para fazer o manejo da população dos pombos. Os falcões são treinados para afugentar os pombos. A própria Santa Casa de Misericórdia contratou uma empresa para afastar os pombos da unidade de saúde. Essas aves são muito comuns na região do Centro”, explica Eduardo.

No que diz respeito à biologia, os pombos podem viver aproximadamente de três anos a cinco anos nos centros urbanos. Por outro lado, em condições de vida silvestre as aves podem alcançar 30 anos. No ciclo reprodutivo, as aves podem ter de quatro a seis ninhadas por ano. 

Segundo o biólogo Fernando Rocha, coordenador de Entomologia do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), cada pombo produz cerca de 2,5kg de fezes por ano. Nessas fezes estão presentes fungos, bactérias e ácaros que podem causar divesas doenças aos humanos, como citou, acima, o assessor de vetores, zoonoses e fatores ambientais da Sesau.

É importante lembrar que os pombos não devem ser mortos, mas controlados. Fermando Rocha esclarece que o problema da superpopulação de pombos está atrelado a população que alimenta as aves com restos de comidas. "Existem quatro principais fatores que propiciam o aparecimento das aves, conhecidos como os 4 A's. São eles: Acesso, Abrigo, Alimento e Água. O principal deles é a alimentação", diz.

Por semana, o CCZ recebe em média três ou quatro solicitações para retirada de pombos de residências e empresariais de Maceió. O biólogo explica que não é competência do CCZ fazer a retirada das aves. 

“Trabalhamos a questão educacional, orientando as pessoas a evitar alimentar os pombos. O controle das aves não é competência do CCZ. Apenas orientamos a população sobre o manejo dos pombos e de como retirá-los de locais que tem propensão de construírem ninhos", afirma Fernando.

O biólogo também lembra que estão disponíveis no mercado produtos específicos para espantar os pombos. Gel repelente, fios de nylon, arames específicos, telas e espícula são alguns deles.

Campanhas de conscientização

Questionado acerca de campanhas contra a alimentação de pombos e manejo das aves, Fernando Rocha explica que não existe nenhuma campanha efetiva, no município, apenas trabalhos de divulgação. O biólogo informou, ainda, que existe um projeto, em andamento, para fazer uma campanha massiva no próximo ano.