PF prende presidente da Fecomércio-RJ e investiga desvio de recursos do Sesc e do Senac
Segundo o MPF, Orlando Diniz é suspeito de usar o esquema de lavagem de dinheiro do ex-governador Sérgio Cabral. Outras três pessoas foram presas temporariamente.
Agentes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal do Rio de Janeiro prenderam, na manhã desta sexta-feira (23), o presidente da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro (Fecomércio-RJ), Orlando Diniz, em um desdobramento da Operação Lava Jato.
Diniz deixou o prédio onde mora no Leblon, na Zona Sul, sob vaias e gritos da vizinhança, que o chamou de "ladrão". Ele foi preso preventivamente (sem prazo para liberação) por suspeita de lavagem de dinheiro, corrupção e pertencimento a organização criminosa. Veja aqui a íntegra da decisão.
Em nota, a defesa afirma que as acusações são "infundadas" e que Diniz irá "provar sua inocência" (leia a íntegra da nota mais abaixo).
Entre os desvios investigados está a contratação de funcionários fantasmas pelo Sesc e pelo Senac, como uma chef de cozinha do Palácio Guanabara e uma governanta do ex-governador do Rio, Sérgio Cabral.
A operação foi batizada de Jabuti, uma referência aos contratados que não iam trabalhar. O número exato de funcionários fantasmas ainda não é conhecido, e ao menos um deles esteve ligado formalmente à folha de pagamentos do Sesc/Senac até 2017.
Diniz presidia o Sesc-Rio até dezembro do ano passado, quando foi afastado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) por suspeita de irregularidades no comando da entidade. De acordo com os investigadores, porém, ele usava sua influência para atrapalhar a gestão atual e tentou ocultar documentos e sabotar reuniões do Sesc/Senac a fim de prejudicar as investigações.
Outros três funcionários da Fecomércio-RJ foram presos temporariamente (por cinco dias, prorrogáveis) na operação:
Plínio José Freitas Travassos Martins - preso
Marcelo José Salles de Almeida - preso
Marcelo Fernando Novaes Moreira - preso
Segundo a investigação, as contratações fantasmas foram feitas a pedido de Cabral e auxiliaram o ex-governador a aumentar a propina que era regularmente distribuída aos seus operadores mais próximos e aos seus parentes, num esquema que movimentou mais de R$ 7,5 milhões.
O G1 entrou em contato com a assessoria do Sesc, que informou que não vai se pronunciar a respeito do caso.
Outros investigados
Além da contratação fantasma, o MPF investiga outras operações feitas sob o comando de Diniz.
Segundo os investigadores, o presidente da Fecomercio-RJ gastou R$ 180 milhões em quatro anos com escritórios de advocacia, em contratos que fugiam das normas técnicas e de transparência dos órgãos sob sua responsabilidade. A suspeita é que ele tenha usado dinheiro público para se defender e se manter no poder dessas entidades.
Entre os escritórios contratados estão o da ex-primeira dama e mulher de Sérgio Cabral, Adriana Ancelmo, e o Teixeira, Martins & Advogados, de Roberto Teixeira e Cristiano Zanin, que defende o ex-presidente Lula na Lava Jato e recebeu R$ 68 milhões dos R$ 180 milhões.
Em nota, Zanin afirma que seu escritório presta serviços jurídicos à Fecomércio-RJ desde 2011 "em caso de alta complexidade, como pode ser verificado nos sites do TJ-RJ, do STJ, do STF e do MPE-RJ". O advogado diz, ainda, que "o escritório tomará todas as providências cabíveis em relação à divulgação e manipulação desses dados pelo Ministério Público Federal”.
Ao escritório de Adriana Ancelmo, segundo o MPF, a Fecomércio-RJ pagou R$ 20 milhões. O dinheiro, nesse caso, saiu de recursos federais obtidos pela Fecomércio-RJ a partir de convênio com o Sesc e o Senac. Segundo o MPF, a contratação que justificou esses pagamentos é "absolutamente suspeita".
O G1 entrou em contato com o escritório de advocacia de Adriana Ancelmo, mas o funcionário que atendeu a ligação informou que não poderia comentar o assunto e pediu que retornássemos a ligação mais tarde.
Ainda de acordo com a investigação, Diniz utilizou Álvaro Novis e Ary Filho, operadores financeiros de Cabral, para lavar dinheiro.
Os envolvidos são acusados dos crimes de lavagem de dinheiro, corrupção e pertencimento a organização criminosa. Além dos mandados de prisão, os agentes fazem buscas na sede do sistema Fecomércio-RJ, no Flamengo, Zona Sul do Rio.
A Justiça determinou o bloqueio e a indisponibilidade de bens de Orlando Diniz, do pai dele, Enio Ormonde Diniz, e de 12 empresas relacionadas ao presidente da Fecomércio.
Leia a nota da defesa de Orlando Diniz:
"As acusações que recaem sobre Orlando Diniz são infundadas. Ele vai esclarecer todos os pontos levantados pela PF e pelo MPF e o devido processo legal deve provar sua inocência.
O comando nacional da Confederação Nacional do Comércio, dirigida desde 1980 pela mesma pessoa, tem interferido indevidamente na entidade do Rio de Janeiro com a finalidade de se manter no poder.
As inverdades levantadas contra o grupo legitimamente eleito para dirigir a Fecomércio e o Sesc têm resultado na destruição de projetos importantes para a sociedade fluminense (como o investimento no esporte), no enfraquecimento do comércio no Estado e na desprofissionalização da Fecomércio, hoje controlada por interventores indicados politicamente.
Orlando Diniz sempre colaborou com as investigações e esteve à disposição para esclarecimentos junto às autoridades."