MPT facilita acordo entre usina e trabalhadores para pagamento de salários atrasados
Usina Utinga Leão também apresentará calendário de pagamento das verbas rescisórias no dia 27 de março
Dezenas de empregados da Usina Utinga Leão participaram da a audiência promovida pelo Ministério Público do Trabalho em Alagoas (MPT/AL) para definir o pagamento de salários atrasados dos meses de janeiro e fevereiro, bem como das verbas rescisórias dos contratos de trabalho. Coube ao procurador Cássio Araújo conduzir a reunião que buscou garantir os direitos dos trabalhadores nessa segunda-feira (26).
Além da demora em receber os salários, os empregados demitidos reclamam da retenção da Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS), que os impede de conseguirem novo emprego. “Muitos pais de família estão com dívidas, sem poder ajudar seus filhos, passando por necessidades. Tem gente que pediu empréstimo a familiares para quitar os débitos. É muita falta de consideração com quem deu o sangue pela empresa”, lamenta o motorista Paulo César dos Santos.
Demitido no último dia 9, ele afirma que a usina constrangeu os trabalhadores ao pagar apenas os seguranças, justamente para impedir o acesso dos empregados ao interior da empresa, quando tentaram organizar uma manifestação de protesto na semana passada.
Durante a audiência, o MPT/AL conseguiu mediar um acordo que garante a quitação do saldo da remuneração de janeiro, tal como o pagamento de parte das verbas rescisórias, no valor equivalente a um salário líquido, para os trabalhadores demitidos no ano passado, até o próximo dia 9 de março. O prazo para Usina Utinga Leão pagar o salário de fevereiro será o dia 27 de março.
“Quando você trabalha, cria-se a expectativa de melhorar a condição de vida. Posso fazer isso, adquirir aquilo, presentear alguém. É muito constrangedor, desumano trabalhar e não receber. Vamos propor que, nesta próxima safra, a usina comprove possuir recursos financeiros suficientes para honrar seus compromissos. Caso contrário, adotaremos as medidas cabíveis para assegurar os direitos dos trabalhadores”, disse o procurador do Trabalho.
Verbas rescisórias
Em relação às carteiras de trabalho retidas, a empresa garantiu que elas estariam disponíveis para os funcionários já na terça-feira. A empresa informará os valores devidos aos trabalhadores demitidos e liberará os documentos necessários para que eles possam dar entrada no seguro-desemprego a partir do dia 5 de março.
No que se refere ao pagamento das verbas rescisórias, a usina se comprometeu a apresentar um calendário para quitá-las na próxima audiência com o MPT/AL, marcada para o dia 27 de março. O Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) dos trabalhadores também deverá ter data definida para quitação nessa mesma data.
A usina e o Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Açúcar do Estado de Alagoas (STIAAL) garantiram dois ônibus para os ex-funcionários acompanharem a audiência no prédio-sede do MPT/AL, em Maceió.
Baixa no mercado
Cláudia Cristina de Vasconcelos, diretora de Gestão de Pessoas da Usina Utinga-Leão, disse que, ao longo da segunda-feira passada, a empresa quitaria 50% dos salários de janeiro de todos os empregados.
“A crise financeira assola o setor sucroalcooleiro de Alagoas em razão da baixa no mercado, que reduziu os preços dos produtos comercializados. Faltam para as usinas políticas tributárias de incentivo ao setor, preponderante no estado e que gera tantos empregos. Também sofremos com alterações climáticas, que interromperam a moagem. Trata-se de um conjunto de fatores”, justificou a gestora.
O vice-presidente do STIAAL, Cristophanes Jacques Uchôa, defendeu o respeito aos direitos dos trabalhadores e a manutenção de empregos no setor:“Sabemos das dificuldades enfrentadas pela usina, mas viemos aqui defender os trabalhadores, que estão com salários e verbas trabalhistas não quitados. Esperamos uma resposta boa da empresa para atender as necessidades dos funcionários ao longo da safra e também da entressafra”.